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Padaria em SP mostra novos ataques de homofobia; mulher diz que foi vítima

Allan Brito

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/11/2020 21h54

Filmada durante um ataque homofóbico na última sexta-feira (20) em uma padaria em São Paulo, Lidiane Biezok, 45, aparece ofendendo funcionários do local em novas imagens divulgadas hoje.

Nas primeiras imagens do caso, a mulher aparece agredindo um cliente na padaria Dona Deôla da Pompeia. Mas o início da confusão não havia sido totalmente esclarecido. Novas gravações, divulgadas pela empresa, mostraram que houve uma briga com funcionários, inclusive com outras ofensas homofóbicas. Apesar disso, Lidiane disse que foi vítima no caso e que tem sido ameaçada na internet.

Lidiane, que afirmou ser advogada, também disse que possui transtorno bipolar e reclamou da padaria onde tudo aconteceu, ameaçando processar o estabelecimento.

Em entrevista ao UOL, Lidiane disse que a confusão começou quando dois clientes foram filmá-la, "apenas por provocação". Porém, novos vídeos divulgados pela padaria mostram que, antes disso, ela também havia tratado mal os funcionários. A coordenadora de marketing da Dona Deôla, Carolina Mirandez, disse que Lidiane era uma cliente que costumava criar problemas no local.

"É muito comum que ela venha aqui. Ela fica e consome, mas reclama da comida. Sempre foi grosseira, mas nunca teve um problema tão grande. Ela estava exaltada, reclamando da comida e destratando funcionários. Ela disse que, se a comida não estivesse boa, ia arremessar. O supervisor tentou acalmar. O atendente nosso percebeu que ela estava se exaltando contra o supervisor, que é um senhor, e pediu para ela falar baixo. Ela virou e falou 'sai, seu viado' e uma série de palavrões. Então os clientes se levantaram e começaram a filmar", contou Carolina.

No vídeo, é possível ver Lidiane agredindo um cliente e atirando objetos. Mas ela diz que, antes disso, Lidiane afirmou que também foi agredida.

"Eu estava pegando minha bolsa para ir embora e não queria fazer nada. Mas eles me agrediram. Antes de eu agredir, eles me agrediram, quando eu ainda estava sentada. Pegaram meu cabelo e disseram que era pixaim", alega a advogada. Mas Carolina nega que isso tenha acontecido: "Ela foi abordada por dois clientes, mas não teve agressão. Foi abordada, eles questionaram, disseram que ela não podia falar daquele jeito. Mas agressão não teve".

Lidiane afirmou que não suportou as supostas provocações porque tem um problema de saúde.

"Eu tenho bipolaridade. Chega uma hora que eu não aguento. Foi uma crise de bipolaridade. E ainda estou tendo crise. Minha mão não para de tremer. Eu sou inválida. Quando tem provocação, acabo perdendo a cabeça. Mas pedi desculpas. Falei coisas que não queria, que não sinto isso", afirmou Lidiane.

Ela ainda disse ser a maior vítima da história, reclamou do "politicamente correto" e negou que seja preconceituosa.

"Quem foi vitima na história foi eu. Eu estava comendo quieta e não sei de onde vieram aquelas pessoas. Acho que vieram dos protestos (do Dia da Consciência Negra). Acho bonito respeitar a diversidade. Mas a diversidade me respeitou? Agora é fácil dizer que sou racista e homofóbica, mas tenho diversos amigos homossexuais. Só que no calor ali, eu falei coisas que não queria. Eu tinha que me defender. Eu tenho 45 kg. Como vou me defender? A rua ali é totalmente escura. E se eu saísse? Estava preocupada", afirmou ela.

Lidiane disse que não foi à delegacia, mas a Secretaria de Segurança de São Paulo confirmou que ela foi detida e está cumprindo prisão domiciliar. Depois, segundo Carolina, a mãe de Lidiane foi buscá-la e conseguiu sua liberação porque teria mostrado um atestado de transtorno mental. Agora, a advogada diz que tem sido ameaçada virtualmente.

"Toda minha família está sendo ameaçada. Todo mundo está apagando o Facebook, porque estava recebendo ameaça de morte. Gente me chamando de vadia, de desgraçada, dizendo 'a gente vai acabar com você'. Sou uma pessoa de bem, sou uma pessoa boa. Mas sou alvo de uma campanha horrorosa", lamentou.

Processo contra a padaria

Lidiane mostrou irritação com a Padaria Dona Deôla. Ela disse que contratou um advogado para defendê-la e promete processar o estabelecimento.

"Vou processar a Dona Deôla, porque ninguém ficou do meu lado. E lá não tinha segurança. Se você passar lá, você vai ver o breu. E não me deixavam sair de lá enquanto não chegasse a polícia. Era cárcere privado", relatou a advogada.

A coordenadora de marketing da padaria negou que alguém tenha obrigado a cliente a ficar. E afirmou que ela saiu do local sem pagar.

"Ela quis sair sem pagar. O supervisor falou que não podia. Ela deu um escândalo. Então o supervisor disse que podia liberar a catraca. Ela saiu e quis atravessar a rua, mas estava alterada. Um funcionário falou para não atravessar e foi com ela. Ela atravessou e ficou parada. O funcionário ficou junto com ela, para ela não ficar transitando e se acidentar. Quando a polícia chegou, ela quis voltar e atravessou de volta. Tudo isso é mostrado nas câmeras de segurança", contou Carolina.

Sobre a suposta falta de segurança no local, a padaria afirmou que tem um "orientador de público", mas ele não tem autorização de tomar medidas físicas nesses casos.

Em entrevista ao "Fantástico", funcionários da padaria contaram que Lidiane costumava fazer comentários racistas e homofóbicos. Uma funcionária até chorou. "Dói para todo mundo. Choro de ódio. Tenho muita raiva", disse. Outro funcionário afirmou: "Estamos em 2021 quase. Para que essa discriminação?".

Logo depois do ocorrido, a padaria já tinha lamentado as ofensas racistas, homofóbicas e transfóbicas. Disse repudiar esses atos. Também afirmou que se colocou à disposição das vítimas para o desenrolar do caso.

Vítima pede luta antirracista

Uma das pessoas agredidas no caso, que se chama Kelton, foi ao Instagram falar do momento e falou do trauma causado pelo episódio.

"Estamos processando várias coisas ainda, quando conseguirmos organizar todo esse trauma, vamos responder a todos. É muito difícil ficar revisitando essas coisas, mas tenho provas e tenho como rebater elas. Mas não queria que isso acontecesse com nenhum de nós. Peço e exijo que se estamos falando de um lugar mais saudável, temos que falar de um lugar antirracista, não um lugar menos racista", afirmou Kelton.

OAB desconhece cadastro

Apesar de se apresentar como "advogada internacional", Lidiane não tem qualquer registro válido na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e seu nome não consta no Cadastro Nacional de Advogados, mantido pelo Conselho Federal da OAB.

Procurada pelo UOL, a OAB-SP confirmou em nota que Lidiane "não consta no sistema de cadastro da entidade, tampouco do Cadastro Nacional de Advogados (CNA), mantido pelo Conselho Federal da OAB, que exerce a função de fiel repositório do cadastro de todos os advogados do Brasil".