Conteúdo publicado há 7 meses

'Pega ele', disse PM após ver motorista de Porsche e mãe deixando o local

Vídeos das câmeras corporais de policiais militares, obtidos pelo UOL, mostram como o motorista do Porsche deixou o local do acidente sem fazer o bafômetro após a colisão que deixou um motorista de aplicativo morto e um homem ferido na capital paulista em 31 de março.

O que aconteceu

Fernando Sastre de Andrade Filho teria tentado deixar local sem falar com os PMs. Testemunhas narraram que foi preciso "segurar" o motorista, já que a namorada dele, que passava pela via em outro carro, teria tentado levá-lo para o hospital.

Enquanto liberavam algumas testemunhas, um PM diz a uma colega que Fernando está indo embora com a mãe dele, Daniela Cristina de Medeiros Andrade. Outra agente responde: "Pega ele ali. Oxe, oxe, oxe. Aonde ele vai?". Os agentes andam rápido e alcançam a dupla.

— PM: Ou, ou, ou. O senhor era o condutor do carro?

— Daniela: A gente está indo para o hospital, moço.

Uma PM diz que Fernando precisa ser qualificado e questiona sobre a CNH dele. Daniela responde que "já passou tudo para ele [outro PM]. Está tudo com ele, já. Só levar ele para o [Hospital] São Luiz." O agente informa que não liberou a dupla e a mulher diz estar "apavorada" e reforça que levaria o filho para fazer um raio-x.

Agente pede o número do RG de Fernando e a mãe dele volta a falar que já passou todos os dados do rapaz. Ela repete que ele precisa fazer uma tomografia. Enquanto eles conversam com o PM, uma testemunha se aproxima e fala que mora perto do local do acidente e viu que o condutor passou "voado", em alta velocidade. A PM questiona se um colega tem o etilômetro — para fazer o teste do bafômetro —, mas ele responde que não.

Daniela segue falando com outro agente que precisa levar o filho para fazer uma tomografia da cabeça. Um tio de Fernando se aproxima do local. A agente pergunta os dados dele e, em alguns momentos, é a mãe de Fernando que responde no lugar do filho. A mãe ainda declara que o nariz do filho está sangrando.

— Fernando: Eu estava saindo com o Marcos [amigo que estava no Porsche com Fernando], a gente estava indo para casa. E aí aconteceu o acidente horrível. Foi isso.

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— Daniela: Pelo amor de Deus. Deixa eu levar ele para fazer tomografia, moça. Se ele tiver batido a cabeça, cada minuto conta.

— Tio de Fernando: Você bateu [inaudível]?

— Fernando: Não, não. O Marcos se machucou. O Marcos se machucou.

— PM: Você só lembra disso? Não lembra mais nada que aconteceu?

— Fernando: Não, a gente estava saindo da festa. A gente ia ir para a minha casa jogar sinuca. Aí, do nada, aconteceu um acidente horrível. Aconteceu isso. Eu não lembro mais de nada. O Marcos está bem?

Após Fernando assinar o registro da ocorrência pela PM, Daniela questiona novamente se pode sair do local. A agente questiona para qual hospital ele seria levado e ela responde "São Luiz".

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Após a liberação da PM, a mãe de Fernando pega ele pelo braço. "Calma", diz ele. "Vamos, Fernando", grita Daniela em resposta. "Vamos lá, lindão, socorrer você", completa o tio dele.

Apesar dos diversos pedidos da mãe de Fernando, ele não foi levado a um hospital após deixar o local da colisão. Os policiais foram até a unidade de saúde para colher o depoimento do motorista e fazer o teste do bafômetro, mas foram informados na recepção de que ele não deu entrada em qualquer hospital da rede São Luiz. A polícia também foi até a casa da família de Fernando e tentou contato com mãe e filho por telefone, mas sem sucesso.

Testemunhas dizem que Fernando e acompanhante queriam deixar o local

Testemunhas relataram que carro passou em alta velocidade antes de bater. "Pegaram velocidade, deu uma acelerada de uns três segundos e já pegou o outro carro", relatou uma das pessoas que passavam pelo local e pararam para prestar socorro.

Queria deixar bem claro que eles realmente não queriam socorrer a vítima, só queriam ir embora. Eu acho isso desumano.
Testemunha que presenciou acidente com Porsche

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O Porsche passou por mim em alta velocidade, muito alta a velocidade. E lá na frente a gente ouviu o barulho da colisão, não sei como foi, porque estava muito escuro. Mas estacionei o carro, abri a porta do motorista acidentado, liguei para a emergência
Testemunha que presenciou o acidente

Outra testemunha relatou aos PMs que Fernando Sastre de Andrade Filho teria passado por ele "a 200 quilômetros por hora". Nesta semana, o UOL mostrou que o laudo encaminhado à Polícia Civil indica que o Porsche conduzido por Fernando estava em uma velocidade acima de 150 km/h.

Sastre dirigia uma Porsche 911 Carrera ano 2023, avaliada em R$ 1,3 milhão, segundo a tabela Fipe. Ele já admitiu que dirigia acima da velocidade permitida, mas negou que estivesse alcoolizado — o que é contestado por testemunhas.

Relembre o caso

Fernando Sastre bateu o Porsche contra veículo do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana. O acidente ocorreu no dia 31 de março, na avenida Salim Farah Maluf.

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Carro do empresário estava a mais de 150 km/h. A informação é do Ministério Público. Testemunhas já tinham contado à polícia que Fernando fez uma ultrapassagem em alta velocidade — o limite de velocidade na via é de 50 km/h — perdeu o controle e colidiu com traseira do Sandero.

Fernando Sastre foi liberado da delegacia após prestar depoimento. Ele se apresentou à polícia 38 horas após ter deixado o local do acidente. "Ele falou só o básico para não se culpar", afirmou o delegado Nelson Vinicius Alves, acrescentando que Fernando estava frio e tranquilo durante o depoimento. Na semana passada, o delegado foi afastado da investigação e da delegacia responsável pelo caso após cobrar as imagens das câmeras corporais dos PMs.

Sindicância mostrou que houve "falha de procedimento" dos PMs que abordaram o motorista do Porsche. Agentes erraram ao não testar se Fernando estava alcoolizado, disse a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) em nota. Um procedimento foi aberto para responsabilizar os policiais

Imagens de câmeras corporais de PMs que atenderam a ocorrência foram entregues após 22 dias. O conteúdo já havia sido solicitado durante as investigações.

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