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Eleições no México podem ser palco de surpresas e volta do PRI, diz especialista

Fabiana Nanô

Do UOL, em São Paulo

01/07/2012 06h00

De 1929 a 2000, o México foi governado por sucessivos presidentes do PRI (Partido Revolucionário Institucional). Esta situação mudou na virada do milênio com a eleição de Vicente Fox, do PAN (Partido Ação Nacional), e se seguiu com a vitória de Felipe Calderón, do mesmo partido, em 2006. Neste domingo (1º), o país se prepara para mais uma eleição presidencial, a ser realizada em turno único.

Enrique Peña Nieto (PRI) e Andrés Manuel López Obrador, do PRD (Partido da Revolução Democrática), lideram as pesquisas eleitorais, com cerca de 38% e 25% das intenções de voto, respectivamente. Apesar dessa diferença, pode haver surpresas nos resultados de domingo. A opinião é de Denilde Oliveira Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

“É possível que haja algum tipo de surpresa, porque há muitas inconsistências, várias acusações”, diz, em alusão a denúncias, comuns no México, de compra de votos e fraudes eleitorais. Em 2006, López Obrador perdeu para Calderón por uma diferença de 0,56% dos votos e, na ocasião, declarou que houve fraude. Hoje, a principal bandeira do candidato é o combate à corrupção.

“O López Obrador tem uma ênfase forte no fator da corrupção. Ele também tem um discurso mais social, propõe ações sociais vinculadas ao combate ao narcotráfico”, afirma Holzhacker.

Seu rival também tem no combate ao narcotráfico um dos pontos de destaque de seu discurso. “Peña Nieto tem uma posição mais dura, defende uma ação mais assertiva do Estado para romper com o narcotráfico.”

De fato, enquanto López Obrador propõe uma limpeza nas instituições governamentais, Peña Nieto defende a manutenção do Exército mexicano nas ruas. O político do PRI busca ainda se destacar pelo fato de, aos 45 anos, ser jovem em um partido ligado a setores tradicionais. “Peña Nieto representa as forças conservadoras locais, mas, como é jovem, tenta trazer um discurso novo, de renovação do PRI”, continua a professora.

Tal discurso é importante, dado que o partido ficou no poder por 71 anos – o que expõe duas das muitas facetas deste processo eleitoral. Por um lado, o fato de o candidato do partido liderar as pesquisas mostra que “o PRI ainda tem força nos Estados e uma capacidade de mobilização eleitoral muito grande, apesar das perdas dos últimos anos, com a ascensão do PAN”, conta.

Segundo a especialista, há uma visão de que, em uma eventual vitória do PRI, “possa haver um retrocesso nos avanços democráticos, por ser um partido com posições bastante autoritárias”.

No entanto, Holzhacker afasta essa possibilidade ao lembrar que a presença de movimentos dentro da sociedade civil mexicana aumentaria a pressão sobre um eventual governo do PRI. Desta forma, se vencer as eleições, “o PRI vai governar em outro México, com grupos de mobilização. A pressão da sociedade civil será maior do que nos 70 anos em que ficou no poder”.

Em terceiro lugar nas sondagens de intenção de voto, com cerca de 20% da preferência do eleitorado, está a candidata do PAN, Josefina Vázquez Mota. Neste pleito, ser a representante do governo não é uma vantagem.

“Ela vai mal nas pesquisas por causa do péssimo desempenho do governo junto à opinião pública, sobretudo em relação à violência, ao combate ao narcotráfico. E não consegue se contrapor aos outros candidatos, que evidenciam os problemas nessa área”, avalia.