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Rebeldes sírios acusam regime de levar armas químicas às fronteiras

Fogo é visto ao redor de edifícios após a explosão de uma bomba em Damasco, na Síria - Agência Anadolu/EFE
Fogo é visto ao redor de edifícios após a explosão de uma bomba em Damasco, na Síria Imagem: Agência Anadolu/EFE

Do UOL, em São Paulo

24/07/2012 09h21

Os rebeldes do Exército Livre Sírio (ELS) acusaram nesta terça-feira (24) o regime do presidente Bashar al-Assad de transferir as armas químicas em seu poder a aeroportos localizados nas fronteiras da Síria, que faz divisa com o Líbano, a Jordânia, o Iraque, a Turquia e a Israel.

"Sabemos perfeitamente os lugares onde estão as armas e instalações", disse a oposição em um comunicado. "Revelamos que Assad deslocou uma parte destas armas e aparatos para misturar substâncias químicas em alguns aeroportos fronteiriços."

Ainda segundo informações do ELS, o regime sírio começou há meses a transferir os armazéns de armas de destruição em massa, "no marco de sua dupla tática de criar uma crise regional e desenhar uma defesa estratégica atemorizando os países ao redor".

A nota ressalta que os rebeldes não querem apenas a derrocada de Assad, mas também a queda de todos seus símbolos e pilares, "porque o problema principal é a estrutura do regime sírio, que é inamovível".

Na última segunda-feira (24), o porta-voz das Relações Exteriores da Síria, Jihad Maqdisi, negou que o regime tenha a intenção de empregar armas químicas no interior do país, mas condicionou seu uso a uma eventual agressão de forças estrangeiras.

"Nenhum arma química será utilizada na Síria, independentemente do desenvolvimento dos eventos", apontou Maqdisi, que descartou o uso deste tipo de armamento contra os grupos opositores armados no país. "Essas armas estão vigiadas e armazenadas, e não serão empregadas a menos que a Síria se exponha a uma agressão externa", acrescentou o porta-voz.

A existência de armas químicas também foi confirmada por um funcionário de alto escalão do ministério israelense da Defesa, Amos Gilad.  Segundo ele, o governo do presidente síriocontrola "totalmente" o arsenal de armas químicas de propriedade deste país.

"O exército sírio dispõe de grandes quantidades de armas químicas. O regime sírio luta por sua sobrevivência. Mas o conjunto das armas químicas e de destruição em massa está sob seu controle total", declarou Gilad à rádio pública israelense.

"De acordo com nossas informações, o (movimento xiita libanês) Hezbollah não dispõe de armas químicas provenientes da Síria, e não ocorreram transferências de armas químicas para organizações terroristas como a Al-Qaeda", acrescentou o funcionário.

As informações provocaram preocupações na comunidade internacional. O presidente norte-americano, Barack Obama, avisou ao governo sírio que é "um erro trágico" usar armas químicas, e a ação pode levar à punição internacional.

O presidente do Conselho Nacional Sírio (CNS), Abdel Basset Sayda, principal representante da oposição, disse estar convencido da possibilidade de Assad usar armas químicas. "Um regime que massacra crianças e violenta mulheres poderia perfeitamente usar armas químicas."

Possível acordo

Pela primeira vez desde o início da crise na Síria, há 16 meses, a oposição ao governo do presidente sírio, Bashar Al Assad, disse que aceita um nome indicado por ele para comandar a transição política no país. A disposição em admitir uma indicação de Assad para uma eventual transição foi divulgada pelo Conselho Nacional da Síria (CNS), principal representante oposicionista.

"Concordamos com a partida de Assad e a transferência dos poderes deste para uma das personalidades do regime para dirigir um período de transição, como o que se passou no Iêmen", diz o porta-voz do CNS, Georges Sabra.

No entanto, ainda não houve oficialmente uma indicação de Assad de que aceitará a transição política no país. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou o início do processo de transição política na Síria, na última semana.

A crise na Síria começou em março de 2011, quando integrantes da oposição passaram a enfrentar forças do governo nas ruas das principais cidades do país. A oposição acusa Assad de autoritarismo e falta de liberdade política e de expressão, além de violações de direitos humanos.

Assad, por sua vez, alega que reage a ataques terroristas, incitados por forças externas. Observadores internacionais informam que a repressão por parte do governo é intensa e atinge crianças e mulheres. Mais de 16 mil pessoas morreram desde a eclosão da crise.

Os ataques continuam

Mas, enquanto oposição e governo não entram em acordo, a crise na Síria continua sangrente. Apenas ontem (23), segundo a oposição, oito detentos foram mortos durante a repressão de uma rebelião na prisão central de Alepo, no Norte da Síria. O motim ocorria enquanto a cidade, a segunda mais importante do país, sofria o quinto dia consecutivo de bombardeios por parte de forças do governo. Os oposicionistas disseram que a polícia atirou e lançou gás lacrimogêneo nos detentos.

As forças de ordem "abriram fogo e lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra os presos na prisão central de Aleppo para reprimir um protesto pacífico organizado pelos prisioneiros para denunciar os abusos dos quais são vítimas (...), deixando oito mártires e provocando um incêndio dentro da prisão", indicou o CNS.

A oposição havia advertido sobre os "massacres" nesta prisão, assim como na de Homs (centro), onde o governo reprimiu um motim há três dias. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma organização não governamental com sede na Grã-Bretanha, havia apontado nesta ocasião duas mortes.

* Com informação das agências de notícias.