Topo

Após "Dia de Fúria" com 173 mortos, Egito tem tiroteio em mesquita

Do UOL, em São Paulo

17/08/2013 11h05Atualizada em 17/08/2013 16h57

O Cairo passa por um dia de tiroteios e de prisões neste sábado (17), após os confrontos violentos em todo o Egito entre simpatizantes da Irmandade Muçulmana e forças de segurança matarem 173 pessoas na última sexta-feira (16). A data ficou conhecida como "Dia de Fúria" e foi convocada pela Irmandade, que apoia o presidente deposto Mohammed Mursi, para denunciar a letal repressão a seus partidários na quarta.

Das vítimas, 95 foram mortas na região central da capital Cairo e 25 em Alexandria (ao norte). Em todo o país, o saldo de feridos é de 1.330, dos quais 596 na capital egípcia. As informações foram divulgadas neste sábado (17) pelo Ministério da Saúde. O balanço inclui os mortos de sexta-feira até as 10h deste sábado (5h no horário de Brasília).

Localização do Cairo

  • Arte UOL

Nos últimos três dias, 57 policiais morreram, segundo o porta-voz do governo, que não informou se estes óbitos estão incluídos entre as 173 vítimas.

Neste sábado, a tensão se concentra principalmente nos arredores da mesquita Al-Fath, na praça de Ramsés, no centro do Cairo. O local vem sendo usado como refúgio dos apoiadores de Mursi.

Nesta manhã, soldados egípcios invadiram o local e disparos foram ouvidos nas proximidades. A agência de notícias estatal Mena informou que homens armados abriram fogo do interior de Al-Fath, enquanto imagens ao vivo exibidas pela televisão mostravam disparos do exterior em direção ao minarete, torre da mesquita.

Em outras imagens, era possível ver também um homem atirando contra soldados e policiais do minarete. Testemunhas da Reuters disseram que os defensores do ex-premiê também trocaram tiros com as forças de segurança dentro da mesquita.

Após a troca de tiros, forças especiais da polícia do Egito detiveram seguidores de Mursi, informou a agência de notícias estatal "Mena".

Conheça o exército do Egito


Além disso, autoridades egípcias afirmaram que prenderam mais de mil islamitas após o "Dia de Fúria".

Manifestantes disseram que gás lacrimogêneo foi disparado dentro da sala de orações da mesquita para tentar fazer todos saírem do local, enquanto tiros eram ouvidos.

Egito avalia dissolver Irmandade

O primeiro-ministro egípcio, Hazem el-Beblawi, propôs dissolver a Irmandade Muçulmana, anunciou o governo neste sábado, aumentando o risco de um sangrento confronto entre Estado e islamitas pelo controle do país.

Com a insatisfação aumentando de ambos os lados, e nenhum sinal de acordo em vista, o primeiro-ministro propôs a dissolução legal da Irmandade, uma medida que pode fazer o grupo se esconder e levar a uma repressão ainda maior.

Egito em transe

  • As sucessivas crises e confrontos no Egito tem raízes mais antigas e profundas, na briga entre secularistas e islamitas e uma democracia ainda imatura. Entenda mais sobre a história recente do país

    Clique Aqui

"Isso está sendo estudado atualmente", afirmou o porta-voz do governo, Sherif Shawky.

A Irmandade foi oficialmente dissolvida pelos militares em 1954, mas se registrou como uma organização não -governamental em março, em resposta a um processo promovido por seus oponentes, que questionavam sua legalidade.

Fundado em 1928, o movimento também tem um braço político legal, o Partido Liberdade e Justiça, que foi lançado em 2011 depois da revolta que derrubou o presidente autocrático Hosni Mubarak.

"A reconciliação está aí para aqueles cujas mãos não estão sujas de sangue", afirmou Shawky.

A Irmandade venceu todas as cinco eleições ocorridas após a queda de Mubarak, e Mursi governou o país por um ano até ser minado por grandes manifestações convocadas por seus críticos, que consideravam seu governo incompetente e partidário.

O chefe do Exército, Abdel Fattah al-Sisi, diz que tirou Mursi do poder em 3 de julho para proteger o país de uma possível guerra civil.

Filho de líder da Irmandade Muçulmana é morto em confrontos

O filho de Mohamed Badie, líder da Irmandade Muçulmana, foi morto no Cairo durante o "Dia de Fúria", disse o Partido Liberdade e Justiça, ligado à Irmandade.

Ammar Badie, 38, morreu depois de ser baleado quando participava de protestos na praça Ramsés, informou o partido em sua página no Facebook.

O paradeiro de Mohamed Badie, que é o guia geral do grupo islâmico, é desconhecido. Ele foi indiciado sob a acusação de incitar a violência e será julgado a partir de 25 de outubro. A morte de seu filho ocorre depois da morte da filha de Mohamed El-Beltagi, um político de alto escalão da Irmandade, durante protestos nesta semana.

A TV estatal egípcia também informou no sábado que o filho de Hassan Malek, outro líder da Irmandade, foi morto.

A polícia também prendeu o político ligado à Irmandade Gamal Heshmat, segundo comunicado divulgado pela Aliança Anti-Golpe. Heshmat é um dos líderes principais do Liberdade e Justiça.

Militares invadem mesquita que abriga apoiadores de Mohamed Mursi

Prisão do irmão de líder da Al-Qaeda

As forças de segurança do Egito detiveram neste sábado Mohammed al-Zawahiri, um dos irmãos do líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri. A informação foi repassada à Agência EFE por uma fonte militar.

Mohammed al-Zawahiri foi detido quando estava em uma rua na cidade de Gizé, perto do Cairo.

Segundo a fonte, Zawahiri é suspeito de envolvimento nos últimos ataques em Al Arish, capital da província do Norte do Sinai, no leste do país, onde as forças de ordem realizam desde o final de junho operações contra grupos armados e radicais.

Esta não é a primeira vez que o irmão do dirigente da Al Qaeda é detido pelas autoridades. A primeira foi em 1999, nos Emirados Árabes Unidos, um ano depois de um tribunal egípcio o condenar à pena de morte por terrorismo.

Após sua extradição ao Egito, ele passou 12 anos na prisão até março de 2011, quando saiu devido aos esforços das autoridades egípcias para pôr em liberdade presos islamitas detidos em casos políticos.

No entanto, pouco depois foi detido novamente por uma condenação à revelia que pesava sobre ele desde 1998 pelo caso dos "retornados da Albânia", referente a combatentes jihadistas que se uniram à resistência muçulmana nos Bálcãs entre 1992 e 1999 e que mais tarde foram extraditados a países como o Egito.

Em março de 2012, um tribunal militar o declarou inocente e ordenou sua libertação. (Com agências internacionais)