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Sarkozy nega crime de corrupção e se diz 'profundamente chocado'

Sarkozy concedeu nesta quarta-feira (2) uma entrevista exclusiva ao vivo à emissora "TF1" e à rádio "Europea 1" - Reuters
Sarkozy concedeu nesta quarta-feira (2) uma entrevista exclusiva ao vivo à emissora "TF1" e à rádio "Europea 1" Imagem: Reuters

Do UOL, em São Paulo

02/07/2014 16h23

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, 59, disse estar “profundamente chocado” com as acusações de ter cometido corrupção ativa, tráfico de influência e violação do sigilo profissional. Ele permaneceu detido por 15 horas nesta terça-feira (1º) para depor no inquérito instaurado pela procuradoria nacional financeira.

Sarkozy concedeu nesta quarta-feira (2) uma entrevista exclusiva ao vivo à emissora "TF1" e à rádio "Europe 1". Durante 45 minutos ele se defendeu das acusações e afirmou que seu indiciamento demonstra haver “uma instrumentalização política de uma parte da Justiça” para prejudicá-lo.

“Tudo foi feito para mostrar uma imagem de mim que não é a realidade. No nosso país, o país dos direitos dos homens, os franceses devem julgar aquilo que somos. Eu jamais cometi um ato contrário aos princípios republicanos ou ao Estado de Direito”, disse.

Depois de chamar os chefes de acusação que o interrogaram de “grotescos”, Sarkozy afirmou que havia neles “uma vontade de humilhá-lo”. “Se eu cometi erros, então eu assumirei todas as consequências, porque não sou um homem que foge de suas responsabilidades”, prosseguiu.

O ex-presidente francês comentou a acusação de que o regime do general líbio Muammar Gaddafi teria contribuído no financiamento de sua campanha para a eleição presidencial de 2007. “Se tivéssemos encontrado uma conta ou transferência do Sr. Gaddafi, vocês não acha que teriam sido informados antes de mim?”, indagou aos jornalistas presentes.

Sarkozy também descartou renunciar a uma eventual candidatura à presidência –as eleições na França ocorrem em 2017. “Estamos em um país onde temos deveres, mas não direitos. Olho com consternação o estado do país. Irei decidir depois de um tempo de reflexão o que eu farei.”

Indiciamento

A procuradoria nacional financeira indiciou o ex-presidente por corrupção ativa, tráfico de influência e violação do sigilo profissional, depois de detê-lo por 15 horas para interrogatório. A tripla acusação por corrupção ativa, que tem pena máxima de dez anos de prisão, se apoia em escutas telefônicas ordenadas pelos dois juízes que instruem o caso.

Os investigadores deduziram que Sarkozy e seu advogado, Thierry Herzog, recebiam de parte de um alto magistrado informações vazadas sobre o andamento do caso contra o político conservador, sete no total.

Os três são acusados pelos mesmos delitos, a partir de uma instrução sobre o suposto financiamento ilegal da campanha de Sarkozy pelo ex-ditador líbio Muammar Gaddafi.

Mas seu grupo não reconhece a validade legal das escutas telefônicas que provocaram a abertura do processo, por entenderem que elas violam o direito da confidencialidade entre advogado e cliente.

Futuro político incerto

O indiciamento compromete um eventual retorno de Sarkozy à cena política e também o futuro da UMP (União por um Movimento Popular), formação conservadora que está dividida, arruinada e abalada por escândalos financeiros.

Sua agenda pública estará marcada por causa das acusações de corrupção ativa, tráfico de influência e encobrimento no segredo de instrução, um processo que deve durar um ano e meio pelo menos.

Até agora era dado como certo o retorno de Sarkozy à linha de frente da política, a começar pela reunião prevista para 29 de novembro para escolher o presidente da UMP, partido que em 2007 o levou ao Palácio do Eliseu, e já de olho nas eleições presidenciais de 2017.

Outras informações, como a divulgada ontem pelo jornal "Le Parisien" e hoje pelo "Le Monde", baseada em declarações de colaboradores próximos, apontam que sua delicada situação judicial reforçaria ainda mais a determinação dele de retornar à arena política.

Tanto entre pessoas ligadas a Sarkozy quanto nas fileiras rivais há quem acredite que o acúmulo de processos poderia beneficiá-lo, caso decida se colocar na posição de vítima de um complô montado por juízes parciais, com o beneplácito do governo socialista.

Enquanto isso, os rivais dentro da UMP têm posições bem distintas. Enquanto uns se mantém à distância da polêmica, como o ex-primeiro-ministro François Fillon, outros o apoiam publicamente, como o ex-chefe do Executivo e atual prefeito de Bordeaux, Alain Juppé, que evocou a "amizade" que o une a Sarkozy.

O UMP, coalizão de distintas correntes conservadoras que está imerso em uma crise interna, ficou à beira da ruína econômica quando o Conselho Constitucional invalidou há um ano as contas da campanha para a reeleição de Sarkozy, obrigando a formação a reembolsar 11 milhões de euros.

Segundo o "Le Monde", a estratégia de vitimizá-lo pode encorajar seus adversários na convenção do próximo outono, mas afastá-lo do eleitorado de centro, um voto crucial para uma eventual vitória em 2017.

Já entre os socialistas, a estratégia de comunicação está centrada em reivindicar a independência do Poder Judiciário e lembrar que Sarkozy está amparado pela presunção de inocência, como qualquer outro cidadão, dois dos "grandes princípios" do Estado de direito. (Com Le Monde e agências internacionais)