Fernanda Magnotta

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Opinião

Biden reduz apoio a Israel para conter dano eleitoral e crise reputacional

Nessa última semana, o presidente Joe Biden afirmou em entrevista a uma emissora de TV, nos Estados Unidos, que interromperá o envio de algumas armas para Israel se o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenar uma grande invasão em Rafah. Biden reconheceu que bombas dos Estados Unidos foram usadas para matar civis em Gaza e expressou uma mudança na política de seu governo, condicionando o fornecimento de armamento às ações de Israel. Ele enfatizou o compromisso contínuo com a segurança do país, mas limitou o apoio a operações em centros populacionais.

A ação tem dupla motivação: 1) no campo doméstico, tem a ver com os efeitos que a guerra Israel-Hamas causa na campanha eleitoral do presidente rumo à reeleição; e 2) no campo internacional, está relacionada à preocupação que o governo democrata tem com os danos reputacionais que a indiferença israelense aos pedidos norte-americanos pode desencadear mundo afora.

Para o presidente Biden, monitorar a opinião pública sobre o envolvimento dos Estados Unidos no conflito Israel-Hamas é essencial, especialmente considerando o impacto potencial na sua imagem e apoio político doméstico. Portanto, Biden precisa equilibrar as expectativas dos eleitores, que podem variar amplamente entre apoio à segurança de Israel e preocupações com as consequências humanitárias para os palestinos.

O fato é que a guerra em Gaza se transformou em uma questão crítica para a campanha de reeleição de Biden, reverberando em boicotes durante as prévias de seu próprio partido, manifestações públicas de correligionários criticando as ações do governo em eventos emblemáticos (como ocorreu durante o discurso do Estado da União no Congresso esse ano) e, claro, em face de crescentes protestos em universidades dos Estados Unidos, onde o termo "Joe genocida" ganhou força. O governo vinha, até então, apoiando ações militares na região e bloqueando sistematicamente resoluções na ONU em favor de Israel.

Para além das questões internas, no entanto, também as preocupações com os efeitos internacionais desse conflito movem Biden em direção a uma conduta mais crítica às ações da gestão Netanyahu. Aqui, o que está em jogo é, além de tudo, o prestígio dos Estados Unidos como potência.

Biden e diversos membros de seu gabinete têm endurecido o discurso contra os excessos de Israel na Faixa de Gaza durante os últimos meses. Isso não impediu, no entanto, que Netanyahu avançasse, na contramão dos pedidos que vêm de Washington. Agora, a decisão pela pausa na entrega de 3.500 bombas para Israel, tem a ver com certa frustração do governo norte-americano com a falta de resposta às suas comunicações. Em outras palavras, restringir o envio de recursos militares é um passo a mais no processo de demonstrar o incômodo norte-americano em ter sua posição ignorada por Israel.

Biden, cuja política externa assume profunda narrativa moralista, vê como ponto crítico, que repercuta, mundo afora, a mensagem de que os Estados Unidos "já não são mais os mesmos" e que "não conseguem conter nem mesmo os próprios aliados", permitindo alimentar a já temida sombra do discurso declinista no país.

Manter uma reputação internacional positiva é crucial para qualquer Estado e, claro, para seu líder, especialmente em contextos em que suas posições ou pedidos são ignorados por terceiros. Ter a reputação de "estabilizador global" questionada no cenário global não só mina a influência diplomática dos Estados Unidos, como também compromete a credibilidade do país em negociações e tratativas internacionais de vários tipos. Para um presidente, então, isso é ainda mais sensível, pois reflete diretamente na avaliação de sua capacidade de liderança e na eficácia em proteger e promover os interesses nacionais em um contexto cada vez mais complexo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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