Presidente volta a Istambul em meio à tentativa de golpe militar na Turquia
Uma tentativa de golpe militar na Turquia nesta sexta-feira (15) colocou o país em uma situação caótica. Enquanto militares tomaram as ruas da capital, Ancara, e de Istambul, e enfrentaram a população, que foi às ruas, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, voltou a Istambul e reafirmou ter o controle do país, e que permanece no poder. A onda de violência deixou policiais e civis mortos. Há relatos de feridos, alguns em estado grave.
"Há na Turquia um governo e um presidente eleito pelo povo, e seu Deus quiser, vamos superar este desafio", disse Erdogan ao convocar os "milhões" de turcos a ocupar as ruas para defender a nação.
"Os que vieram nos tanques serão capturados porque estes tanques não lhes pertencem", afirmou o presidente durante coletiva concedida no aeroporto de Istambul, onde foi recebido por uma multidão que agitava bandeiras turcas.
Erdogan revelou que o hotel onde estava de férias em Marmaris, um balneário do sudoeste da Turquia, foi bombardeado após sua partida.
"Este levante, este movimento é um grande presente de Deus para nós. Porque o Exército será limpo", afirmou o presidente, assegurando que os golpistas pagarão caro por sua "traição".
A TV turca, citando um tribunal de Ancara, revelou que ao menos 42 pessoas morreram - civis e militares - na capital durante os confrontos provocados pela tentativa de golpe. Tiros esporádicos persistiam na manhã deste sábado (16) em vários bairros de Ancara, após uma noite confusa marcada por explosões atribuídas a bombardeios aéreos.
Situação caótica
Tanques ocuparam as ruas, e aviões militares e helicópteros sobrevoaram as duas principais cidades do país. Assim que os militares iniciaram a mobilização, o primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, afirmou em rede nacional que o país passava por uma tentativa de golpe militar.
Milhares de pessoas protestaram nas ruas durante a madrugada. Em uma das pontes fechadas por militares, soldados chegaram a fazer disparos na tentativa de conter os manifestantes. A agência de notícias turca Anadolu afirma que dois civis morreram. Imagens do incidente mostraram muitos feridos na ação.
O aeroporto de Ataturk, que foi fechado pelos militares, foi invadido pela população, que recebeu o avião de Erdogan. Ao chegar em Istambul, cerca de cinco horas após o início do motim, Erdogan afirmou que os responsáveis pela tentativa de golpe militar "pagarão um preço muito alto por traírem a Turquia". De acordo com o presidente, o grupo rebelde seria uma minoria dentro do Exército.
O premiê ressaltou que qualquer helicóptero ou avião sobrevoando prédios do governo será "derrubado com mísseis".
A sede da CNN turca em Istambul, que fez a entrevista por celular com o presidente Erdogan, foi invadida por um grupo de soldados e tirada do ar. Os telefones dos funcionários foram tomados. O jornal "Hürriyet", um dos principais em inglês na Turquia, também confirmou que sua sede foi ocupada por militares.
O que houve
No começo da noite, tanques e caminhões militares fecharam as principais pontes de Istambul e ruas de Ancara. Testemunhas dizem que aviões militares voavam baixo sobre as cidades.
Uma nota divulgada pelos militares afirmava que o Exército havia tomado o poder para proteger a ordem democrática e manter os direitos humanos. O comunicado, divulgado por canais de televisão turcos, afirma que todas as relações externas existentes da Turquia serão mantidas e que o Estado de direito permanecerá como prioridade. Eles ainda declararam lei marcial, que suspende as liberdades fundamentais da população e veta manifestações.
Apesar dos anúncios de que o país está sob controle, o Parlamento em Ancara foi atacado por inúmeras explosões. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas. Entre as vítimas estaria um deputado.
Na capital Ancara, dezessete policiais foram mortos no quartel-general das forças especiais do Exército, revelou a agência oficial Anatólia, sem dar detalhes. Ainda na capital turca, um caça F-16 da Força Aérea derrubou um helicóptero usado pelos militares.
Na noite de sexta-feira, vários tanques do Exército cercaram o Parlamento em Ancara e o aeroporto internacional Ataturk, em Istambul. Violentas explosões foram ouvidas na capital, acompanhadas de troca de tiros no centro da cidade, enquanto aviões sobrevoavam a metrópole sem parar, a baixa altitude.
Tentativas de golpe
O atual presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, faz parte do governo turco desde 2002. Primeiramente como primeiro-ministro, o membro do partido AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) foi eleito democraticamente em 2014.
Desde sua eleição direta em agosto de 2014 (com quase 52% dos votos), algo inédito na Turquia, onde até então o presidente era eleito pelo Parlamento, Erdogan mantém seus planos para tentar modificar a Constituição originada do golpe militar de 1980. Como a função presidencial tal como é descrita na lei fundamental em vigor é somente um cargo honorário, Erdogan considera ter pouco poder nesse papel.
O premiê Yildirim, que assumiu o cargo em maio, se comprometeu a trabalhar para estabelecer uma presidência mais poderosa, como solicitado por Erdogan.
Críticos temem um autoritarismo cada vez maior da parte de Erdogan, que continua sendo de longe o político mais popular do país com o auxílio de uma oposição fraca e dividida que carece de uma liderança forte. Ele é chefe do Executivo, chefe das forças armadas e líder do Partido AK, considerado islâmico moderado.
Para seus opositores, ele está levando o país de volta ao passado, com um governo autoritário e um regime policial cuja repressão contra a revolta da "Praça Taksim", pôde ser vista na primavera de 2013.
Em novembro do ano passado, dois generais da ativa e um coronel da reserva foram presos sob a acusação de espionagem, tentativa de golpe de Estado e fundação de uma organização terrorista armada.
Importância do país
A Turquia tem posição estratégica na região. Além de participar da luta contra o Estado Islâmico e ser contrária ao governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, a Turquia é considerada a porta de entrada do Oriente Médio para a Europa.
O país, que tem claras intenções de fazer parte da União Europeia, fez acordos com o bloco para conter o fluxo de refugiados para os países europeus e tem centenas de campos de refugiados sírios e iraquianos em seu território. Além disso, Ancara ainda enfrenta um conflito interno contra guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), considerado por muitos países como uma entidade terrorista, que reivindicam a formação de seu próprio país em parte do território turco.
(Com agências internacionais)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.