Topo

Farc e governo fecham acordo histórico para acabar com conflito de cinco décadas na Colômbia

Farc e governo da Colômbia selam acordo de paz - Yamil Lage/AFP
Farc e governo da Colômbia selam acordo de paz Imagem: Yamil Lage/AFP

Do UOL, em São Paulo

24/08/2016 21h10Atualizada em 24/08/2016 22h21

Os rebeldes das Farc e o governo da Colômbia alcançaram o acordo final de paz para acabar com uma luta de meio século, que deixou milhares de vítimas, anunciaram nesta quarta-feira os negociadores em Cuba.

O acordo prevê essencialmente que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) deponham os fuzis e se tornem um partido político. Mas o pacto precisa ser aprovado em referendo, ainda sem data.

"Chegamos a um acordo final, integral e definitivo", anunciou um comunicado conjunto lido pelo fiador cubano Rodolfo Benítez.

O pacto de Havana prevê compromissos para solucionar o problema agrário, o qual deu origem ao levante das Farc, assim como para enfrentar a questão do narcotráfico, combustível da violência.

Também acordaram um cessar-fogo bilateral e definitivo, fórmulas de Justiça e reparação das vítimas e a participação na política dos futuros ex-combatentes. Segundo o presidente, as Farc terão uma participação mínima assegurada no Congresso.

Observadores desarmados da ONU, delegados das Farc e o governo verificarão o processo de abandono das armas, com as quais serão levantados três monumentos.

Por último, acertaram que os acordos sejam referendados via plebiscito. Um setor influente na Colômbia, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), se opõe firmemente ao decidido em Havana por considerar que deixará crimes das Farc sem punição.

Para o presidente Juan Manuel Santos, começa o fim "da tragédia da guerra" na Colômbia. "Hoje, começa o fim do sofrimento, da dor e da tragédia da guerra", celebrou Santos, em pronunciamento transmitido em rede nacional, diretamente da Casa de Nariño.

 

Descubra a rotina dos guerrilheiros das Farc, na Colômbia

New York Times

Depende de plebiscito

Obtido após quase quatro anos de conversas tensas em Cuba, o acordo ainda precisará ser assinado e votado em um referendo. A maioria das pesquisas de opinião indica que os colombianos irão endossá-lo. 

Segundo a imprensa colombiana, o presidente Juan Manuel Santos informará o Congresso sobre a realização do referendo assim que tomar conhecimento de todos os pontos do acordo. Mais de 34 milhões de colombianos estão aptos para votar, e a organização do plebiscito pode durar até seis semanas. Os trâmites no Congresso devem ser rápidos. Por isso, fontes ligadas ao processo, estimam que os colombianos podem votar o acordo no início de outubro.

Se o acordo passar na prova das urnas (para o qual requer ao menos 4,4 milhões de votos afirmativos), poderá se dizer que o último conflito armado na América está em vias de ser extinto.

Espera-se que as Farc iniciem seu desarmamento em um prazo de seis meses contados a partir de sua concentração em 23 zonas e oito acampamentos na Colômbia.

O acordo com as Farc, grupo armado desde 1964 e maior guerrilha da Colômbia, permitirá superar em grande parte um confronto que já deixou 260.000 mortos, quase sete milhões de deslocados e 45.000 desaparecidos.

A paz com as Farc não garante o fim da violência na Colômbia. As conversas do governo com outro grupo rebelde de esquerda, o Exército de Libertação Nacional (ELN), emperraram recentemente, e há relatos de que gangues derivadas de grupos paramilitares de direita assumiram algumas rotas do narcotráfico. (Com agências internacionais)

Farc custa, por ano, de um a dois pontos percentuais do PIB da Colômbia

AFP