Topo

Multidão pede a renúncia de presidente da Coreia do Sul

Manifestantes falam em 1 milhão de pessoas, polícia diz que são 260 mil - Yonhap/ AFP
Manifestantes falam em 1 milhão de pessoas, polícia diz que são 260 mil Imagem: Yonhap/ AFP

Do UOL, em São Paulo

12/11/2016 10h40

Os organizadores de um megaprotesto neste sábado (12), que pedem a renúncia da presidente sul-coreana Park Geun-Hye, afirmam que um milhão de pessoas participaram na manifestação, segundo a agência de notícias Yonhap. A polícia, por sua vez, falou de cerca de 170 mil pessoas e posteriormente corrigiu a cifra para 260 mil.

A origem dos protestos é uma amiga e confidente da presidente sul-coreana, chamada de "Rasputina" pela imprensa, que foi detida sob suspeita de tráfico de influência, abrindo caminho a um escândalo político de consequências imprevisíveis para Park Geun-Hye.

A manifestação em Seul atraiu uma multidão, muitos dos quais eram cidadãos comuns que lotavam as principais ruas do centro da cidade, incluindo uma via de 12 pistas.

Entre os manifestantes estavam muitas famílias e estudantes, além de pais jovens empurrando carrinhos, pessoas em cadeiras de rodas e muletas, em um contraste agudo ante alguns comícios anteriores, muitas vezes dominados por sindicatos militantes e grupos cívicos que se tornaram violentos e entraram em confronto com a polícia.

"É claro que ela [a presidente] deve se demitir", disse Jung Sun-hee, uma dona de casa de 42 anos que participou do comício com seu marido e duas filhas pré-adolescentes. "Acredito que precisamos de uma nova pessoa para superar essa situação, que será melhor do que esta".

Esta foi a terceira manifestação de protesto de fim de semana desde o primeiro pedido público de desculpas de Park, em 25 de outubro, onde ela admitiu ter procurado o conselho de sua amiga Choi Soon-sil, o que só alimentou a raiva pública e as suspeitas sobre a confidente secreta que aparentemente não tinha nenhuma posição oficial no governo.

Os membros dos principais partidos da oposição se juntaram à manifestação pedindo que Park renuncie, indicando que há uma opinião crescente no parlamento para tomar medidas para removê-la do poder, embora ainda não haja uma ação formal para iniciar um processo de impeachment.

A taxa de aprovação de Park caiu pela segunda semana consecutiva indo parar em apenas 5%, de acordo com uma pesquisa realizada pela Gallup Korea e divulgada na sexta-feira, o número mais baixo para um presidente sul-coreano desde que essas pesquisas começaram com líderes democraticamente eleitos em 1988.

Entenda o caso

Geun-Hye está desestabilizada por uma série de revelações que sugerem que Choin Soon-Sil, sua amiga há 40 anos, a aconselhava nos assuntos de Estado sem exercer nenhuma função oficial ou ter habilitação em matéria de segurança.

Choi é investigada por tráfico de influência e corrupção devido a suspeitas de que aproveitou seus contatos na "Casa Azul", sede da presidência, para extorquir dinheiro dos principais conglomerados econômicos do país, como Samsung, que teria destinado importantes somas de dinheiro a fundações criadas pela amiga da presidente.

Na semana passada, ao retornar da Alemanha, para onde havia fugido, Choi se entregou à polícia e foi submetida a várias horas de interrogatório pelo Ministério Público (MP) sul-coreano.

"Desculpem-me. Cometi um pecado mortal", declaro Choi depois de entrar na sede do MP.

Durante dias, a imprensa informou diariamente sobre esta mulher de 60 anos e seu relacionamento com a presidente.

Os meios de comunicação a descrevem como uma "Rasputina" - em alusão a Rasputin, o místico (chamado de "Monge Louco") que exerceu uma grande influência sobre o Czar Nicolau 2º da Rússia no início do século 20. Choi relia e corrigia os discursos da presidente e até mesmo a aconselhava nas nomeações de integrantes de alto escalão.

Além disso, ela teria tido acesso a documentos confidenciais, o que abala a imagem da presidente, em franca queda, apesar de ter se desculpado publicamente na sexta-feira passada.

Choi é filha de uma misteriosa figura religiosa, Choi-Tae-Min, chefe autoproclamado da Igreja da Vida Eterna.

Ele havia se convertido em mentor de Park Geun-Hye depois do assassinato de sua mãe, em 1974.

Segundo a imprensa, Choi Soon-Sil teria herdado de seu pai, morto em 1994, uma influência pouco apropriada sobre a presidência.

O ex-marido de Choi Soon-Sil havia sido um dos principais adjuntos de Park até sua eleição, em 2012.

Choi visitava frequentemente a "Casa Azul" desde que Park assumiu a presidência, em fevereiro de 2013, afirmou nesta terça-feira o jornal Hankyoreh.

A presidência desmentiu energicamente esta afirmação, e a presidente Park só admitiu ter pedido conselhos a Choi a respeito de alguns discursos.

Depois da explosão do escândalo, Park destituiu vários de seus conselheiros suspeitos de estar vinculados a Choi.

Para superar a crise, Park cogita a possibilidade de nomear um gabinete de união nacional, segundo alguns observadores.

A Constituição sul-coreana não autoriza ações judiciais contra um presidente em funções. (Com agências internacionais)