Filho de ditador pego com US$ 16 mi ostenta luxo e teve ligação com a Beija-Flor
A descoberta de US$ 16 milhões em dinheiro e relógios de luxo com a comitiva do vice-presidente da Guiné Equatorial está longe de ser a única polêmica na vida de Teodoro Nguema Obiang Mangue, que também é filho do ditador do país africano.
O dinheiro e as joias foram descobertos pela Polícia Federal em abordagem no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), na sexta-feira (16).
Chamado de Teodorín, Teodoro Nguema Obiang Mangue, 49, é o filho mais velho de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que governa o pequeno país do oeste africano há 39 anos, desde 1979.
Mansões, jatos e carros de luxo
Teodorín tinha menos de 30 anos quando foi nomeado ministro e, em 2015, o pai o promoveu a vice-presidente.
Conhecido pelo estilo de vida luxuoso, ele ostenta publicamente em redes sociais suas mansões, roupas de marca, festas majestosas e viagens em jatos privados.
No ano passado, Teodorín foi condenado na França a três anos de prisão e ao pagamento de 30 milhões de euros (cerca de R$ 145 milhões) em multa por corrupção e crimes financeiros.
Segundo a investigação, Teodorín constituiu um patrimônio descomunal, fruto de atos corruptos praticados em seu país, que incluía uma mansão de 4.000 metros quadrados na prestigiosa avenida parisiense Foch, veículos Rolls-Royce e Bugatti, além de obras de arte da coleção Yves Saint Laurent-Pierre Bergé.
Apesar da decisão da Justiça francesa e de ter tido bens confiscados, nunca cumpriu a pena. Ele também teve bens apreendidos em outros países europeus, como Holanda e Suíça.
Nos Estados Unidos, foi forçado a fazer um acordo com as autoridades, em 2014, após acusações semelhantes. Teve que vender propriedades avaliadas em mais de US$ 30 milhões, incluindo uma casa em Malibu, na Califórnia, e vários carros de luxo, e doar o dinheiro a organizações de caridade que ajudam a população da Guiné Equatorial.
Conseguiu manter seu jato de US$ 38 milhões e uma coleção de relíquias que pertenceram ao cantor Michael Jackson, como a luva de cristais que o cantor usou na turnê "Bad", na década de 1980.
Desfile da Beija-Flor
Em 2015, Teodorín e sua comitiva assistiram de camarote ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. De lá, viu passar a Beija-Flor de Nilópolis, escola que se sagrou campeã naquele ano com um samba-enredo que exaltava a Guiné Equatorial.
O enredo gerou muito polêmica na época por elogiar um país comandado por um dos regimes ditatoriais que estão há mais tempo no poder no mundo.
Reportagem do jornal "O Globo" apontava que a escola teria recebido R$ 10 milhões do país como forma de patrocínio. Na ocasião, a escola de samba e o governo da Guiné Equatorial negaram a informação, e disseram que a doação foi feita por empreiteiras brasileiras.
As ligações da Beija-Flor com a Guiné Equatorial teriam começado no Carnaval de 2013, quando Teodorín teria contratado uma apresentação particular da escola no camarote que ocupava na Sapucaí.
No mesmo ano, a escola fez uma apresentação em homenagem aos 45 anos da independência do país. Em 2014, a escola levou uma comitiva à Guiné Equatorial para buscar patrocínio, e Teodorín teria convencido o pai a destinar uma quantia à Beija-Flor para 2015.
Para o desfile, o filho do ditador se hospedou na suíte presidencial do hotel Copacabana Palace e reservou outras seis para sua comitiva, com diárias que variavam de R$ 5.600 a R$ 7.200.
Além de gostar do carnaval do Rio, Teodorín também parece apreciar funk. Em junho, as cantoras Lexa e Ludmilla viajaram à Guiné Equatorial para se apresentarem em sua festa de aniversário.
Guiné Equatorial tem a ditadura mais antiga da África
Pai de Teodorín, o ditador Obiang Nguema Mbasogo assumiu o poder em 1979, quando deu um golpe no antigo presidente –que era seu tio, Francisco Macías Nguema, acusado de assassinar opositores em massa. Obiang virou oposição, assumiu o comando à força e condenou seu tio à morte por fuzilamento.
Hoje, ele é um dos mais brutais e o mais antigo ditador da África entre os países reconhecidos pela ONU, apesar de Guiné Equatorial ter passado por eleições presidenciais no período –em que Obiang apareceu como único candidato ou venceu com mais de 90% dos votos, em pleitos vistos como fraudulentos por instituições internacionais.
Ele é acusado de reprimir violentamente seus opositores, e Guiné Equatorial é constantemente apontado pela Freedom House, ONG americana que mede as liberdades civis e os direitos políticos dos países, como um dos piores nesses quesitos.
Maior parte da população vive na pobreza
Guiné Equatorial passou por uma virada em termos econômicos a partir da década de 1990, quando grandes reservas de petróleo foram encontradas no país –hoje, é um dos cinco maiores produtores da África subsaariana.
O dinheiro que entrou, no entanto, não chegou à maior parte da população. Segundo a ONU, o IDH do país mede 0,591 e o coloca como 141º do mundo –é um dos últimos, na lista de 2018, entre os considerados de “médio desenvolvimento”.
Ainda de acordo com as Nações Unidas, menos da metade da população tem acesso a água potável, quase 10% das crianças morrem antes dos cinco anos e mais de 40% delas não frequentam escolas.
De acordo com a ONG Human Rights Watch, "a ditadura do presidente Obiang vem usando o boom do petróleo para se consolidar no poder e para enriquecer sua família às custas da sua população".
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