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Igreja da maconha testa limites de nova lei em Indiana (EUA)

"Nós celebraremos as grandes aventuras da vida", disse Bill Levin antes do culto - Aaron P. Bernstein/The New York Times
"Nós celebraremos as grandes aventuras da vida", disse Bill Levin antes do culto Imagem: Aaron P. Bernstein/The New York Times

Monica Davey

Em Indianápolis (EUA)

03/07/2015 06h01

No altar, atrás de uma fileira de velas tremeluzentes, há uma silhueta iluminada de uma folha de maconha. Balões coloridos ocasionalmente balançam no ar, enquanto o ministro da música conduz uma banda em uma versão de sacudir os bancos de "Mary Jane", o funk em tributo à droga. E Bill Levin, que foi apresentado como o "Grande Chefe" desta nova igreja, concluiu a reunião com uma mensagem simples: "Vamos curtir, pessoal!"

Assim que uma legislação que seus proponentes chamam de lei de liberdade religiosa entrou em vigor em Indiana na quarta-feira (1), a Primeira Igreja da Maconha de Levin realizou seu primeiro culto em um bairro tranquilo no leste desta cidade. Levin, que tem 59 anos e é conhecido por seu cabelo branco arrepiado, concebeu a igreja como uma forma de testar a nova lei muito debatida do Estado: se a lei protege as práticas religiosas, ele imaginou, como não permitiria o uso da maconha –-que permanece ilegal aqui– como parte de uma filosofia espiritual mais ampla?

"Nós celebraremos as grandes aventuras da vida", disse Levin antes do culto, enquanto grupos de policiais uniformizados começavam a se reunir do lado de fora da igreja recém reformada. "Não se trata apenas de fumar maconha e ficar chapado.Trata-se do nascimento de uma nova religião. Eu colho sorrisos."

Neste ano, o Legislativo controlado pelos republicanos de Indiana aprovou uma Lei de Restauração da Liberdade Religiosa, visando impedir o governo de infringir práticas religiosas. Os críticos disseram que se tratava de uma medida anti-gay e visava permitir a discriminação de gays e lésbicas em nome da religião. Diante da ameaça de boicotes e fortes objeções de líderes empresariais, as autoridades estaduais rapidamente adicionaram um artigo impedindo explicitamente a medida de criar cultos locais que promovam discriminação baseada na orientação sexual.

Levin, que já foi marceneiro, um estrategista de marketing e um candidato libertário a cargo político, reservou algumas poucas palavras aos autores da lei estadual. Ele os chamou de "palhaços" que "poluem e embaraçam" seu Estado. Mas se Indiana adotar essa lei, ele disse, por que não testar seus limites e usá-la para atingir sua antiga meta, a permissão para uso da maconha?

Os líderes estaduais, incluindo o gabinete do governador Mike Pence, um republicano que apoiou a lei de exceções religiosas, não respondeu aos pedidos de comentário sobre a igreja. E alguns especialistas disseram que Levin poderá ter dificuldade em provar que o uso da maconha está realmente associado à expressão religiosa. Mas Levin parece imperturbável.

"Esta é uma religião honesta", ele disse. "Outras religiões têm pecados e culpa. Nós teremos grandes encontros de amor."

Perto da igreja, que Levin comprou semanas atrás, alguns vizinhos colocaram fitas amarelas de "Cuidado" em seus quintais, para manter as pessoas afastadas. Um grupo de uma igreja próxima marchava do lado de fora com cartazes de protesto.

"O que virá a seguir? disse Shari Logan, 46. "A igreja do crack? A igreja da heroína? É um insulto ao cristianismo, a Deus."

Sarah Taylor, 50 –-que assistia de seu quintal da frente enquanto dois caminhões de comida estacionavam do lado de fora de igreja e pessoas com roupas coloridas se reuniam-– balançou a cabeça enquanto bebia seu café. "Estão usando a religião como forma de legalizar seu vício", ela disse. "Se continuar, vai estar no meu quintal, no seu quintal, no quintal de todos."

Na quarta-feira, entretanto, as autoridades daqui deixaram bem claro que as leis da maconha permanecem inalteradas. O tenente Richard Riddle, da Polícia Metropolitana de Indianápolis, se recusou a dizer exatamente quantos policiais estiveram na igreja, mas havia policiais do lado de fora, posicionados nas esquinas próximas, atrás da igreja, e circulando de bicicleta em duplas. E as autoridades anunciaram no final da semana passada que qualquer um que fumasse maconha no primeiro culto da Primeira Igreja da Maconha poderia enfrentar um processo criminal. Até mesmo observadores poderiam ser processados, alertaram as autoridades, por contribuírem com a perturbação do bairro.

Assim, na parte do culto onde Levin planejava retirar maconha de uma caixa de madeira e começar a fumá-la, ele não o fez. Em vez disso, ele acendeu um charuto. Algumas pessoas acenderam cigarros comuns. A briga legal em torno da lei religiosa será travada na Justiça Cível, ele disse, não na Criminal. Os advogados da igreja, ele disse, estão trabalhando nos próximos passos para obter o teste legal que desejam. "Houve um pouco de intimidação a respeito de nossas crenças religiosas", Levin disse à igreja lotada.

O que restava fazer, então?

O restante do culto foi em parte uma festa dançante, parte rotina de comédia stand-up e parte um depoimento pessoal, sincero, dos presentes sobre o uso da maconha medicinal. Levin ordenou que os presentes se levantassem e dissessem, "eu amo você", cinco vezes enquanto olhavam para direções diferentes. Ele fez os presentes repetirem seus "Doze Mandamentos", que  incluem "Não trollar na Internet" e "Cultive alimentos". A polícia disse que nenhuma prisão foi efetuada e o chefe de polícia Rick Hite descreveu os eventos como civilizados e pacíficos.

"Desfrutem a irmandade", disse Levin enquanto tragava seu charuto, e depois começou a dançar.