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Melania Trump: quem é a mulher que nunca aparece ao lado do pré-candidato?

Donald Trump e Melania  - Joe Fornabaio/The New York Times
Donald Trump e Melania Imagem: Joe Fornabaio/The New York Times

Guy Trebay

02/10/2015 06h00

Deitada em um tapete adornado com o Grande Selo dos Estados Unidos, a mulher que pode vir a ser a primeira-dama está usando sandálias de salto alto e um biquíni escarlate. A data é fevereiro de 2000. Donald Trump ainda não tinha desistido de sua candidatura pelo Partido Reformista, mas colocou em ação uma máquina que, em 15 anos, vai transformar o político independente volúvel no atual líder para a indicação a candidato presidencial pelo Partido Republicano.

A mulher no tapete é Melania Knauss, uma modelo eslovena que, aos 26 anos, é mais de um quarto de século mais jovem que seu futuro marido bilionário. O tapete é um objeto de cena de um cenário do Escritório Oval, montado em um estúdio fotográfico em Manhattan. Em uma página dupla da extinta revista "Talk", Trump é visto em close em uma inserção. Recuando, o que se vê é Trump sentado à mesa presidencial e, aos seus pés, sua futura esposa, uma mulher que chama atenção por sua beleza e docilidade.

Se, na política, é sempre o caso de que você "cumpre um papel", como Knauss observou na legenda acompanhando as fotos, isso acontece porque a política é, acima de tudo, "um negócio".

Os observadores do negócio e do teatro da candidatura de Trump dificilmente deixarão de notar a passividade do papel exercido pela mulher do candidato, um que parece ser anterior à igualdade de gênero, em uma abraço de valores de uma era em que uma primeira-dama potencial menos provavelmente teria servido como ex-mentora do marido no escritório de direito (como Michelle Obama) do que como ornamento de tapete dele.

"Por que não a vemos?" perguntou recentemente Frank Luntz, o especialista em pesquisas republicano, referindo-se à quase invisibilidade de Melania Trump na campanha, com sua única aparição sendo uma oportunidade para fotos, sem palavras, na qual ela sorriu belamente enquanto seu marido anunciava sua candidatura. "Um motivo é que os republicanos têm uma visão tradicional do casamento", disse Luntz. "E ela não é uma esposa tradicional."

A verdade disso é ressaltada de várias formas à medida que a campanha de Trump continua ganhando força. Quando Donald Trump a anunciou formalmente em junho, não foi sua mulher que fez comentários, mas Ivanka Trump, a filha de 33 anos que alguns já começaram a tratar como sua mulher não-oficial de campanha.

Quando no debate republicano, em setembro, o moderador Jake Tapper convidou os pré-candidatos reunidos a se apresentarem, o senador federal Rand Paul, do Kentucky, foi rápido em apontar seu casamento por um quarto de século com sua esposa, Kelly. Seguindo  o exemplo, o senador federal Ted Cruz, do Texas, mencionou sua mulher, Heidi, enquanto o deputado federal Marco Rubio, da Flórida, destacou os 17 anos em que está casado com sua mulher, e tanto Ben Carson quanto Carly Fiorina fizeram referências às pessoas com as quais estão casados há décadas.

Apesar de Melania Trump estar na plateia naquela noite na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Simi Valley, Califórnia –trajando perfeitamente um confortável vestido tubinho branco e sapatos salto-agulha bege– quando chegou a hora de Donald Trump se apresentar, o bilionário de Nova York não disse nada sobre sua presença, declarando apenas: "Sou Donald Trump. E escrevi 'A Arte da Negociação'".

E de novo em uma entrevista recente para o programa "60 Minutes" e gravada na residência ornamentada do casal em Manhattan, Melania Trump era notável por sua ausência. "Acho que é a decisão correta", disse Luntz, referindo-se ao perfil público limitado de Melania Trump. "Se a mulher dele não deseja estar no centro do palco, então ela não deve estar."

Foi apenas nesta semana, com um artigo na revista "People" que exibia a família sorridente na capa, acompanhada pela chamada "Em Casa com os Trumps!" que Melania Trump decidiu (apesar de brevemente) quebrar seu silêncio.

Nesse espaço valioso de mídia geralmente reservado aos Kardashians e outras revelações orquestradas, a primeira-dama em potencial sugere que obrigações familiares a estão mantendo em casa. "Meu marido está viajando o tempo todo. Barron precisa da presença de um dos pais, de modo que estou com ele o tempo todo", ela disse à revista, acrescentando "ainda não estar pronta para a política".

A decisão de Donald Trump, se foi o caso, de promover sua filha e não sua esposa como companheira de campanha, é esperta, disse Luntz. "A política não é a primeira, segunda, terceira, quarta e nem a quinta língua dela", ele disse. "Não é o mundo dela. E se não é seu mundo, você se enroscará."

Apesar de ser difícil determinar os motivos por trás da aparente decisão de Ivanka Trump assumir um papel tradicionalmente reservado à mulher do candidato (Donald, Melania e Ivanka recusaram os pedidos para entrevistas para este artigo por meio de uma porta-voz da campanha), ajuda dar uma espiada na história matrimonial de Donald Trump.

Donald Trump, a filha Ivanka e Ivana Trump - Richard Drew/AP - 06.set.1997 - Richard Drew/AP - 06.set.1997
Donald Trump, a filha Ivanka e sua mãe, Ivana, em 1997
Imagem: Richard Drew/AP - 06.set.1997

Em sua primeira mulher, a impertinente imigrante Ivana Trump, uma ex-modelo, ex-esquiadora campeã e –como nota "Never Enough" ("Nunca é o bastante", em tradução livre, ainda não lançado no Brasil) uma nova biografia de Donald Trump por Michael D'Antonio, um jornalista ganhador do prêmio Pulitzer– uma fabulista altamente inventiva, Donald Trump encontrou uma companheira glamourosa e disposta para sua caminhada para a enorme riqueza e fama nos 80.

A amante dos holofotes Ivana Trump, nascida Ivana Zelnickova –na Tchecoslováquia comunista pós-guerra ou possivelmente na Áustria– se casou com Donald Trump na Igreja Marble Collegiate, em 1977, em cerimônia celebrada pelo reverendo Norman Vincent Peale, autor de "O Poder do Pensamento Positivo" (até hoje, segundo D'Antonio, a leitura favorita de Donald Trump) e com acordo pré-nupcial elaborado por Roy Cohn, um capanga da era McCarthy.

Esse casamento produziu os três primeiros filhos de Donald Trump, inúmeras manchetes e fotos de paparazzi e, talvez coincidentemente, o que se tornariam "vazamentos" regulares para a imprensa pela mulher de Trump a respeito da potência sexual sobre-humana de seu marido.

A imprensa se alternava entre relatar incansavelmente e parodiar ritualmente o estilo de vida opulento de Trump e seu casamento tumultuado, um atormentado por relatos de infidelidade e que acabou de uma forma tão clichê em Hollywood que, como nota D'Antonio em seu livro, os roteiristas há muito a abandonaram como elemento de enredo: Ivana Trump ouviu seu marido conversando com sua amante ao pegar a extensão do telefone.

O que se seguiu foi um notório e muito narrado confronto em uma rampa de esqui entre Ivana Trump e Marla Maples em Aspen, Colorado. Donald Trump posteriormente se divorciou de Ivana Trump e se casou com Maples em 1993, dois meses após o nascimento da filha deles, Tiffany. Esse casamento também alimentou os tabloides e acabou em divórcio em 1999, pouco antes dele conhecer a terceira mulher que levaria ao altar.

Como Ivana Trump, Melania Trump também é uma cidadã naturalizada, uma imigrante –apesar de não de um daqueles países que seu marido sugere isolar com muros dos Estados Unidos. Nascida Melania Knavs em Sevnica, Iugoslávia, agora Eslovênia, ela é filha de um gerente de concessionária de automóveis e uma mulher descrita em diferentes relatos como uma designer de moda ou costureira, dependendo da fonte.

Ela se casou com Donald Trump em 2005 em uma igreja episcopal em Palm Beach, Flórida, com uma recepção em seu Mar-a-Lago Club. A noiva vestiu um vestido de alta costura bordado da Christian Dior, no qual apenas a ornamentação exigiu mais de 500 horas, a um preço estimado de mais de US$ 100 mil. A lista de convidados do casamento incluiu Katie Curic, P. Diddy, Heidi Klum, Shaquille O'Neal e vários políticos republicanos, além de Bill e Hillary Clinton, no que Donald Trump declarou ter sido praticamente uma apresentação remunerada.

Anna Wintour, da editora Condé Nast, também estava presente e depois apresentou a noiva na capa da "Vogue", trajando seu vestido elaborado, com suas feições misteriosamente escondidas por um véu, sua mão adornada com anel de noivado de diamante de 13 quilates com lapidação esmeralda, que Donald Trump teria comprado pela metade do preço em um negócio fechado com um célebre joalheiro de Nova York. Em março de 2006, Melania Trump deu à luz um filho, Barron William Trump, atualmente com 9 anos e estudando em uma escola particular em Manhattan.

Como a primeira mulher de um presidenciável desde Louisa Adams nascida fora dos Estados Unidos, Melania Trump também seria potencialmente a primeira para a qual o inglês não é sua língua nativa. Sua língua franca, dizem algumas pessoas do fechado círculo social em que ela habita, é "agradável".

"Ela é realmente uma pessoa agradável e uma mãe fabulosa", disse Terry Allen Kramer, a socialite de Palm Beach e produtora veterana da Broadway, repetindo uma opinião presente em mais de uma dúzia de entrevistas com pessoas dos círculos da família Trump. Ao ser perguntada se Melania Trump daria uma primeira-dama apropriada, Kramer fez uma pequena pausa para responder: "Não acho que votamos pela primeira-dama".