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Brasil conseguiria cortar mais CO2 do que proposto e ainda aumentar o PIB

Eduardo Anizelli/Folhapress
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Lilian Ferreira*

Do UOL, no Rio de Janeiro

23/10/2015 15h08

Com gastos adicionais de R$ 372 bilhões, seria possível aumentar o PIB em R$ 609 bilhões até 2030. A conta, por si só, já parece animadora. Mas além disso, as emissões de gases do efeito estufa cairiam a níveis menores ao proposto pela presidente Dilma Rousseff.

A conta foi feita pelo Fórum Nacional de Mudanças Climáticas, presidido pela própria presidente. O secretário executivo do Fórum, Luiz Pinguelli, diz que apesar de não ser uma previsão para o futuro, as propostas são factíveis. "Temos capacidade para chegar nesse patamar, todas as possibilidades foram julgadas factíveis. Não há nada muito radical para evitar as emissões, o que precisa se juntar é a vontade. E o discurso da presidente indicou que está nesse caminho", afirmou.

Segundo ele, os cenários propostos são para o futuro, "mas no momento o Brasil passa por problemas que devem ser corrigidos", como aproveitar melhor as vantagens com energia eólica e problemas com hidrelétricas, "não só pela seca, que não foi a pior de todas, mas também pela falta de planejamento". Desde 2010, as emissões brasileiras voltaram a subir, puxadas principalmente pelos setores de energia e transportes.

Emilio Lèbre La Rovere, coordenador da pesquisa e professor da COPPE da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o estudo levou em conta as barreiras existentes e que aponta quais instrumentos são necessários para superá-las. "Não estamos dizendo que é fácil, estamos perfeitamente cientes de que existem barreiras. Mas se a gente não fizer nada, nada vai acontecer. O cenário só vai acontecer se tivermos políticas voltadas para isso. Por exemplo, se a gasolina custar o que custou nos últimos anos, não vai ter a produção de etanol que nós estimamos." Os pesquisadores lembram ainda que só foram usadas tecnologias já existentes, sem a previsão de equipamentos com maior eficiência e menor emissão de gases do efeito estufa. "A crise pode ser um bom momento para pensarmos em como queremos crescer."

Os cenários possíveis

O estudo Implicações Econômicas e Sociais de Cenários de Mitigação no Brasil - 2030 (IES-Brasil) analisa quais seriam as implicações sociais e econômicas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa no país. Pela primeira vez foi analisado também o impacto social. A pergunta foi: os impactos sociais inviabilizariam as reduções? E a resposta foi não.

As conclusões do estudo mostram que não só o PIB cresceria, mas também os salários e haveria redução no desemprego. Por outro lado, a inflação tenderia a aumentar, com maiores salários e custos para a indústria.

Foram dois cenários propostos e comparados ao padrão atual. O cenário mais modesto apresenta reduções similares ao proposto pelo Brasil na ONU (Organização das Nações Unidas). A meta brasileira seria chegar a 2030 com emissão de 1,157 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, ou uma redução de 43% em relação a 2005. Pelo primeiro cenário do estudo, daqui a 15 anos teríamos 1,303 bilhão. Já pelo modelo que exigiria mais vontade política e investimento, seria possível atingir 1,023 bilhão de CO2 equivalente, meta tida como ideal pelos ecologistas, Esse é o cenário que abre o texto.

E onde seria a grande diferença entre os dois cenários? Parte do desmatamento é legal, por isso não é possível reduzir muito neste aspecto. Então, as grandes mudanças devem vir na agricultura, no reflorestamento, principalmente da Mata Atlântica; no transporte, com o incentivo a biocombustíveis e fim do subsídio à gasolina, além de uma melhor eficiência energética dos carros (hoje, mesmo com etanol a emissão é grande); e no setor de energia.

Contexto

Hoje estamos em uma tendência de aumento nas emissões, frente ao que conseguimos até o começo desta década. Em 2012, o Brasil anunciou uma diminuição de 41% nas emissões de gases do efeito estufa, frente a 2005 -- passou de 2,03 bilhões de toneladas para 1,20 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente. Mas em 2013 já foi registrada uma alta neste número, chegando a cerca de 1,557 bilhão. Por isso, a meta apresentada pela presidente não é ousada, pois já chegamos bem perto dela, mas indica a real intenção do governo de conter os aumentos. O relatório feito pelo Fórum foi apresentado ao governo um pouco antes do anúncio na ONU.

Na Conferência do Clima de Copenhague, em 2009, o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a apresentar uma meta de corte de emissões. Naquele momento, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu uma diminuição até 2020 entre 36% e 39% frente ao que seria esperado do país. Esta meta será batida, mesmo levando em consideração o recente aumento nas emissões, porque o desmatamento no país caiu drasticamente a partir de 2005.

O gargalo agora está nas metas até 2030. A proposta de Dilma é forte frente a outros países, mesmos os industrializados, pois dá parâmetros reais de corte nas emissões de gases em comparação com uma data passada, mas ainda está aquém do que seria possível ser feito pelo país. As discussões globais sobre ações para redução nos gases do efeito estufa serão feitas na Conferência do Clima em Paris, de 30 de novembro a 11 de dezembro.

* A jornalista viajou a convite do Santander