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Acordo de governo com aéreas agiliza transporte de órgãos para transplante

Especial para o UOL

14/04/2014 06h00

O crescimento no volume de passageiros transportados pela aviação comercial no Brasil, que em pouco mais de uma década triplicou e já chega a 100 milhões por ano, é a face mais visível da expansão do setor. Um dado pouco conhecido para esta crescente legião de viajantes, porém, é uma pequena revolução que, em média, tem ajudado a salvar 35 vidas diariamente no país.

Entre 2000 e 2013, o volume de transporte aéreo gratuito de órgãos, tecidos e equipes médicas para a realização de transplantes subiu de 67 voos anuais para pouco mais de 6 mil, graças a um acordo que envolve o Ministério da Saúde e as principais companhias aéreas nacionais, além dos órgãos de controle do espaço aéreo.

O sistema de transporte para transplantes, que começou com missões da FAB (Força Aérea Brasileira) para chegar a locais remotos do território brasileiro, foi incorporado de forma definitiva pelas empresas aéreas nos últimos anos. Apenas no ano passado, esse esforço conjunto fez mais do que dobrar a quantidade de voos destinados ao transporte de órgãos e tecidos para transplante. Após registar 2.568 voos em 2012, o volume subiu para 6.064 no ano passado, um aumento de 136%. 

Apesar da participação importante da FAB, o grosso do deslocamento tem ficado a cargo de setor privado - Avianca, Azul, Gol e Tam, que integram a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) e são responsáveis por 73% dos voos e 95% dos deslocamentos totais, incluindo a via terrestre. Essa evolução é resultado dos investimentos em capacitação, tecnologia e do trabalho em conjunto entre o setor aéreo e os órgãos de saúde.

Em um país com dimensões continentais como o Brasil, o transporte aéreo é a alternativa mais eficiente para garantir que o paciente numa fila de transplantes receba, em apenas quatro horas, um novo órgão. Em Estados distantes dos grandes centros urbanos, especialmente na região Norte, esta pode ser a única opção para salvar vidas. A expectativa é reduzir o tempo de viagem e elevar o volume transportado de materiais, como órgãos sólidos, tecidos e hemoderivados (medicamentos obtidos a partir do sangue).

Levar um coração ou um rim em uma aeronave, porém, exige uma logística complexa alinhada com hospitais e a Central Nacional do Transplante, para a qual as companhias aéreas têm se preparado. Em novembro do ano passado, a Abear, a Secretaria de Aviação Civil, a Força Aérea Brasileira e o Centro de Gerenciamento de Navegação Aérea do Departamento de Controle do Espaço Aéreo firmaram acordo de cooperação com o Ministério da Saúde para a criação de vagas específicas nos voos visando ao transporte de órgãos e equipes médicas.

Os acordos firmados preveem prioridade no embarque tanto dos órgãos quanto das equipes, sem interferência na operação de embarque dos passageiros, e o monitoramento permanente dos voos que levam órgãos, a fim de que atendam ao tempo necessário para o transplante.

Nos últimos meses, os resultados deste esforço de cooperação têm ficado cada vez mais evidentes. Segundo os últimos dados aferidos, no mês de fevereiro o acordo resultou no deslocamento de 655 órgãos e tecidos, superando a média mensal de transportes do ano passado, de 559. 

Esses dados garantem ao Brasil o maior sistema público de transplante de órgãos do mundo, mostrando que é possível criar um modelo bem-sucedido de negócio e construir um legado de maneira simultânea. Mais do que proporcionar a toda uma nova parcela da população a comodidade de voar, a aviação comercial brasileira prova que, com planejamento e esforço mútuo, acordos com o setor público são capazes de proporcionar verdadeiras revoluções em outros setores da sociedade.

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