Críticas do governo paulista sobre imigrantes mostram preconceito e exploração política
Não fomos avisados e, mesmo assim, eles chegaram pelas fronteiras do Acre com o Peru e a Bolívia. A população foi pega de surpresa e o governo do Acre tratou de oferecer apoio humanitário aos imigrantes.
Tudo começou em dezembro de 2010, quando o Acre se estabeleceu como rota de imigração. Os primeiros a chegar foram os haitianos, que deixaram seu país após um terremoto que devastou a capital Porto Príncipe - além da epidemia de cólera que ocorreu após o desastre. A mesma rota também passou a ser seguida por imigrantes de outros países, como República Dominicana e Senegal.
Eles chegavam sem a documentação necessária para o ingresso no Brasil. No início, eram apenas homens e, nos meses seguintes - já em 2011 - passaram a chegar também mulheres e crianças, todos conduzidos por “coiotes”. A presidente Dilma observou de forma especial a questão da imigração haitiana e lhes concedeu um visto humanitário, algo muito raro.
Desta forma, os haitianos puderam permanecer no país com todos os direitos civis, inclusive o direito ao trabalho.
Nos meses de março e abril de 2014, devido à cheia histórica do Rio Madeira, em Rondônia, os imigrantes ficaram impossibilitados de sair do Acre, porque o tráfego na BR-364, principal via de ligação do estado com o restante do país, ficou interditado.
O abrigo em Brasileia chegou a acolher 2500 imigrantes. Já estava se tornando uma situação de degradação humana, visto que todas aquelas pessoas ocupavam um local com capacidade para apenas 300 imigrantes.
E como havia muitas pessoas de diversas nacionalidades naquela situação, passamos a temer problemas sérios de desentendimento entre eles. Além disso, a população de Brasileia já estava exausta de conviver tanto tempo com imigrantes, o que mudou drasticamente o cotidiano daquele pequeno município.
Para resolver o problema, o abrigo e os imigrantes foram transferidos para o Parque de Exposições Marechal Castelo Branco, em Rio Branco. Em seguida, o governo estadual utilizou aviões que vinham abastecer o Estado para levar os imigrantes até Rondônia e, de lá, embarcaram em ônibus para outras cidades, sobretudo Porto Velho, Cuiabá, São Paulo e outros Estados do Sul. Essa rota era utilizada desde dezembro de 2010.
Os imigrantes continuam chegando pelo Acre, e seguem até a capital, Rio Branco. O governador Tião Viana ordenou a continuidade do acolhimento humanitário, agora no Parque de Exposições, garantindo todo apoio necessário: três refeições diárias, acomodações em alojamentos públicos, assistência médica, acompanhamento junto à Polícia Federal e ao Ministério do Trabalho para retirada de documentação, passagens terrestres para seguirem viagem aos destinos que escolheram.
Todos os dias somos procurados por empresas que querem oferecer trabalho para os imigrantes. Pude constatar que os salários oferecidos giram em torno de R$ 800 - cerca de US$ 360 -, acrescido de algumas vantagens, dependendo da empresa contratante. Vale destacar que o salário mínimo no Haiti é de US$ 150.
Há que se dizer também que os haitianos não vieram para trabalhar no Acre. Apenas um pequeno grupo de 40 haitianos ficou na capital Rio Branco. Os demais estão trabalhando no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, em São Paulo, em Minas Gerais e em Rondônia.
O governo do Acre, através da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), que tenho a honra de liderar, previa para 2011 o atendimento a 20 refugiados. Sem estarmos preparados, fomos envolvidos nas questões mais delicadas e complexas de nosso tempo: a imigração.
Recentemente, com a chegada de um pequeno grupo de imigrantes em São Paulo, algumas autoridades do governo - sobretudo a secretária de Justiça, Eloisa Arruda - passaram a nos atacar covardemente. Essa atitude só manifesta preconceito e exploração política, porque os imigrantes são negros e pobres. Devemos construir uma política imigratória inovadora, digna de um Brasil solidário.
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