Brasil avançou em quantidade de alunos, mas deve em qualidade de ensino
Em anos eleitorais como este 2014, os brasileiros já sabem que “educação”, “segurança” e “saúde” serão temas presentes em todas as campanhas, comícios, propaganda gratuita no rádio e na TV, redes sociais e nos midiáticos debates entre os candidatos.
Porém, é preciso avançar muito nessa discussão. As vozes das ruas em 2013 deixaram muito claro que os quase trinta anos desde a redemocratização do país produziram efeitos positivos na consciência política da sociedade: não há mais lugar para o discurso vazio, a promessa não cumprida, o ufanismo e propostas inexequíveis.
Mais do que nunca, portanto, é preciso falar menos e fazer mais, inclusive no sentido de estimular o civismo, a democracia participativa e o engajamento político de todos os indivíduos. Em síntese: é responsabilidade dos governantes estimular o cumprimento prático e amplo do termo da moda em todo o mundo: o empoderamento da população.
Do mesmo modo que não se pode tolerar a desordem e o vandalismo, que não se justificam num regime democrático, não se deve temer as manifestações pacíficas, o confronto de opiniões, o pluralismo e as reivindicações.
Para incentivar essa nova e irreversível postura de cidadania dos brasileiros, o Estado precisa entender que a educação é a prioridade das prioridades. Um povo mais culto e instruído fica menos doente, pois valoriza a qualidade da vida, repudia mais a violência, tem menor taxa de desemprego, respeita as boas normas de civilidade e convivência social, diz não ao preconceito e à discriminação das minorias, conhece a importância de proteger o ambiente e usar com racionalidade a energia, a água e os recursos naturais.
Não é sem razão, portanto, que se considera o ensino a grande base do desenvolvimento.
O Brasil avançou no civismo e até mesmo no atendimento quantitativo à demanda de matrículas no ensino público, mas ainda deve muito em termos de qualidade.
Esta dívida, contudo, tem de ser resgatada sem mais demora, e não apenas por justiça social e aprimoramento da democracia, mas também por uma questão econômica: estamos vivendo o início do chamado bônus demográfico, que caracteriza um período no qual a população economicamente ativa é maior do que a inativa. É a oportunidade histórica de subirmos do nível de país de renda média para o de nação rica.
As gerações hoje nas escolas - e também as que estão ingressando - precisam estar muito bem preparadas para o exercício do engajamento político e a mudança de patamar econômico.
Segundo os dados mais recentes, relativos ao Censo Escolar 2012, nos 192.676 estabelecimentos de educação básica do país estão matriculados 50,54 milhões de alunos, sendo 42,22 milhões (83,5%) em escolas públicas e 8,32 milhões (16,5%) em instituições privadas.
As redes municipais são responsáveis por quase metade das matrículas (45,9%), o equivalente a 23,22 milhões, seguidas pelas estaduais, que atendem 37% do total, com 18,72 milhões. As escolas federais, com 276,43 mil matrículas, participam com 0,5% do total.
São 29,70 milhões de alunos do ensino fundamental, 8,37 milhões no médio e 7,29 milhões na educação infantil (incluindo creche e pré-escola). Há, ainda, 3,90 milhões de estudantes na educação de jovens e adultos, 1,06 milhão no ensino profissional concomitante e 820,43 mil na educação especial.
As estatísticas são inequívocas: há 42,22 milhões de brasileiros na educação básica, quase uma Espanha inteira, que dependem diretamente do Estado para se apropriar do bem maior do conhecimento. Garantir-lhes tal direito significará, também, lhes dar melhor saúde, mais segurança, perspectivas concretas de ascensão econômica e vida de qualidade, cumprindo-se na prática as promessas das campanhas eleitorais.
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