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Após denúncias, senador Gim Argello renuncia ao cargo de relator do Orçamento

Camila Campanerut*<br>Do UOL Notícias

Em Brasília

07/12/2010 17h53Atualizada em 07/12/2010 18h02

Após ter seu nome envolvido em denúncia de irregularidades, o senador Gim Argello (PTB-DF) renunciou ao cargo de relator e se retirou da Comissão Mista de Orçamento no final da tarde desta terça-feira (7). A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) foi escolhida a nova relatora e se comprometeu a aprovar o Orçamento até meia-noite do próximo dia 28.

De acordo com reportagens publicadas pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, Argello apresentou emendas parlamentares que beneficiavam instituições fantasmas ou representadas por “laranjas”. O jornal afirmou que os repasses feitos pelo Ministério do Turismo às entidades escolhidas por Argello somavam R$ 3 milhões.

Outra reportagem, publicada hoje pela "Folha de S.Paulo", mostrou que Gim Argello incluiu em sua relação de emendas o repasse de R$ 250 mil para uma ONG controlada por uma amiga.

Hoje, o DEM e o PPS tinham pedido a saída do parlamentar da relatoria-geral do Orçamento de 2011.

Leia a íntegra da carta:

Senhor Presidente
Senhores Membros da Comissão Mista de Orçamento
 
Venho a esta Comissão para cumprir meu dever de transparência, lealdade e desprendimento. Em respeito ao Congresso Nacional, aos ilustres parlamentares desta Casa, que me honraram com a escolha para representá-los como relator geral do Orçamento Geral da União, ao meu partido, o PTB, que me confiou esta difícil missão e, especialmente, ao povo do Distrito Federal, decidi, no dia de hoje, após conversas com meus familiares, afastar-me definitivamente da relatoria e da própria Comissão Mista de Orçamento.
 
Há uma tentativa recorrente de associar esta comissão a supostas irregularidades na aplicação de verbas públicas. Como parlamentar atento dos meus deveres e obrigações, considero que meu afastamento é uma iniciativa que deve contribuir para não contaminar os bons trabalhos que aqui vêm sendo realizados em prol da sociedade.
 
Da mesma forma evitamos que manobras políticas instalem uma crise artificial no limiar do novo governo. Desta forma espero também contribuir para votação serena responsável da peça orçamentária.
 
Desde o primeiro momento, adotei todas as providências ao meu alcance no sentido de esclarecer e apurar a verdade. Solicitei formalmente ao Ministério Público Federal, à Controladoria Geral da União e ao Tribunal de Contas da União que façam um pente fino nestas emendas a fim de esclarecer, ponto por ponto, todas as dúvidas suscitadas nos últimos dias. Levo comigo a serenidade e a tranquilidade. Tenho plena consciência de ter elaborado um trabalho isento, legando ao Congresso e à sociedade a certeza de que o primeiro orçamento da presidente Dilma Rousseff é um documento realista que espelha com clareza os anseios da sociedade.

Agradeço mais uma vez o apoio e a confiança do governo federal, desta comissão, dos líderes partidários, dos meus companheiros de partido e passo, a partir de agora, a ser fiscal diário das investigações das denúncias que, injustamente, envolveram meu nome

Atenciosamente
Senador Gim Argello
 

Senador cancelou emendas

Ontem, após as denúncias, o senador cancelou todas as emendas de promoção de eventos e patrocínios culturais que ele mesmo havia apresentado ao Orçamento e solicitou a transferência dos recursos para investimentos em infraestrutura turística em Brasília.

Em nota, o senador tentou se desvincular das irregularidades afirmando que cabia ao Executivo, por meio dos órgãos de fiscalização e controle, apurar irregularidades que porventura tenham beneficiado entidades que receberam recursos por meio das emendas que apresentou. O senador afirma ainda que “nenhum parlamentar pode ser responsabilizado por qualquer falha na execução de um convênio”.

"Fértil em problemas"

A Controladoria-Geral da União (CGU) afirmou nesta terça-feira (7) que a realização de eventos festivos e turísticos com recursos oriundos de emendas parlamentares é bastante “vulnerável e fértil em problemas”. Em nota divulgada na tarde de hoje, o órgão diz que está investigando indícios de desvios envolvendo verbas de emendas parlamentares ao setor.

A CGU confirma que recebeu hoje solicitação do senador Gim Argello (PTB-DF) pedindo que o órgão “apure minuciosamente” as recentes denúncias. “Essas ações da CGU se dão quando das fiscalizações feitas por meio de sorteios de municípios, além de outras originárias de denúncias, algumas vindas do Ministério Público (MP). Em alguns casos, também, por solicitação dos próprios parlamentares autores das emendas”, diz a nota.

O órgão afirma ainda que, no ano passado, foram mantidas várias reuniões entre auditores da CGU e técnicos do Ministério do Turismo para tentar melhorar os mecanismos de controle sobre a questão. “Isso resultou na edição, pelo MTur, de duas portarias que regulamentam o assunto. Essas portarias estabeleceram, entre outras coisas, limites para pagamento de cachês e a proibição de financiar itens de difícil verificação.” A CGU ressalta, entretanto, que as medidas não eliminaram as possibilidades de fraude.

As fiscalizações têm encontrado utilização de institutos fantasmas; superfaturamento dos eventos; prestações de contas genéricas; substituição do artista contratado por outro de cachê menor; cobrança de ingresso para show já financiado pelo convênio; dispensa de licitação para montagem das estruturas de palco, som e segurança; e conluio entre empresas e institutos controlados pela mesma pessoa.

“Com a repetição dos casos, a CGU verificou tratar-se de esquemas criminosos e, por isso, ainda em 2009, encaminhou os relatórios à Polícia Federal (PF) e ao MP, além da remessa ordinária ao Tribunal de Contas da União. A partir daí, a PF e o MP abriram investigações que ainda estão em andamento, realizadas em conjunto com auditores da CGU e concentradas, até aqui, em alguns Estados. A identificação dos Estados e dos autores das emendas não pode ser revelada, obviamente, para não prejudicar as investigações”, finaliza a nota.

*Com informações do UOL Notícias, em São Paulo, e da Agência Brasil