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Demóstenes Torres pede desfiliação do DEM e diz que partido fez "prejulgamento público"

O senador Demostenes Torres - Sergio Lima/Folhapress
O senador Demostenes Torres Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Maurício Savarese

Do UOL, em Brasília

03/04/2012 12h26Atualizada em 03/04/2012 15h56

O senador Demóstenes Torres (GO) pediu a desfiliação do DEM no começo da tarde desta terça-feira (3) após uma série de acusações de seu envolvimento com o empresário do ramo de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O ofício foi encaminhado ao presidente do partido, José Agripino Maia (RN). Assim, o processo de expulsão aberto ontem (2) pelo DEM deixa de existir. Com a decisão, Demóstenes permanece no Senado, mas sem partido. 

Em resposta à cúpula do DEM, que lhe enviou um ofício avisando sobre a abertura do processo de expulsão, Demóstenes escreveu em seu pedido de desfiliação que discorda "frontalmente da decisão" e que o partido fez "um prejulgamento público" do seu caso.

Agripino nega que tenha havido pré-julgamento. Segundo ele, foi dado a Demóstenes prazo de uma semana para defesa. “Coisa que ele nunca fez”, afirmou o presidente da legenda. "Para nós isso é um assunto superado e agora o Conselho de Ética do Senado que vai tratar disso", disse Agripino Maia.

"O Democratas mostra assim que é um partido diferente dos outros, que não passa a mão na cabeça de ninguém. Agimos com rapidez e fica o exemplo: nenhum membro do partido que for pego em situação semelhante terá condescendência", completou o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA). "O partido está aliviado com decisão."

Segundo análise do colunista Fernando Rodrigues, a saída espontânea de Demóstenes do partido foi um ato calculado "milimetricamente" para minimizar seus danos políticos no atual processo. Se tudo der certo, o senador eleito por Goiás em 2010 poderá se candidatar novamente a algum cargo nas eleições de 2014.

Relembre o caso Demóstenes

A relação entre Demóstenes e Carlinhos Cachoeira começou a ser divulgada pela imprensa dias após a deflagração da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que resultou na prisão de Cachoeira e mais 34 pessoas no final de fevereiro. Inicialmente, Demóstenes foi acusado de receber presentes caros de Cachoeira em seu casamento, mas negou conhecer as atividades ilegais do empresário.

Vazamento de interceptações telefônicas colhidas pela Polícia Federal mostraram, no entanto, que além de conhecer a atuação de Cachoeira, Demóstenes também participava do esquema, interferindo a favor do empresário em assuntos políticos e obtendo em troca o repasse de dinheiro resultante da exploração do jogo ilegal em Goiás.

Com as acusações, Demóstenes se recolheu em seu gabinete. Em seu microblog Twitter, o senador disse que não integrava nenhuma "organização ilegal".

Com o risco de ser cassado, o senador estuda a hipótese de renunciar ao mandato, mas retarda sua decisão por receio de perder a prerrogativa de foro privilegiado –renunciando à cadeira no Senado, o inquérito não seria mais julgado pelo STF. Além disso, caso seja cassado ou renuncie ou mandato, Demóstenes corre o risco de ficar inelegível até 2017.

Defesa fala em escutas ilegais

O advogado de Demóstenes afirmou que vai entrar com uma reclamação no STF na próxima segunda-feira (9) contestando o fato de a Justiça Federal de Goiás não ter pedido autorização à Suprema Corte para continuar as investigações envolvendo seu cliente e o empresário Carlinhos Cachoeira.

Segundo o advogado Antonio Carlos de Almeira Castro, o Ministério Público Federal e a Justiça Federal de Goiás deveriam ter pedido autorização ao Supremo para fazer as gravações telefônicas da Operação Monte Carlo porque Demóstenes tem foro privilegiado por ser parlamentar.

“Vou fazer uma reclamação contra o Ministério Público e o juiz do Tribunal de Goiás pela ilegalidade que cometeram. É para anular o inquérito”, disse o defensor. 

(Com Agência Brasil)