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Demóstenes pede desculpas aos colegas e nega ter colocado mandato a serviço de Cachoeira

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

02/07/2012 16h32Atualizada em 02/07/2012 18h41

Em discurso no plenário do Senado, nesta segunda-feira (2), o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) reafirmou sua inocência em relação às acusações de que teria usado seu mandato para beneficiar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso no final de fevereiro pela Polícia Federal sob acusação de comandar uma rede de corrupção. Ele também pediu perdão a todos os senadores, citando vários deles nominalmente.

"Peço perdão pelos constrangimentos que porventura causei, sobretudo aos que tiveram a gentileza de me apartear no discurso de 6 de março. Quem está aqui hoje é o mesmo homem daquele dia: envergonhado, abatido, deprimido, cansado e esgotado, mas que sente a injustiça lhe corroer o peito. E é de peito aberto que volto aqui, pedindo perdão pelos erros e compreensão para impedir que a injustiça se torne irreparável".

O senador voltou a se dizer inocente das acusações: "Não me pesa a consciência. Ela continua limpa. O que pesa é carregar, pelo isolamento dos corredores, os grilhões impostos pelos holofotes".

Demóstenes disse que "nada fez para merecer a desconstrução de sua honra". "Apenas admiti em pronunciamento aqui na tribuna, no dia 6 de março passado, fui amigo de Carlinhos Cachoeira e conversava frequentemente por telefone, mas nunca tive negócios legais ou ilegais com ele. Eu não tenho nem sociedade nem nada a ver com os delitos investigados pelas operações Vegas e Monte Carlo”, ressaltou, citando duas operações da Polícia Federal.

“Não coloquei o meu mandato a serviço de Cachoeira, mas tão somente à disposição das forças produtivas do meu Estado e do Brasil. Os setores da economia que me procuraram foram atendidos, na medida da presteza que determinados ocupantes de órgãos públicos reservavam para integrantes da oposição. Nunca pedi nada de ilegal a nenhum deles nem a ninguém. Simplesmente atuai apenas em nome do desenvolvimento do meu Estado", afirmou. "Eu não percebi nem recebi vantagem indevida nem algo em troca de minhas ações no Senado".

Em sua fala, o senador criticou a atuação da imprensa com o que chamou de “repertório de ofensas” divulgadas todos os dias “em conta gotas” com base em “frases soltas e montadas” pela polícia.

“Há quatro meses vivo um calvário sem trégua. São 125 dias de demolição, sem sossego, sem paz. No âmbito jurídico, sequer fui acusado, mas no tribunal das manchetes já fui denunciado, julgado e condenado”, disse.

“Estou em pleno cumprimento da pena mais cruel que pode ser imposta a um homem direito. A punição de se saber íntegro e se deparar, esmagado, por infâmia ao extremo, não ter nem como reagir”, continuou.

Demóstenes avisou que falará todos os dias na tribuna, para fazer sua defesa, até a conclusão da análise do processo por quebra de decoro. "Sou inocente", ressaltou.

As acusações de envolvimento com Cachoeira levaram o senador a ser alvo de um processo no Conselho de Ética da Casa, que aprovou um relatório recomendando a cassação de seu mandato. Na quarta-feira (4), a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) deverá analisar a constitucionalidade do rito do conselho. Caso aprovado, ainda haverá votação no plenário do Senado.

No dia 6 de março, o senador já havia feito um discurso em resposta às denúncias. Na ocasião, disse que “nunca teve negócios” com Cachoeira e que não havia “possibilidade jurídica” de comprovar seu envolvimento. 

Depois disso, Demóstenes falou ao Conselho de Ética, no dia 12 de abril, afirmando sua inocência. Ele relembrou o depoimento ao conselho em seu discurso nesta segunda: "Em meu depoimento ao Conselho de Ética, relembrei a necessidade de perícia nas gravações acostadas aos autos. Lamentavelmente, não fui atendido, porque há celeridade em jogar para os leões o corpo esquálido que há 125 dias sangra nas manchetes".

Na semana passada, o Conselho de Ética do Senado aprovou por unanimidade o relatório do senador Humberto Costa (PT-PE) que pedia cassação de mandato do senador goiano com o argumento de que ele teria sido usado em favor dos interesses de Cachoeira.

Em 29 de maio, a CPI que investiga o envolvimento de Cachoeira com parlamentares convocou o senador para depor, mas ele decidiu usar o direito de permanecer calado e foi liberado da reunião.