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Campos diz que ajudou a eleger Lula, mas que deixou governo do PT "pela porta da frente"

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

04/02/2014 12h43Atualizada em 04/02/2014 13h39

À vontade e parecendo estar em cima de um palanque eleitoral, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse nesta terça-feira (4) que seu partido ajudou a eleger o ex-presidente Lula (PT), mas que deixou a base aliada do governo federal pela “porta da frente”.

O governador disse que os socialistas foram às ruas em 84, referindo-se às Diretas Já; em 92, na época das manifestações pelo impeachment de Fernando Collor; e "para eleger o primeiro filho do povo brasileiro, presidente da República", em referência indireta a Lula, mas sem citar o nome do petista. "E vimos um governo se iniciar com esse conjunto que está aqui."

“Ninguém se arrepende de ter emprestado a sua militância, a sua história, a sua correção [para eleger Lula] (...), mas, da mesma forma que ajudamos por dentro e por fora na luta pelas conquistas, (...) tivemos a capacidade de sair pela porta da frente”, discursou Campos no lançamento das diretrizes do programa de governo da aliança do PSB com a Rede, da ex-senadora Marina Silva. Ele afirmou ainda que seu partido nunca fez oposição "com pedras nas mãos".

De olho nas eleições presidenciais de outubro, o PSB anunciou a sua saída da base aliada do governo Dilma Rousseff em setembro do ano passado, entregando os ministérios que ocupava.

Pré-candidato na disputa, Campos endureceu o tom da sua fala ao criticar o tímido crescimento econômico do país. 

“Não há política social que faça justiça num país que não tenha desenvolvimento”, disse. “Não há nesse país nenhum recanto em que possamos andar, ninguém que ache que mais quatro anos do que está aí vai fazer bem ao povo brasileiro.”

Campos afirmou ainda que “o novo pacto [político] não tolera mais esse velho pacto politico que mofou e não vai dar mais nada de bom ao povo brasileiro”, mas que, “infelizmente, muitos não tem coragem de dizer o que estou dizendo”.

O governador pernambucano reconheceu o avanço das políticas sociais no país, mas ponderou que precisaria vir acompanhado de desenvolvimento, pois, do contrário, seria igual “enxugar gelo”.

Após a saída do PSB do governo Dilma, petistas começaram a atacar o presidente do PSB, que foi chamado de "playboy mimado" na página dos petistas na internet. Em resposta, o pernambucano classificou o de "ataque covarde". "Enquanto cães ladram, a nossa caravana passa", declarou.

Depois do evento, em entrevista coletiva, Campos reconheceu que o tempo de propaganda política na TV será curto, mas afirmou que a aliança espera se valer dos militantes nas ruas e das redes sociais para divulgar as ideias da coligação. “O tempo de TV será o suficiente para passarmos as boas ideias, nós vamos ter muita gente nos ajudando nas ruas, nas redes sociais a divulgar as nossas ideias”, afirmou.

“Às vezes, a gente vê muita gente com muito tempo de televisão e não tem o que dizer. Nós temos muito o que dizer e muito pouco tempo de televisão, vamos saber usar a sabedoria para enfrentar esse pretenso gargalo e vencê-lo com a força da militância.”

A ex-senadora Marina Silva, recentemente filiada ao PSB, também discursou no evento. Ela disse que tem mais habilidades para conseguir votos para os outros do que para si mesma. "O Eduardo tem uma vantagem comparativa em relação a mim. Tem alguns, é nordestino, mas não tem a metade dos preconceitos que tenho que enfrentar. (...) Não sou boa para conseguir voto para mim mesma, mas sou boa para conseguir voto para outras pessoas", disse.

Cinco eixos

No palco do evento em Brasília, como resultado da articulação do PSB/Rede para ganhar fôlego para o pleito de outubro, também estavam presentes políticos de diversos partidos, como o presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP), que oficializou hoje a adesão da sigla à coligação.

Campos e Marina apresentaram um documento que traz as diretrizes divididas em cinco eixos programáticos, que, após discussões regionais, servirão de base para o programa final de governo da coligação.

Os cinco eixos estão divididos em: 1) "Estado e democracia de alta intensidade"; 2) "Economia para o desenvolvimento sustentável"; 3), "Educação, cultura e inovação"; 4) "Políticas sociais e qualidade de vida" e 5) "Novo urbanismo e pacto pela vida".

Na introdução do documento, são feitas críticas ao loteamento de cargos no governo federal e ao atual modelo político, além de defender maior participação da população, inclusive por meio das redes sociais.

“O modelo esgotou-se a olhos vistos, mas as forças políticas eu o operam esforçam-se para mantê-lo, negociando pedaços do Estado e entregando-os ao atraso para se manterem no poder”, diz o documento.

O eixo sobre o Estado propõe uma reforma política a fim de que a gestão pública seja constantemente avaliada pela população. Também defende uma reforma tributária para que Estados e municípios tenham mais autonomia.

Os dois partidos se uniram após a Justiça Eleitoral negar o pedido de registro da Rede em outubro de 2013 devido à falta de assinaturas necessárias. Assim, o partido não está apto a disputar as eleições de 2014.

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