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Volkswagen espionou Lula durante a ditadura, diz agência

O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em foto de 1978, quando era sindicalista na região do ABC paulista - Osvaldo Daniel Kaize/Folhapress
O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em foto de 1978, quando era sindicalista na região do ABC paulista Imagem: Osvaldo Daniel Kaize/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

05/09/2014 10h54

A montadora Volkswagen espionou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando ele era líder sindical, nos anos de 1980. As informações coletadas pela empresa foram repassadas para o governo militar (1964-1985), segundo a agência de notícias Reuters.

Dados  sobre greves, reivindicações salariais e dezenas de encontros sindicais na Grande São Paulo foram enviadas para os militares. Os documentos, datados de 1983 e 1984, foram descobertos pela Comissão Nacional da Verdade.

A companhia elaborou e encaminhou para as autoridades um dossiê sobre comício realizado em 19 de junho de 1983, no qual Lula discursou. No documento, o sindicalista é citado como tendo criticado a "falta de vergonha" com relação ao governo, e incentivando os trabalhadores a parar de pagar prestações de programas habitacionais financiados pela ditadura como forma de protesto.

Os nomes dos funcionários da Volkswagem envolvidos em atividades sindicais --assim como o número da placa de seus veículos-- foram enviados para o governo.

A exibição de um filme sobre a Revolução Russa considerado socialista na sede do sindicato também foi reportada, bem como o conteúdo de cartazes de protesto distribuídos na porta das fábricas e o nome de trabalhadores flagrados fumando maconha.

"Essas informações teriam sido usadas pela polícia para deter e ameaçar sindicalistas e ativistas”, afirma Sebastião Neto, membro da Comissão. "Os documentos mostram como as empresas esperavam que o governo lidasse com seus problemas trabalhistas”, disse.

A empresa afirmou à Reuters que “investiga os indícios” de que seus funcionários serviram como informantes durante a ditadura.

“A Volkswagem é conhecida como um modelo por não esconder a história da empresa”, informou a assessoria da empresa. “Lidaremos com esse assunto da mesma maneira”.

A assessoria do Instituto Lula não quis se manifestar sobre o assunto.

Além da Volkswagem, a Ford, Toyota e Mercedes-Benz, entre outras -- todas com sede brasileira na região do ABC -- também são investigadas por ajudar o os militares durante o período da ditadura.