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'Se PSDB e Aécio não aparecerem na delação da Andrade, é farsa', diz Lula

Marcelo Machado de Melo/Reuters
Imagem: Marcelo Machado de Melo/Reuters

Do UOL, em São Paulo

16/03/2016 20h55

Em conversa por telefone com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) no dia 2 de março, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que, se o PSDB e o senador Aécio Neves (PSDB-SP) não forem citados na delação premiada dos executivos da empreiteira Andrade Gutierrez dentro da Operação Lava Jato, o instrumento para obter informações é uma farsa.

No diálogo, Lula comenta que seu telefone poderia estar sendo gravado pela Polícia Federal. A conversa de fato estava sendo gravada pelas autoridades e foi divulgada nesta quarta (16) depois que o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, levantou o sigilo sobre a investigação sobre o ex-presidente, incluindo uma série de telefonemas.

"Na delação da Andrade Gutierrez... Eu estou falando neste telefone porque quero saber se a Polícia Federal está gravando, tá? Quero ver se está grampeado", diz Lula, entre risos do senador, antes de retomar o assunto. "Se a Polícia Federal e o Ministério Público, nessa delação da Andrade Gutierrez, não aparecer o PSDB e nem o Aécio, qualquer brasileiro pode dizer que a delação é uma farsa. Uma mentira."

No total, 11 executivos da empresa, a segunda maior empreiteira do Brasil, fizeram acordo de delação, entre eles Otávio Azevedo, ex-presidente do grupo. Nenhuma delação foi homologada pela Justiça até o momento.

"Sobre Aécio, você sabe que aquela história da Cemig com a Andrade Gutierrez é um grande escândalo. Você sabe, né?. A relação da Cemig com Andrade Gutierrez e Aécio é umbilical", prossegue Lindbergh. 

Na mesma conversa, Lula lembra que o procurador-geral da República recusara, até então, quatro investigações sobre Aécio Neves.

"O Aécio dizer que não quer mexer em nada, é porque ele não quer que a coisa dele seja mandada para investigação", afirma o ex-presidente.

"Não investigou Dimas, não", responde Lindbergh, em alusão a Dimas Toledo, ex-diretor da estatal Furnas. 

O senador tucano foi citado na delação do lobista Fernando Moura, feita ao juiz Sérgio Moro no começo de fevereiro. Segundo ele, Toledo descreve o esquema de propina da empresa como sendo "um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio". Na época, a assessoria de imprensa do PSDB definiu a citação a Aécio como "declaração requentada e absurda".

"É guerra. Pode me chamar de general Giap"

Na mesma conversa, o senador conta que compareceria a um evento de blogueiros pró-governo no dia 7 de março, uma segunda-feira, em São Paulo. Lindbergh também comenta que não houve "aquelas notícias todas que, semana passada, falaram que ia ter essa semana". 

"É, mas a gente não sabe, porque é um bando de louco, c******", respondeu Lula ao comentário do senador. "A gente sabe, né, a gente viu delegado da Polícia Federal ontem dizendo que quer autonomia, que a troca de ministro é interferência política. Olha, esse delegado tem que tomar no c*."

No dia 29 de fevereiro, José Eduardo Cardozo deixou o Ministério da Justiça. No mesmo dia, a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal divulgou nota dizendo que os profissionais receberam com "extrema preocupação" a saída do ministro e que "se torna urgente a inserção da autonomia funcional e financeira da PF".

A conversa sobre a PF acontece no começo da gravação, de aproximadamente dez minutos. Mais adiante, antes de falar da Andrade Gutierrez, Lula diz que "é guerra, e quem tiver a artilharia mais forte, ganha".

"Nós estamos nessa guerra também. Não tem nada a perder agora", respondeu Lindbergh.

"Você pode até me chamar de general Giap", disse Lula, em alusão ao militar vietnamita que derrotou forças estrangeiras na Guerra do Vietnã. "Nós já derrotamos os americanos, os chineses, os franceses, estamos para derrotar a Globo agora."

"Quem precisa de autonomia é a Dilma"

Logo em seguida, Lula volta a demonstrar irritação com a atuação do Ministério Público e da Polícia Federal.

"Sabe o que acontece? O problema é que nós temos que fazer nos respeitar. Um delegado não pode desrespeitar um político, um senador, um deputado. Não tem sentido. Um cara do Ministério Público tem que respeitar. Todo mundo quer autonomia, quem está precisando de autonomia nesse país é a Dilma. Tem o Tribunal de Contas em cima dela, o Ministério Público em cima dela, tem a Polícia Federal em cima dela, sabe? Todo mundo em cima da coitada. E todo mundo querendo autonomia? Vai tomar no c*, p****. Ela não tem autonomia financeira, não tem p**** nenhuma."