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Maia: decisão de Fux sobre projeto anticorrupção é intromissão na Câmara

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante sessão na terça (13) - Renato Costa - 13.dez.2016/Frame Photo/Estadão Conteúdo
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante sessão na terça (13) Imagem: Renato Costa - 13.dez.2016/Frame Photo/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo*

14/12/2016 21h59Atualizada em 14/12/2016 21h59

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux a favor de que o projeto contra a corrupção enviado para o Senado no último dia 30 de novembro volte a ser discutido e votado pelos deputados.

“A assessoria está analisando a liminar. Infelizmente, é intromissão indevida do Judiciário na Câmara dos Deputados”, afirmou.

Fux atendeu mandado de segurança impetrado no dia 2 de dezembro pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), que pedia a anulação, via liminar, da votação do pacote. O pedido do deputado citava a transformação do projeto inicial --especialmente a cláusula sobre o abuso de autoridade-- e a tentativa de votação por urgência no Senado já no dia seguinte à aprovação na Câmara.

Em seu despacho, o ministro justificou que projetos de lei de iniciativa popular merecem tramitação diferenciada. Segundo Fux, a Câmara não seguiu os preceitos legislativos adequados para o projeto e houve "evidente sobreposição do anseio popular pelos interesses parlamentares, frustrando a intenção da sociedade de apresentar uma proposta de acordo com os seus anseios".

Comparação com Ficha Limpa

Incomodado com a decisão do ministro, Maia argumentou que o projeto das medidas contra a corrupção teve a mesma tramitação da Lei da Ficha Limpa. Segundo o presidente da Câmara, Fux questionou em sua decisão o fato de uma lei de iniciativa popular ter sido convertida em proposta de iniciativa parlamentar, o que seria praxe na Casa, já que a Câmara não teria condições de verificar as assinaturas de apoio popular. Além disso, segundo Maia, Fux teria considerado a emenda sobre abuso de autoridade “matéria estranha”.

O texto aprovado na Câmara por 450 votos contra 1 no dia 30 tinha como base um documento de 10 medidas organizado pelo Ministério Público Federal e pela sociedade, mas foi amplamente alterado pelos parlamentares. Apenas quatro medidas foram mantidas, seis foram excluídas e novos projetos foram incluídos, como o que trata do abuso de autoridade por parte de juízes e promotores.

Após a aprovação na Câmara, o projeto migrou para o Senado, e o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou votar a urgência da apreciação do projeto logo no dia seguinte, 1º de dezembro. No entanto, a tentativa foi rejeitada por 44 votos, contra 14 que apoiaram o senador.

Pacote polêmico

A proposta surgiu a partir de uma campanha feita pelo Ministério Público Federal intitulada Dez Medidas Contra a Corrupção. Na votação da Câmara, no entanto, foram retiradas seis das dez medidas sugeridas pelo MPF. A principal mudança feita pelos deputados ocorreu por meio de emenda do deputado Weverton Rocha (PDT-MA), aprovada por 313 votos a 132 e 5 abstenções. Ela prevê casos de responsabilização de juízes e de membros do Ministério Público por crimes de abuso de autoridade. Entre os motivos listados está a atuação com motivação político-partidária.

Diante das alterações, procuradores da Operação Lava Jato ameaçaram deixar a força-tarefa caso as medidas do novo pacote entrassem em vigor. O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, também fez duras críticas ao texto. Segundo ele, as alterações colocaram o país "em marcha a ré no combate à corrupção". De acordo com o procurador, "as 10 Medidas contra a Corrupção não existem mais".

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, também divulgou uma nota em que lamentou a aprovação do projeto que torna crime o abuso de autoridade para juízes e procuradores.

*Com Agência Câmara Notícias