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Delatores acusam Serra e Aloysio de favorecer Odebrecht em troca de caixa 2

Aloysio (à direita) discursa em comício de Serra (á esquerda) para prefeito em 2012 - Adriana Spaca - 29.set.2012/Brazil Photo Press/AE
Aloysio (à direita) discursa em comício de Serra (á esquerda) para prefeito em 2012 Imagem: Adriana Spaca - 29.set.2012/Brazil Photo Press/AE

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

11/04/2017 23h40

O senador José Serra (PSDB-SP) e o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), favoreceram a Odebrecht mediante doações ilegais (caixa dois) para suas campanhas eleitorais, afirmam ex-executivos da empresa que fizeram delações premiadas no âmbito da operação Lava Jato.

As informações citadas por sete colaboradores estão presentes na decisão em que o ministro Edson Fachin, relator da operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), autoriza a abertura de investigação sobre Serra e Aloysio a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República). Os dois políticos negam ter cometido irregularidades.

Os ex-funcionários da Odebrecht citados como colaboradores são Arnaldo Cumplido de Souza Couto, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, Carlos Armando Guedes Paschoal, Luiz Eduardo da Rocha Soares, Roberto Cumplido, Fábio Andreani Gandolfo e Pedro Augusto Ribeiro Novis.

Caixa 2 de R$ 500 mil para Aloysio

De acordo com a decisão de Fachin, os colaboradores “narram a ocorrência de solicitação de vantagem indevida, a pretexto de doação eleitoral", por Aloysio, que na época era o chefe da Casa Civil do governo de José Serra em São Paulo.

Segundo os ex-executivos, Aloysio se comprometeu a ajudar a Odebrecht na relação com a Dersa (estatal de infraestrutura de São Paulo) em troca de doação para campanha. Fachin diz, citando as delações, que o hoje ministro recebeu R$ 500 mil em caixa dois para sua campanha vitoriosa ao Senado em 2010.

Aloysio Nunes afirmou que só vai se manifestar depois que tiver acesso ao teor do inquérito.

Mais de R$ 35 milhões para Serra e PSDB

O pedido de abertura de investigação também traz relatos de Pedro Novis, ex-presidente do conselho administrativo da Braskem, sobre doações ilegais ao PSDB e a campanhas de José Serra que somaram mais de R$ 35 milhões. O objetivo das doações era “manter boas relações com o agente político e almejando futuro auxílio em obras de infraestrutura, concessões na área de transporte e saneamento no Estado de São Paulo.”

Novis relata o pagamento de R$ 2 milhões à campanha de 2004 e R$ 4 milhões à campanha de Serra ao governo de São Paulo “por meio de depósito em contas correntes mantidas no exterior e indicadas por Amaro Ramos, suposto operador do PSDB.” O texto de Fachin lembra que, “conforme informado pelo Procurador-Geral da República, durante o governo de José Serra a Odebrecht sagrou-se vencedora em diversos processos licitatórios.”

No domingo (9), a "Folha de S. Paulo" noticiou que Ramos afirmou, por meio de seu advogado, ter recebido € 1,2 milhão da Odebrecht na Suíça em 2006 e 2007, mas que o montante corresponderia a serviços de consultoria à empresa. Ele disse ter feito estudos de viabilidade econômica para projetos da Odebrecht na Argélia, na Turquia e no Uruguai.

Ainda de acordo com o inquérito, Serra pediu R$ 3 milhões em 2008 “a pretexto de contribuição à Prefeitura Municipal de São Paulo”. No ano seguinte, o então presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (já falecido), solicitou a Novis mais R$ 3 milhões para campanhas do partido, inclusive a de Serra para presidente em 2010.

Nessa ocasião, Novis teria condicionado os repasses ao recebimento de valores devidos por obras da Odebrecht no Estado de São Paulo. Guerra teria feito uma contraproposta: que os valores atrasados seriam pagos desde que 15% “fossem transferidos ao próprio PSDB”, solução que teria sido aprovada por Serra.

Assim, Novis teria autorizado pagamento de R$ 23,3 milhões em caixa dois por meio de Ronaldo César Coelho e Márcio Fortes, indicados por Serra.

Em outubro, a "Folha" noticiou que executivos da Odebrecht mencionaram Coelho e Fortes como os operadores do caixa dois, e que parte dele foi pago em uma conta na Suíça. À época, os dois não comentaram o assunto.

Em janeiro deste ano, também segundo a "Folha", Coelho admitiu ter recebido recursos da Odebrecht no exterior para a campanha de Serra em 2010.

Esta terça (11), em nota, o senador José Serra afirmou que a abertura do inquérito pelo STF é uma oportunidade de demonstrar que não cometeu nenhuma irregularidade em suas campanhas.