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Palocci diz que Odebrecht deu R$ 4 milhões ao Instituto Lula

Palocci diz que foi contra Odebrecht dar prédio ao Instituto Lula

UOL Notícias

Do UOL, em São Paulo

06/09/2017 20h21Atualizada em 06/09/2017 20h59

O ex-ministro Antônio Palocci disse nesta quarta-feira (6), em depoimento ao juiz Sergio Moro, que o Instituto Lula recebeu R$ 4 milhões da Odebrecht.

Palocci afirmou ter sido o responsável por fazer o pedido a Marcelo Odebrecht, um dos herdeiros do grupo, para dar o dinheiro ao instituto. "Em 2012, 2013, eu volto a tratar de alguns recursos a pedido do ex-presidente Lula. Tem um episódio, que o Marcelo [Odebrecht] relatou, que é verdadeiro. É um pedido que eu fiz a ele, de R$ 4 milhões pro Instituto Lula. Isso é verdade", afirmou.

A assessoria de imprensa de Lula afirmou que as acusações de Palocci seriam contraditórias em relação ao depoimento de outras testemunhas. Em nota, a assessoria afirmou que, por estar preso, o ex-ministro estaria buscando benefícios de um acordo de delação premiada e para isso estaria fazendo acusações "falsas e sem provas" contra Lula.

O ex-ministro disse que Paulo Okamotto, presidente do instituto, lhe pediu ajuda para levantar os recursos. "O Paulo Okamotto me pediu para que eu ajudasse ele a cobrir o final de ano do instituto, que faltava recurso. Acho que foi meio para o final de 2013, começo de 2014. Ele tinha um buraco nas contas, me pediu para arrumar recursos. Eu fui ao Marcelo Odebrecht. Eu ia viajar para o exterior, ele disse que precisava com muita urgência. A ideia dele era que eu procurasse várias empresas. Eu disse: 'Não posso, vou procurar só o Marcelo'", relatou Palocci a Moro.

A resposta de Marcelo foi positiva para dar os R$ 4 milhões ao Instituto Lula, segundo o ex-ministro. "O Marcelo concordou em dar, falou que tinha disponibilidade. Pedi ao Brani [Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci] para transmitir ao Paulo Okamotto que seriam dados os R$ 4 milhões que ele havia pedido", detalhou.

"Ilícito monstruoso"

No depoimento, Antônio Palocci faz um relato da negociação com a Odebrecht sobre a compra do terreno que seria destinado ao Instituto Lula em São Paulo.

O ex-ministro disse mais de uma vez ter sido contra a ideia de que a Odebrecht ocultasse que estava fazendo a compra do terreno. Chegou a expor a sua posição contrária para Lula, Paulo Okamotto e José Carlos Bumlai, o pecuarista e amigo do ex-presidente.

"O nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso. Se nós fizermos esse tipo de operação, vamos criar uma fratura exposta desnecessária", teria dito Palocci a Lula, tentando demovê-lo da ideia do terreno.

Segundo Palocci, Lula pediu a ele para que argumentasse a ex-primeira-dama Marisa Letícia que o terreno comprado pela Odebrecht era uma "operação tabajara" e poderia causar problemas ao ex-presidente. "Me ajude a convencer a Dona Marisa que a compra foi inadequada, porque ela gosta de você", relatou o pedido de Lula.

Palocci disse ter se reunido com Marisa, Bumlai, Okamotto e Roberto Teixeira, amigo e advogado de Lula, no apartamento do ex-presidente em São Bernardo. Palocci disse ter encontrado resistência de Bumlai e Teixeira, que tratavam a operação da compra como "normal". Palocci disse ter discordado e que seria o "convite a uma investigação, como está acontecendo agora". "A Dona Marisa concordou na hora e esse prédio foi dispensado", disse Palocci a Moro.

Entenda o caso

Um dos principais nomes dos governos Lula e Dilma, Palocci é réu junto com o ex-presidente da República, o ex-presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht e outras quatro pessoas em processo da Operação Lava Jato sobre um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a empreiteira e a Petrobras. O esquema teria gerado desvios de cerca de R$ 75 milhões que teriam beneficiado o ex-presidente e seu grupo político.

Parte deste valor teria sido destinado à compra de um terreno em São Paulo que, supostamente, serviria de sede para o Instituto Lula. A entidade nunca funcionou no local.

Segundo a força-tarefa da Lava Jato no MPF-PR (Ministério Público Federal no Paraná), Palocci atuou como intermediário na negociação e recepção da suposta propina a Lula. Ele é acusado de cometer os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Palocci cumpre prisão preventiva desde setembro de 2016 por ordem de Moro. Ele está detido no Paraná e estaria negociando há meses um acordo de delação premiada com o MPF. Em junho, o ex-ministro foi condenado por Moro em outro processo da Lava Jato 12 anos, dois meses e 20 dias de prisão em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Leia a íntegra da nota da assessoria de Lula:

"A história que Antonio Palocci conta é contraditória com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e provas e que só se compreende dentro da situação de um homem preso e condenado em outros processos pelo juiz Sérgio Moro que busca negociar com o Ministério Público e o próprio juiz Moro um acordo de delação premiada que exige que se justifique acusações falsas e sem provas contra o ex-presidente Lula".

"Palocci repete o papel de réu que não só desiste de se defender como, sem o compromisso de dizer a verdade, valida as acusações do Ministério Público para obter redução de pena e que no processo do tríplex foi de Léo Pinheiro."

"A acusação do Ministério Público fala que o terreno teria sido comprado com recursos desviados de contratos da Petrobrás, e só por envolver Petrobrás, o caso é julgado no Paraná por Sérgio Moro. Não há nada no processo ou no depoimento de Palocci que confirme isso. Sobre a tal “planilha”, mesmo Palocci diz que era um controle interno do Marcelo Odebrecht e que “acha” que se refere a ele. Ou seja, nem Palocci conhecia a tal planilha, quanto mais Lula."

"Palocci falou de uma série de reuniões onde não estava e de outras onde não haveriam testemunhas de suas conversas. Todas falas sem provas.

"Marcelo por sua vez diz ter pedido que seu pai contasse para Lula e Emílio negou ter contado isso para Lula.

"O réu Glauco da Costa Marques reafirmou em depoimento ser o proprietário do imóvel vizinho ao da residência do ex-presidente e ter contrato de aluguel com a  família do ex-presidente, e que está recebendo o aluguel. Uma relação de locador e locatário não se confunde com propriedade oculta.

"Processos fora da devida jurisdição com juiz de notória parcialidade, sentenças que não apontam nem ato de corrupção nem benefício recebido, negociações secretas de delação com réus presos que mudam versões de depoimento em busca de acordos com o juízo explicitam cada vez mais que os processos contra o ex-presidente Lula na Operação Lava Jato em Curitiba não obedecem o devido processo legal.

"O Instituto Lula reafirma que jamais solicitou ou recebeu qualquer terreno da empresa Odebrecht e jamais teve qualquer outra sede que não o sobrado onde funciona no bairro do Ipiranga em residência adquirida em 1991.

"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirma que jamais cometeu qualquer ilícito nem antes, nem durante, nem depois de exercer dois mandatos de presidente da República eleito pela população brasileira."