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Para especialista, chance de descobrir autor de áudio em voo de Lula é quase nula

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca em avião no rumo a Curitiba - Paulo Whitaker/Reuters
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca em avião no rumo a Curitiba Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

13/04/2018 04h00Atualizada em 13/04/2018 11h53

A probabilidade de se descobrir o autor das frases proferidas contra o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em voo da Polícia Federal de São Paulo para Curitiba é quase nula. A opinião é do engenheiro aeronáutico e especialista em aviação civil Adalberto Febeliano, ex-executivo da Associação Brasileira de Aviação Geral e da Azul Linhas Aéreas. 

No último sábado (7), foram registradas ofensas a Lula na transferência dele da capital paulista para Curitiba, onde está preso. O ex-presidente foi levado para a capital paranaense em avião da PF do aeroporto de Congonhas para o de Afonso Pena, em São José dos Pinhais.

Algumas das frases eram “leva e não traz nunca mais” e “manda esse lixo janela abaixo”. Elas foram registradas na frequência aberta de comunicação entre as torres dos aeroportos de São Paulo e Curitiba e os pilotos do avião da PF.

Escute o áudio que vazou do voo de Lula

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Ainda não se sabe quem proferiu as frases. A FAB (Força Aérea Brasileira) confirmou a autenticidade do áudio e negou que as frases tenham sido ditas por controladores de voo, pois fogem da “fraseologia padrão” do tráfego aéreo e não há identificação prévia, como determinam as regras do setor. No áudio, é possível perceber que controladores repreendem os autores das falas. Tanto o PT quanto o PCdoB pediram que se abra investigação sobre o episódio.

Para Adalberto Febeliano, entre outros postos no setor de aviação civil, mesmo que se apure o caso, dificilmente se descobrirá o autor das declarações.

Isso porque, como de costume e como determina o procedimento de controle aéreo, a frequência de rádio utilizada estava disponível não apenas aos pilotos da PF e as torres de comando, mas também a todos os pilotos de aviões no pátio de Congonhas e de aeronaves próximas à aterrissagem no aeroporto.

“É praticamente impossível descobrir, a chance é quase nula, zero. Não dá para dizer a característica da pessoa que falou aquilo só pela voz registrada no áudio e, naquele horário, de sábado à noite, Congonhas devia ter pelo menos 15 aeronaves em solo, fora as que estavam se aproximando para aterrissar. Qualquer um dos pilotos ou copilotos pode ter entrado na frequência e ter dito aquelas frases”, afirmou.

Segundo ele, ainda é possível que outra pessoa não autorizada a falar na frequência utilizada tenha se intrometido de propósito para fazer as declarações. Neste caso, a atitude pode ser configurada como crime, mas raras vezes resulta em punição, informou.

“Qualquer pessoa pode ouvir a frequência. Isso é normal e é tido como hobby por muitos. Não tem nada de errado aí. O problema é quando alguém tem um transceptor e coloca na mesma frequência da comunicação aérea e fala nela. Nesse caso, é um problema de segurança de aviação”, explicou Febeliano.

Um transceptor deve ser inscrito na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) com o registro de dados como modelo e faixa, e o dono tem de pagar uma taxa ao governo. “Pessoas contrabandeiam, mas, em geral, não transmitem. É mais raro que alguém fale. No episódio do Lula, alguém fez de propósito, se aproveitando da ocasião para fazer uma piada, uma brincadeira, ao seu ver”, disse.

Na avaliação dele, de acordo com a conversa registrada entre tripulação da PF e torre de controle, o áudio foi interrompido com as frases contra Lula no momento em que o avião estava na cabeceira da pista, pronto para decolar. Apesar da interferência, Febeliano defende que não houve risco à integridade do avião da PF nem à segurança de Lula.

Procurada pelo UOL, a Polícia Federal informou, por telefone, que não se manifestará sobre as falas nem fornecerá a lista da tripulação do voo. A corporação se recusou a responder formalmente aos pedidos da reportagem por e-mail.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou que, até esta quinta-feira (12), ainda não havia chegado ao órgão questionamentos de partidos políticos a respeito do episódio. A Anac pediu que o UOL procurasse a FAB devido às comunicações aeronáuticas serem tema de competência do Departamento de Controle do Espaço Aéreo.

A FAB reiterou que o conteúdo dos áudios gravados não comprometeu a segurança das operações aéreas em São Paulo e Curitiba, "não cabendo assim qualquer ação investigativa" por parte da instituição.

"Em ambos os casos, os controladores de tráfego aéreo agiram de acordo com as normas, orientando os usuários das frequências de rádio na ocasião. Por fim, a FAB assegura que as mensagens de conteúdo estranho à fraseologia padrão não foram emitidas pelos controladores de tráfego aéreo", informou.