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Caseiro nega que tivesse ordens de Lula, mas diz que Marisa chefiou reforma e explica "sítio do presidente"

Ana Carla Bermúdez e Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

20/06/2018 19h26Atualizada em 20/06/2018 22h20

Élcio Pereira Vieira, o caseiro do sítio de Atibaia (SP), disse em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta quarta-feira (20) que nunca recebeu recados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o caseiro, o petista “jamais” pediu a ele “favores e muito menos recados”.

A afirmação diverge do que foi dito por Misael de Jesus Oliveira, funcionário da OAS que depôs a Moro na segunda-feira (18). Na ocasião, Oliveira disse a Moro que foi convocado por seu gerente para trabalhar em reformas no sítio e que recebia pedidos diretamente da ex-primeira-dama Marisa Letícia, enquanto Lula passava recados através do caseiro.

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Conhecido como Maradona, Vieira depôs a Moro como testemunha de defesa de Lula e do empresário Fernando Bittar, um dos proprietários do sítio, na ação que investiga se o petista recebeu cerca de R$ 1 milhão das empresas Odebrecht, OAS e Schahin por meio de obras feitas na propriedade, que era frequentada por Lula e sua família.

O MPF (Ministério Público Federal) diz que o sítio, registrado em nome de outras pessoas, pertence, na verdade, ao ex-presidente. A defesa nega.

Vieira afirmou que chegou a conhecer o funcionário da OAS –que, segundo ele, foi ao sítio após uma visita feita por Paulo Gordilho, ex-diretor da empreiteira. O caseiro disse que, na época, não sabia que Gordilho trabalhava para a OAS.

Apesar de negar a afirmação de que teria atuado repassando recados de Lula, Vieira confirmou outra declaração dada pelo funcionário da OAS, que afirmou em seu depoimento que a empreiteira proibiu o uso de uniformes com o nome da empresa para a realização de obras no sítio em 2014 --quando relatou ter trabalhado em reformas na cozinha do sítio e na impermeabilização de um lago.

O caseiro disse que, em 2010, uma equipe de 20 a 25 pessoas trabalhou na construção de uma edificação com quatro suítes e um galpão, nos fundos da casa principal, e que os servidores usavam uniforme, mas sem identificação de qualquer empresa.

Funcionário da OAS diz que sítio era de Lula

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Marisa decidiu sobre reformas

O caseiro afirmou ainda que Marisa Letícia decidiu sobre duas reformas realizadas no sítio –o acabamento de um banheiro e a ampliação de uma cozinha. Segundo ele, a obra da cozinha foi “totalmente” decidida pela ex-primeira-dama.

“O Fernando [Bittar] já tinha o projeto, decidido com a Lilian [Bittar, sua esposa], que eles iam ampliar a cozinha, que era muito pequena. Só que a dona Marisa tinha os pitacos dela”, disse. “Foi uma coisa que ela tomou conta, aquilo ali. O Fernando nem ia na época da cozinha”.

Segundo Vieira, o acabamento do banheiro foi custeado por Bittar. Ele disse não saber, no entanto, quem pagou a reforma da cozinha.

O caseiro também disse que tratava com Marisa Letícia sobre os animais e a horta do sítio por meio do e-mail da segurança de Lula. "Tudo que tiver relacionado à horta e aos bichos você me passa nesse e-mail", relatou sobre o que teria ouvido da ex-primeira-dama.

Caseiro explica e-mail com título "Chácara do presidente"

Na audiência, a defesa de Bittar questionou o caseiro a respeito de e-mails enviados por ele e usados pelo MP como provas do processo. Em uma das mensagens endereçadas à equipe de segurança de Lula, o caseiro pôs o título "Chácara do presidente". A defesa de Bittar perguntou a Vieira a motivação de atribuir a propriedade ao ex-presidente.

Caseiro fala de e-mails sobre "sítio do presidente"

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Segundo o caseiro, Bittar fez a brincadeira de colocar o sítio como uma espécie de premiação de uma partida de futebol no local. "Vamos fazer um time dos seguranças contra os amigos do presidente. E aí ele [Fernando Bittar] brincou: 'Quem ganhar aqui vai ficar com a chácara'. Aí o presidente ganhou e eu intitulei 'Chácara do presidente'", afirmou. O caseiro negou mais uma vez que o sítio pertencesse ao ex-presidente. "Era uma brincadeira", alegou.

A defesa questionou Vieira sobre outro e-mail no qual o caseiro escreve "sítio do presidente" no corpo do texto. A correspondência era com Fernando Bittar em maio de 2015.

Ele justificou "não ser bom em português" e ter se expressado errado. "Eu intitulei sítio do presidente, mas eu queria ter escrito sítio pro presidente", afirmou. Segundo Vieira, ele sabia do interesse de Lula em comprar o sítio de Bittar.

Lula, Léo Pinheiro e Gordilho se reuniram em sítio, diz caseiro

Segundo Vieira, Lula, Gordilho e Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, se reuniram no sítio antes da reforma da cozinha e da intervenção no lago da propriedade. 

"Eu não participei, eu só abri o portão. Eles conversaram, não fiquei por perto, não sei o teor da conversa", disse. Ele afirmou que, na ocasião, Fernando Bittar ligou para avisar que Léo Pinheiro iria até lá. O caseiro disse ainda que Bittar estava no sítio naquele dia, mas que já havia ido embora na hora da conversa.

Em 2017, veio a público uma foto que mostra Lula ao lado de Gordilho e Léo Pinheiro no sítio em Atibaia. À época, a defesa do petista afirmou que a fotografia "nada prova".

Em nota, a defesa de Lula disse que o depoimento de Elcio Vieira "esclareceu que o sítio de Atibaia pertence a Fernando Bittar, que o contratou e que sempre arcou com a sua remuneração e com todas as despesas de manutenção da propriedade". Os advogados minimizaram, ainda, a confirmação sobre o encontro entre Lula, Gordilho e Léo Pinheiro no sítio. "A afirmação de Vieira de que Leo Pinheiro esteve no sítio em 2014 não indica a prática de qualquer ilícito. Tampouco Lula exercia qualquer função pública naquela época".

Foto obtida em investigação mostrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (dir.) no sítio no interior de São Paulo com o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro - Polícia Federal - Polícia Federal
Foto obtida em investigação mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (dir.) no sítio em Atibaia (SP) com o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro
Imagem: Polícia Federal