Funcionário da OAS diz que sítio era de Lula e que obras deveriam permanecer em sigilo
Misael de Jesus Oliveira, encarregado de obras da OAS Empreendimentos, afirmou em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta segunda-feira (18) que trabalhou em reformas no sítio de Atibaia (SP) em 2014 e que “desde o começo” foi orientado a manter sigilo sobre os serviços realizados, já que a propriedade seria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Pediram para a gente manter sigilo, que a gente ia trabalhar no sítio do presidente", disse.
O funcionário da OAS depôs a Moro como testemunha de defesa de Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira que, assim como Lula, é réu na ação que investiga se o petista recebeu cerca de R$ 1 milhão das empresas Odebrecht, OAS e Schahin por meio de obras feitas no sítio, que era frequentado por ele e sua família.
O MPF (Ministério Público Federal) diz que a propriedade, registrada em nome de outras pessoas, pertence, na verdade, ao ex-presidente. A defesa nega.
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No depoimento, Oliveira disse ser funcionário da OAS desde 2013 e que, em 2014, foi convocado por seu gerente a trabalhar nas reformas no sítio com outros três colegas. Os serviços, segundo ele, foram realizados de março até antes das eleições daquele ano, em outubro.
De acordo com o funcionário, a OAS proibiu o uso de uniformes com o nome da empresa para a realização das obras.
Oliveira relatou ter trabalhado em reformas na cozinha do sítio e na impermeabilização de um lago. Entre material e mão-de-obra, ele estimou que os serviços tenham custado entre R$ 400 e R$ 500 mil.
Segundo Oliveira, todos os materiais necessários para as obras eram comprados em espécie, em seu nome, em depósitos localizados em Atibaia. Os recibos eram então apresentados à OAS, segundo ele.
Questionado por Moro se o procedimento de pagamento em espécie era normal na empresa, o funcionário disse que não. Ele afirmou que em outras obras o material é comprado pela empresa após serem feitas cotações de orçamentos.
Oliveira mencionou ainda um projeto de construção de uma capela no sítio. Ele disse ter entendido que a capela seria construída “assim que passasse a eleição”, “até para ver se a presidente Dilma ia ser reeleita”. O serviço, no entanto, não foi realizado. Questionado, Oliveira não soube dizer o motivo.
Marisa fazia pedidos “diretamente”; Lula mandava recados
O funcionário da OAS disse ainda que recebia pedidos diretamente da ex-primeira-dama Marisa Letícia, enquanto Lula passava recados através do caseiro do sítio, conhecido como Maradona. Em uma ocasião, segundo ele, o caseiro afirmou que Lula estava perguntando quando seriam feitos os serviços no lago, que estava vazando.
Enquanto trabalhou nas obras, Oliveira disse que Marisa Letícia estava no sítio às quartas-feiras e também em alguns fins de semana. O encarregado de obras também afirmou que viu Lula duas vezes no local, mas soube que o ex-presidente foi mais vezes. Isso porque, segundo ele, Maradona orientava os funcionários da obra a deixarem o sítio quando Lula e Marisa estivessem lá, “para eles ficarem mais à vontade”.
Oliveira disse também que fazia uma espécie de relatório dos serviços que eram feitos no sítio para passar a seu gerente e que usava esses documentos, feitos a mão, para pedir pagamento por hora extra. Segundo ele, a orientação era de que os serviços realizados em Atibaia fossem anotados como “sítio ZP”.
Bate-boca entre Moro e defesa
Próximo ao fim do depoimento, houve um novo bate-boca entre Moro e o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, após o magistrado indeferir uma pergunta da defesa.
“Mais uma vez o senhor está sendo hostil à testemunha. Sempre acontece quando a testemunha é contrária à tese da defesa”, disse Moro.
“Estou fazendo o meu trabalho aqui, que é a descoberta dos fatos”, respondeu Zanin.
“O juízo também faz o seu trabalho indeferindo perguntas impertinentes”, completou Moro.
Outro lado
Em nota, a defesa de Lula afirmou que o petista jamais praticou qualquer crime antes, durante ou após exercer o cargo de Presidente da República. Os advogados de Lula disseram ainda que a testemunha afirmou que as "supostas intervenções" ocorridas no sítio de Atibaia, que pertence a Fernando Bittar, teriam ocorrido em 2014, quando o petista não exercia qualquer cargo público.
"[A testemunha] também confirmou que jamais conversou com Lula ou recebeu qualquer valor proveniente de contratos da Petrobras, que é a base da acusação contra o ex-presidente e o argumento dos procuradores para escolher o juiz Sergio Moro para julgar a ação", diz o texto.
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