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Huck critica elite sobre pobreza: "Fazemos de conta que não é com a gente"

O apresentador de TV e investidor Luciano Huck durante palestra no Brazil at Silicon Valley, na Califórnia - Divulgação
O apresentador de TV e investidor Luciano Huck durante palestra no Brazil at Silicon Valley, na Califórnia Imagem: Divulgação

Christianne González

Do UOL, em Mountain View (Califórnia)

10/04/2019 18h00

O apresentador de TV Luciano Huck disse que é papel da elite brasileira mudar a realidade do país por meio do incentivo à educação e do combate à pobreza.

"A gente tem um quarto da nossa população morando mal e faz de conta que está tudo bem, que não é com a gente. Se você não está vendo, se morre, se sofre, tanto faz. Está longe de mim, não tem problema. Como assim?", disse, referindo-se ao comportamento das elites no país.

Huck estava em viagem pelos Estados Unidos, onde já havia palestrado em Cambridge e depois na Califórnia. O tema do evento de ontem era "Transformando comunidades por meio de tecnologia".

Ele falou sobre desigualdade social e foi aplaudido de pé por cerca de 700 participantes do "Brazil at Silicon Valley", evento de tecnologia que desde domingo à noite reúne bilionários, empreendedores, executivos e estudantes brasileiros e estrangeiros no Museu da História do Computador, em Mountain View.

Enfático, seu discurso por vezes soou como pito público --de alguém que já foi cotado para ser candidato à Presidência em 2018, mas desistiu de concorrer.

"'Nego' tomou 80 tiros do Exército no Rio de Janeiro. Hoje, caiu chuva de novo na Rocinha, no Vidigal, na Chácara do Céu, no [morro] Dois Irmãos. Não dá para não pensar no próximo, não dá para a gente achar que vai ficar mais rico, fazendo muitos negócios com os unicórnios (start-up de mais de US$ 1 bi) num país desigual como o Brasil. Não vai ficar de pé; não vai dar certo."

Na opinião do apresentador, os ricos brasileiros devem assumir parte da responsabilidade no combate ao problema social. "As elites brasileiras são muito passivas em relação a isso [a desigualdade]. Eu acho que a gente tem de assumir parte dessa responsabilidade pra valer, tem de ser parte da solução desse abismo social que a gente vive", afirmou.

Huck citou como exemplo países como Chile, que acabou com suas favelas há cerca de 30 anos, e a cidade de Nova York, nos Estados Unidos, onde a elite americana construiu escola, moradia e hospital para atender a imigrantes europeus pobres que foram morar na ilha no início do século 19.

Ele disse que a "cidade favela" o incomoda e defende o investimento em pessoas no Brasil. "A gente tem esse poder, de tentar resolver. Não é possível que no século 21, a gente não consiga apontar um caminho, uma solução a longo prazo."

Após o discurso, o apresentador contou a história de superação de um empreendedor e ex-morador da favela no Rio de Janeiro. A apresentação, no estilo "Caldeirão do Huck", seu programa semanal na Rede Globo, teve a presença do próprio Wanderson, maneira como o empreendedor foi apresentado no "Brazil at Silicon Valley".

Ele contou ter sido "fogueteiro" (pessoa que sinaliza a chegada da polícia) e depois traficante de drogas no Morro do Alemão. Hoje dirige a Recode, rede de inclusão digital com 416 unidades instaladas em comunidades de baixa renda no Brasil.

Disse que teve oportunidade de sair do crime aos 18 anos por meio da educação. "A gente só muda a visão do jovem dando o exemplo", disse. Durante entrevista a Huck no palco, ele se dirigiu à plateia e pediu ajuda para influenciar a política pública no Brasil.

A conversa durou cerca de uma hora e foi muito aplaudida ao final. Bilionários, como Jorge Paulo Lemann, outro apoiador do evento, parabenizaram Huck.