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Traquéia criada com célula-tronco é transplantada na Espanha

20/11/2008 10h00

São Paulo - Cientistas anunciaram ontem ter realizado com sucesso um transplante de traquéia criada com células-tronco da própria paciente. A técnica elimina a necessidade de medicamentos para evitar a rejeição. Os resultados foram publicados na revista médica The Lancet. O transplante foi feito na colombiana residente em Barcelona Claudia Castillo, de 30 anos, que sofreu de tuberculose durante vários anos.

Em março, como conseqüência da doença, seu pulmão esquerdo ficou gravemente danificado. Inicialmente, os médicos pensaram que a única solução seria extirpar órgão, mas o doutor Paolo Macchiarini, chefe de cirurgia torácica do Hospital Clínic, de Barcelona, propôs o transplante de traquéia.

Assim que os médicos encontraram a traquéia de um doador, cientistas da Universidade de Pádua, na Itália, retiraram a maioria das células, deixando apenas um tubo de tecido conjuntivo. Enquanto isso, doutores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, retiraram uma mostra da medula óssea da bacia de Claudia e usaram as células-tronco para criar milhões de células de cartilagem e tecido para cobrir a traquéia doada.

Especialistas da Universidade de Milão, na Itália, usaram então um dispositivo especial para colocar a nova cartilagem e o novo tecido na traquéia doada, que foi então transplantada para Cláudia em junho. "Eles conseguiram criar uma estrutura biológica funcional que não pode ser rejeitada", disse Allan Kirk, da Sociedade Norte-americana de Transplantes. "É um avanço importante, mas ainda falta muito para construir um órgão completo."

Reação

Até agora, Claudia não demonstrou sinais de rejeição e não está tomando medicamentos para suprimir o sistema imunológico, que podem causa efeitos colaterais como hipertensão, insuficiência renal e câncer. Entre aqueles que podem se beneficiar da nova técnica, estão crianças nascidas com problemas nas vias respiratórias e pessoas com cicatrizes, tumores e outros problemas graves na traquéia. Há ainda a possibilidade de o procedimento ser adaptado para outros órgãos, como intestino grosso, bexiga e aparelho reprodutivo.

O cirurgião Patrick Warnke, da Universidade de Kiel, na Alemanha, disse que os médicos poderão, algum dia, criar órgãos em laboratório com células-tronco de seus pacientes. "Ainda faltam anos para isso, mas precisamos de procedimentos como esse para resolver o problema." As informações são do Jornal da Tarde.

AE-AP