Brasil não registrava microcefalia, diz vice-ministro de Saúde da Colômbia
Num tom mais cauteloso que o exibido por autoridades sanitárias brasileiras, o vice-ministro de Saúde da Colômbia, Fernando Gomez, diz não haver ainda elementos suficientes para apontar o vírus da zika como responsável pelo aumento de casos de microcefalia. "Existe uma relação, mas é preciso fazer mais estudos para se comprovar a causalidade." Em entrevista, Gomez não hesita em dizer que há uma subnotificação histórica de microcefalia no Brasil e afirma que a opção do aborto é importante para as mulheres.
Gomez afirma que os dados do Brasil mostram haver uma associação entre a zika e a microcefalia, mas que isso "não é suficiente para se estabelecer a causalidade" e afirma ser necessário "esperar outros estudos". Questionado sobre o que poderia estar associado esse aumento, o vice-ministro da Saúde da Colômbia, afirmou que o Brasil "não registrava o número de casos de microcefalia que de fato deveria ocorrer".
Para Gomez, "uma das possibilidades é de que a situação do zika tenha chamado a atenção para um problema que já estava presente, mas que até então não era notado. No Brasil eram informados, em média, 140 casos anuais de microcefalia relacionados a outras causas, número comparativamente bem menor do que o daqui. Registrávamos 150. Brasil e Colômbia têm taxas semelhantes de fertilidade. Se aplicássemos nossos indicadores para o Brasil, o número de casos giraria em torno de 700".
Gomez entende que seria importante "investigar outras causas, como problemas ambientais e a interação entre enfermidades", por exemplo. Ele afirma que na Colômbia a epidemia de dengue e chikungunya já passou. "Aconteceram em épocas distintas. Não sei se o mesmo aconteceu no Brasil", diz.
Perguntado se as epidemias simultâneas poderiam exacerbar o risco de microcefalia e se o Brasil foi precipitado ao fazer essa relação, o vice-ministro entende que "todo o país tem a responsabilidade de vigiar um aumento expressivo de casos. E reportá-lo". E completa, "penso que o problema do Brasil não está nas projeções, mas na retrospectiva. Como os números existentes até a epidemia de zika eram subnotificados, não há como estipular qual foi o aumento exato do número de casos pós-epidemia".
Sobre um possível aumento de abortos na Colômbia por causa do medo da zika provocar microcefalia, Gomez acredita que "é provável que muitas mulheres lancem mão desse direito". "A Colômbia tem um conjunto de regras sobre aborto relativamente progressista. Por isso, Alertamos as mulheres sobre os seus direitos, sobre as possibilidades previstas em lei para a interrupção da gestação, mas não podemos em última instância fazer uma recomendação expressa. A decisão é da mulher e de seu companheiro", avalia.
Para o colombiano a interrupção da gravidez "é uma opção importante para a mulher, para o casal, principalmente frente a uma enfermidade grave, com consequências importantes que terão reflexos por toda a vida. Uma das justificativas mais usadas aqui para interrupção é o risco de sofrimento mental da mulher", diz.
Cruz afirma ainda que um dos aspectos mais importantes é estimar a incidência de microcefalia após o surgimento da epidemia. "É uma diferença com o Brasil, onde o fenômeno foi descoberto quando estava em curso. Aqui podemos acompanhar desde o início. Estamos contando os casos de zika e observando as gestantes. Caso a caso, semana a semana. Isso nos permitirá estimar com maior rapidez as taxas de incidência da infecção, a relação entre zika e microcefalia e a influência no aumento de Guillain-Barré."
Segundo político, o maior problema na Colômbia relacionado ao zika são as cidades distantes, "onde a comunicação não é tão boa". "Nosso receio é de que haja casos não diagnosticados, que as grávidas com zika não sejam acompanhadas. Daí, nosso esforço para reduzir os riscos de que isso aconteça. Investimos na informação. E a população está se dando conta. Desde janeiro, a palavra mais buscada pelos colombianos no Google é zika."
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