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Com estoque no fim, cidades restringem vacinação e preveem parar campanhas

Rio informou ter doses somente até amanhã, e Salvador suspendeu a vacinação de profissionais de saúde - Erbs Jr./FramePhoto/Estadão Conteúdo
Rio informou ter doses somente até amanhã, e Salvador suspendeu a vacinação de profissionais de saúde Imagem: Erbs Jr./FramePhoto/Estadão Conteúdo

Fabiana Cambricoli, Érika Motoda e Marcio Dolzan

Em São Paulo e no Rio de Janeiro

12/02/2021 14h00

Com o estoque de vacinas perto do fim e sem previsão de recebimento de mais doses nos próximos dias, prefeituras de algumas capitais já restringem o público-alvo inicialmente definido ou preveem interromper a campanha de imunização contra a covid-19 na próxima semana. Ao menos sete capitais já admitem essa possibilidade, segundo levantamento do Estadão.

O Rio afirmou ter doses somente até amanhã. "O município tem em estoque vacinas para atender a demanda até sábado, além da segunda dose dos que receberam a primeira. O município conta com a chegada de novas doses a partir da próxima semana. Caso isso não aconteça, o calendário será interrompido", disse a prefeitura.

Na Grande Rio, as cidades de São Gonçalo e Niterói recomeçaram a vacinação ontem após interrupção nos primeiros dias desta semana. Uma dose extra de imunizantes foi enviada, mas a vacinação nas duas cidades poderá sofrer nova suspensão.

Em São Gonçalo, a previsão é de que a nova remessa dure apenas três dias. Em Niterói, a prefeitura estima que as doses recebidas atendam somente idosos acima de 88 anos.

Salvador suspendeu a vacinação de profissionais de saúde e reviu o cronograma que previa iniciar nesta semana a imunização de maiores de 80 anos.

Sem doses suficientes para dar seguimento ao planejamento, a capital baiana restringiu a aplicação somente a maiores de 85 anos e não tem mais previsão para o início da vacinação dos idosos entre 80 e 84.

Na última terça-feira (9), a cidade chegou a anunciar a interrupção completa da campanha, mas recuou no dia seguinte após receber oito mil doses, unidades que estão sendo usadas no público de 85 anos ou mais.

Florianópolis só tem mais 1,6 mil doses disponíveis e estima que o estoque termine em três ou quatro dias. Em Curitiba, a estimativa da prefeitura é de que as doses disponíveis durem somente até quarta-feira da semana que vem.

Cuiabá estima ter doses suficientes somente para mais cinco dias de campanha. A vacinação de profissionais de saúde foi interrompida mesmo sem que todo o público-alvo fosse imunizado. A prefeitura diz ter faltado doses para 6 mil desses trabalhadores.

A cidade recebeu uma nova remessa de cerca de três mil doses nesta semana, que já está reservada para os idosos com 85 anos ou mais. Se a capacidade de vacinação de 600 inoculações diárias for atingida, diz o órgão, as doses podem acabar já no início da semana que vem.

Em Aracaju, a previsão é de que, a partir da próxima semana, somente aqueles que precisam receber a segunda dose sejam atendidos. O estoque para as primeiras aplicações já deve terminar no fim de semana.

"A expectativa é de vacinar mais de quatro mil profissionais de saúde até sábado e finalizar a imunização de idosos com mais de 90 anos na sexta-feira", disse a Secretaria Municipal da Saúde da capital sergipana.

Em Natal, o cenário é parecido. Do estoque disponível de 15 mil vacinas, somente 1,7 mil doses podem ser utilizadas em novos pacientes, já que 13,3 mil unidades estão separadas para a segunda dose.

Para Carlos Eduardo Lula, presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde), a situação vai se repetir em muitos municípios. "A tendência é passarmos alguns dias sem vacinação."

Para Renato Kfouri, diretor da SBim (Sociedade Brasileira de Imunizações), se não houver entrega constante de vacinas, a interrupção ocorrerá toda hora.

"Se houvesse um cronograma e as pessoas soubessem com um mês de antecedência quando serão vacinadas, seria o melhor cenário. Mas infelizmente dependemos do abastecimento, e a pouca produção de vacina mundial não permite essa organização", diz.

Sob controle

Outras capitais consultadas pelo Estadão disseram que, apesar da limitação de doses, devem seguir o cronograma previsto e não devem interromper a campanha. É o caso de São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia, Vitória e Recife. As demais capitais não responderam ou não detalharam a duração do estoque disponível.

O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, reconhece a escassez de doses e a necessidade de entrega de novos lotes, mas afirma que, na capital paulista, todos os públicos já anunciados estão com sua vacinação garantida.

"A gente não vai interromper por enquanto porque estamos sendo muito rigorosos nos critérios. Se ampliássemos um pouco o público, faltariam doses", disse.

Questionado, o Ministério da Saúde afirmou que enviou ofício aos estados e municípios no dia 8 alertando para o risco de falta de vacinas caso a ordem priorizada pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) não fosse seguida.

A pasta não informou quando devem ser entregues novas doses das vacinas CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, e o imunizante de Oxford/AstraZeneca, fornecida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Disse, apenas, ter recebido do laboratório indiano Bharat Biotech a garantia de entrega de quatro milhões de doses 20 dias após a assinatura do contrato, o que ainda não ocorreu.

O Butantan já declarou em outras ocasiões que entregará novo lote a partir de 23 de fevereiro. Já a Fiocruz diz que fornecerá novas doses em março.