Topo

"Mulheres devem ter consciência de que o câncer de mama pode ocorrer em qualquer idade", diz oncologista

As mulheres devem conhecer os próprios seios e prestar atenção não apenas em possíveis caroços, mas também mudanças na cor ou no formato nos mamilos, secreções ou qualquer outra alteração - Thinkstock
As mulheres devem conhecer os próprios seios e prestar atenção não apenas em possíveis caroços, mas também mudanças na cor ou no formato nos mamilos, secreções ou qualquer outra alteração Imagem: Thinkstock

Do UOL

Em São Paulo

02/09/2012 07h00

Médicos de diferentes países ainda discutem sobre os riscos e benefícios de se pedir mamografias regulares a mulheres com idade entre 40 e 49 anos, já que o risco de ter a doença nessa faixa etária é menor que o da população acima dos 50. E como diagnosticar o câncer de mama precocemente antes dos 40, então?

A resposta para essa questão não é fácil, mas pode ser resumida em duas palavras: informação e autoconhecimento. A opinião é do oncologista canadense Sunil Verma, professor assistente da Universidade de Toronto e integrante do movimento Rethink Breast Cancer (rethinkbreastcancer.com). O projeto é voltado para mulheres jovens diagnosticadas com câncer de mama ou simplesmente preocupadas com a doença.

“As mulheres devem ter consciência de que o câncer de mama pode ocorrer em qualquer idade”, afirma o oncologista, que esteve semana passada em São Paulo. O objetivo do médico não é criar pânico – afinal, o câncer em mulheres jovens (com menos de 40 anos) é pouco comum. Segundo Verma, representa cerca de 15% do total de casos.

Mas ter essa noção pode ser fundamental para tratar a doença a tempo, caso ela aconteça. "As mulheres precisam de empoderamento - ter informação, educação e saber que é preciso fazer exames de prevenção", acredita. "Costumo dizer às pacientes que ninguém conhece melhor o corpo delas do que elas próprias."

O principal conselho do oncologista é olhar-se no espelho, conhecer os próprios seios e prestar atenção não apenas em possíveis caroços, mas também mudanças na cor ou no formato nos mamilos, secreções ou qualquer outra alteração. Essa autoconsciência é o que muitas vezes leva alguém a detectar a doença em estágios precoces, quando há mais opções de tratamento e chances de sucesso.

Quem possui casos da doença na família deve ter atenção redobrada, mas a proporção de mulheres que desenvolvem câncer por causa de uma mutação genética herdada é muito pequena.

O movimento Rethink Breast Cancer tem usado campanhas criativas para conscientizar mulheres jovens da importância de conhecer o próprio peito, observá-lo e tocá-lo com frequência.  No ano passado, por exemplo, lançou um aplicativo para iPhone e Android que faz rapazes bonitões e sem camisa pipocarem na tela regularmente, lembrando a usuária de checar os seios.

  • O movimento Rethink Breast Cancer lançou no ano passado um aplicativo para celular que faz homens bonitões lembrarem a usuária de tocar nos seios o observá-los com regularidade

Números

De acordo com Verma, os casos de câncer de mama em jovens não têm aumentado. “Mas eles ocorrem e é preciso ter consciência disso”, enfatiza.

No Brasil, não existem estatísticas que indiquem o número de mulheres afetadas pela doença antes dos 40 anos. Mas o médico Ronaldo Corrêa da Silva, técnico da divisão de detecção precoce do Instituto Nacional de Câncer (Inca), também afirma que não há aumento de casos nessa população.

Mas então por que as pessoas, e mesmo alguns oncologistas, têm a sensação de que hoje é mais fácil encontrar mulheres na faixa dos 30 anos com a doença? O técnico explica que, se nos países desenvolvidos 80% dos casos ocorrem após os 50 anos, em países em desenvolvimento essa proporção pode ser um pouco diferente, já que o percentual de jovens é bem maior.

“O levantamento de um hospital pode indicar que houve mais atendimentos a pacientes jovens, mas esse dado não pode ser aplicado à população daquela cidade ou Estado”, acrescenta, também.

Além disso, ele lembra que mulheres em idade fértil em geral são mais ativas em relação à prevenção de doenças; elas vão mais ao médico e fazem mais exames. “O que se vê é que mulheres mais velhas, que são as que têm mais risco, são as que menos fazem mamografias”, observa.

O técnico do Inca explica que a indicação de exames para prevenção do câncer antes dos 40 em geral ocorre apenas para aquela parcela pequena de pacientes que têm histórico familiar. “Mesmo para essas mulheres, no entanto, ainda não existe consenso sobre qual o tipo de exame mais indicado.”

Silva esclarece que evitar exames desnecessários não é só uma questão de economia. “Há risco de falsos positivos, de encontrar tumores que jamais cresceriam e mesmo o risco de se induzir um câncer pela exposição à radiação”, diz.

  • Praticar 40 minutos de atividade física quatro vezes por semana previne o câncer e ajuda a evitar a recorrência do tumor em quem já teve a doença

Acima de tudo, é importante que as mulheres visitem o ginecologista anualmente para fazer o exame clínico das mamas. A partir da análise do histórico da paciente e dos fatores de risco, o médico pode decidir qual exame pedir e quando. E, como o oncologista canadense, o médico do Inca destaca a importância do autocuidado ("que não deve ser confundido com autoexame").

Prevenção

Assim como a atenção a possíveis alterações nos seios, é importante que as mulheres conheçam os fatores de risco para o câncer, como o sedentarismo.

“Quarenta minutos de atividade física quatro vezes por semana ajuda a prevenir a doença e, em mulheres que já tiveram câncer, evitar a recorrência”, informa Verma.

Evitar o excesso de álcool, limitando o consumo a no máximo quatro doses por semana, é outra medida citada pelo oncologista.

Quanto à dieta, Verma acredita que a moderação é a palavra de ordem. É recomendável evitar o excesso de carne vermelha, por exemplo, mas não é preciso cortar o alimento do cardápio.

O único alerta que o médico faz para mulheres que já foram diagnosticadas, ou que têm risco alto de ter a doença, é evitar produtos à base de soja, que são ricos em fitoestrógenos.

  • O câncer de mama é o segundo mais frequente no mundo e é raro antes dos 35 anos