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Se não consegue vencer o sedentarismo, recorra à ajuda terapêutica

Conversando com um psicólogo, o indivíduo encontrará incentivos para mudar seu cotidiano - Thinkstock
Conversando com um psicólogo, o indivíduo encontrará incentivos para mudar seu cotidiano Imagem: Thinkstock

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

05/04/2013 07h00

O sedentarismo, que pode desencadear muitos problemas de saúde, já é considerado uma epidemia. Só para se ter ideia, levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que apenas 10,2% da população acima de 14 anos praticam alguma atividade física no país. A boa notícia é que a psicologia pode ajudar os “paradões” a mexer o corpo - um alento para quem sente a consciência pesar ao ouvir sobre o Dia Mundial da Atividade Física, celebrado neste sábado (6).

“Mudar este quadro está na lista de muitas pessoas que pouco se movimentam, mas nem todas têm sucesso. O motivo é que elas não estabeleceram uma relação prazerosa com a ginástica ou o esporte, o que torna o início desconfortável. Assim, há enorme dificuldade para sair da zona de conforto, deixando a impressão de que é quase impossível chegar lá”, analisa Carla Di Pierro, psicóloga especialista em Psicologia do Esporte e Clínica Analítico Comportamental.

Uma abordagem que pode alterar essa situação é tratar o sedentarismo como uma espécie de doença, que precisa de tratamento, como qualquer outra.

“A psicoterapia auxilia na medida em que faz a pessoa compreender o quanto é essencial alterar o estilo de vida, criando hábitos que promovam saúde, como o exercício”, salienta Cristiane Moraes Pertusi, doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela USP (Universidade de São Paulo).

Para Carla Di Pierro, há dois caminhos que fazem alguém ser sedentário: ou o indivíduo não teve, em sua história, uma relação construtiva e proveitosa com a atividade física; ou mexeu o corpo na infância e adolescência, mas, atualmente, isso não está na sua lista de prioridades.

Quem é ativo, acredita a terapeuta, tem uma trajetória positiva nesse campo e, por isso, faz ginástica ou esporte porque gosta, e não por obrigação. “Há pessoas que até podem ter iniciado por pressão externa, porém se continuam firmes e fortes é porque criaram uma correlação diferente com o exercício.”

Prazer é fundamental

Tal vínculo saudável envolve fazer algo de que se goste, perceber a evolução e os resultados e associar o exercício a consequências positivas como conhecer pessoas e conquistar novos amigos.

“Ter uma meta e objetivos claros também ajuda bastante, pois aumenta a perseverança e a garra para alcançar algo mais adiante”, diz Carla Di Pierro, que desenvolveu um programa de adesão à pratica de atividade física. “Há ferramentas que ajudam o paciente a mudar seus padrões de comportamento, abrindo a possibilidade de ver, sentir e fazer diferente, saindo do familiar, do óbvio, e entrando em contato com o novo.”

A malhação, acredita Cristiane Pertusi, deve ser estimulada e realizada desde a infância. “Nosso cérebro precisa se acostumar com a ginástica ou o esporte, obrigando o organismo a gastar certa quantidade de energia regularmente. Isso deve ser mantido para que, com o passar da idade, seja natural praticar uma modalidade. Em outras palavras, o corpo humano não pode se familiarizar e se acomodar ao estilo sedentário.”

Disposição para tudo

Conversando com um psicólogo, o indivíduo encontrará gatilhos para mudar seu cotidiano. “O exercício, de forma geral, está presente na vida de quem tem energia para investir em áreas distintas do mundo”, considera Pertusi. Com consciência de todos os benefícios que oferece – e dos malefícios e riscos da inatividade para a saúde –, é possível adquirir força de vontade para se cuidar e buscar um corpo harmonioso e saudável.

“Às vezes, a pessoa se torna sedentária porque o ritmo de vida é tão intenso que ela acaba sucumbindo ao cansaço, ao desânimo, à apatia”, completa Elcio Carvalho Neto, professor de musculação da Academia Competition, em São Paulo.

Como consequência, ele adverte, não raro aparecem problemas como obesidade, estresse, depressão, disfunções cardiorrespiratórias e outras associadas à inatividade. “Quem não se entrega ao ócio, se previne de vários destes distúrbios. E, como apresenta massa musculoesquelética evoluída, adquire uma proteção articular significativa. Por isso, cabe a nós, profissionais da saúde, desenvolvermos estratégias que levem os sedentários a mudar seus hábitos, almejando qualidade de vida e assimilando que, antes de cuidar de outras áreas – como estudo e trabalho –, é essencial olhar para si mesmo. Dessa forma, eles evitarão muitos problemas físicos, pessoais e psíquicos”, ressalta Elcio Neto, que é pós-graduado em Treinamento Desportivo.

Números são preocupantes

Informações colhidas por pesquisadores da revista de medicina britânica The Lancet apontam que 1/3 da população mundial é fisicamente inativa. “Os estudos ainda indicaram que o percentual maior de sedentários é entre as mulheres: 34%, contra 28% dos homens”, informa o professor da Competition. A maioria dos adultos sedentários é encontrada em Malta (71%), Sérvia (68%) e Reino Unido (63%), enquanto a Grécia e a Estônia estão entre as nações que mais se movimentam, com apenas 16% e 17%, respectivamente, de paradões.

Nos Estados Unidos, mais de 60% dos adultos e cerca de 50% dos adolescentes engordam a estatística, segundo o National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion. No Brasil, dados do IBGE revelam que 80,8% dos adultos são sedentários. Em levantamento na cidade de São Paulo, este número chegou a 68,7%. Mais: cerca de 48% das mulheres e 50% dos homens acima de 20 anos estão acima do peso.

A psicologia do esporte, felizmente, vem trabalhando para reverter a tendência. “O indivíduo precisa entender sua situação atual e suas dificuldades, de modo a delinear um plano que o permita incluir o exercício na rotina. Uma das formas para isso é o estabelecimento de metas, o monitoramento delas e os mecanismos de recompensas para a prática – como perda de peso, aquisição de um corpo bonito e saudável, prazer que o exercício traz”, atesta Carla Di Pierro, que atua como terapeuta do Time Brasil, projeto do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para preparação de atletas visando as Olimpíadas do Rio 2016.