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80% dos usuários de crack em capitais usam a droga em espaço público

Do UOL, em São Paulo

19/09/2013 11h00Atualizada em 19/09/2013 13h05

Cerca de 80% dos usuários brasileiros de crack e/ou drogas similares a utilizam em espaços públicos, embora esses entorpecentes sejam ilegais no país. A conclusão consta do levantamento “Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País”, divulgado nesta quinta-feira (19), pelo Ministério da Justiça em parceria com o Ministério da Saúde. O percentual é praticamente idêntico nas cinco regiões do país.

De acordo com o levantamento, entende-se como público os locais de circulação e interação de pessoas ou de locais possíveis de serem visualizados ou visitados facilmente por não se tratarem de espaços privados.

Pelo menos 370 mil pessoas usaram crack ou drogas similares regularmente nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal em 2012, de acordo com a pesquisa. Destas, 14% foram menores de idade, ou aproximadamente 50 mil crianças e adolescentes. As capitais do Nordeste, proporcionalmente, foram as que somaram o maior número de usuários entre os menores de idade, correspondendo a pelo menos 28 mil pessoas, segundo o levantamento.

  • Reprodução/Arte UOL

    Estimativas de uso regular nos últimos seis meses de drogas ilícitas (exceto maconha) e de crack e/ou similares, nas capitais do Brasil, por macrorregião

Dentro do levantamento, foram considerados o uso do crack e de drogas similares como a pasta-base, a merla e o oxi, que também são consumidos em cachimbos, latas e copos. O levantamento considerou as definições dos próprios usuários, sem comprová-las por exames clínicos.

Definiu-se como “uso regular” o consumo da droga por pelo menos 25 dias nos últimos seis meses, seguindo definição da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) referente ao uso contínuo de entorpecentes.

A estimativa encontrada nas capitais e no DF para a população desses municípios que consome crack e/ou similares de forma regular é de, aproximadamente, 0,81%, o que representaria 370 mil usuários.

Nesses mesmos municípios, estima-se que o número de usuários de drogas ilícitas em geral (com exceção da maconha) foi de 2,28%, ou seja, aproximadamente 1 milhão de pessoas. Os usuários de crack e/ou similares correspondem a 35% desses consumidores de drogas ilícitas nas capitais do país.

Perfil dos usuários

O Ministério da Justiça também divulgou que os jovens entre 18 a 30 anos (predominantemente do sexo masculino) representam, aproximadamente, metade dos usuários de crack do país.

O levantamento leva em conta os usuários das capitais, do DF e de nove regiões metropolitanas e municípios de médio e pequeno porte do país em 2012.

  • Reprodução/Arte UOL

    Número de vezes que as mulheres usuárias de crack/similares engravidaram desde que iniciaram o uso de crack e/ou similares, segundo local

Os homens também usam por mais tempo a droga (83,9 meses), frente aos 72,8 meses, em média, das mulheres. No entanto, elas consomem mais pedras de crack por dia do que eles: 21, em média, contra 13 dos homens, segundo o perfil de usuários.

Elas também lideram quando o assunto é se prostituir para sustentar o vício, isto é, trocar sexo por dinheiro ou mesmo por drogas: 29,9% das usuárias contra apenas 1,3% dos usuários.

A maioria dos usuários são solteiros (60%) e grande parte não usa preservativos quando fazem relações sexuais por via vaginal (39,5%). De acordo com o perfil, pelo menos 5% destes usuários já foram infectados pelo vírus HIV no país, sendo 5,9% entre os usuários das capitais e 3% entre os moradores dos municípios.

Entre as mulheres usuárias de crack e/ou similares que participaram da pesquisa, cerca de 10% relataram estar grávidas e outras 10% disseram que não sabiam se estavam. Entre as mulheres usuárias pelo país, 22,8% afirmaram já ter engravidado duas a três vezes desde que iniciaram o uso da droga (24,2% das usuárias das capitais); 17,3% engravidaram pelo menos uma vez (15,3% nas capitais) e 6,5% engravidaram quatro vezes ou mais desde o início do consumo (7,3% nas capitais).

No entanto, a maioria das usuárias do país (53,4%) disse nunca ter engravidado desde que começou a consumir a droga (53,2% nas capitais).

Ainda entre os usuários de crack, apenas 20% são brancos e 80% ‘não-brancos’ (pretos e pardos).

O perfil mostra ainda que a maioria dos usuários (55%) estudou até a 8ª série do Ensino Fundamental e menos de 5% tem nível superior completo ou incompleto.

Entre os usuários brasileiros de crack e/ou drogas similares, aproximadamente 40% vivem nas ruas; dado superior nas capitais (47,3%) e menor nos municípios (20%). E a imensa maioria (64,9%) faz sua fonte de renda por meio de trabalhos autônomos ou bicos – dado superior nas capitais (67,6%) e também alto nos municípios (59,2%) – e por ganho de esmolas (12,8% dos usuários brasileiros no total; 13,4% nas capitais e 11,6% nos municípios).

Ainda segundo o perfil traçado pelo governo, mais da metade dos usuários de crack e/ou similares já foi preso pelo menos uma vez, sendo que 41,6% detidos no último ano.

As principais causas da detenção são pelo uso ou posse de drogas (13,9%), assalto ou roubo (9,2%), furto, fraude ou invasão de domicílio (8,5%) e tráfico ou produção de drogas (5,5%).