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Dor muscular nunca deve ser ignorada; veja mitos e verdades sobre o tema

Cerca de 90% das lesões esportivas acontecem em quadris, coxas, joelhos, pernas, tornozelos e pés - Thinkstock
Cerca de 90% das lesões esportivas acontecem em quadris, coxas, joelhos, pernas, tornozelos e pés Imagem: Thinkstock

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

30/09/2013 07h05Atualizada em 24/04/2015 12h55

É difícil encontrar alguém que não sofreu com dores musculares pelo menos uma vez na vida. Também chamada de mialgia, acomete qualquer parte do corpo devido à tensão nos músculos. As causas mais comuns são esforço excessivo, provocado por sobrecarga além da capacidade usual do indivíduo, seja em treinos esportivos ou não, alterações posturais ou até estresse.

“Tais ocorrências dolorosas também podem ser resultado de traumatismo repetitivo ou processos inflamatórios”, salienta Jomar Souza, especialista em Medicina do Exercício e do Esporte, ex-presidente e membro da SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte).

Vale lembrar que a dor é um mecanismo de autoproteção do corpo, uma espécie de alerta para a possibilidade de surgirem lesões. Diante de estímulos químicos, térmicos ou mecânicos, as terminações nervosas “avisam” ao organismo que há o risco de o músculo ser danificado.

Dor mais comum

De todas as dores que afetam o ser humano ao longo de sua existência, as musculares, ou miofasciais, são as mais prevalentes. “Elas podem ser agudas ou crônicas: no primeiro caso, surgem depois de um esforço físico exagerado, e se manifestam durante um período específico de tempo; no segundo, são persistentes. No exame médico ou fisioterápico, o paciente reclama quando o ponto de irritabilidade muscular é pressionado”, destaca Maurício Garcia, fisioterapeuta do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Está claro, então, que há diferentes tipos de dores musculares. Conforme esclarece Jomar Souza, há aquelas que ocorrem de forma difusa e bilateralmente, associadas ao reinício de atividades físicas ou à mudança para mais carga ou intensidade do treinamento; as causadas por lesões agudas, como estiramentos e distensões; e as provocadas por doenças reumáticas como a fibromialgia.

Alvo: membros inferiores

Quando ligada à atividade física, há muitas particularidades em relação à dor muscular. Os membros inferiores, por exemplo, são os mais atingidos. “Cerca de 90% das lesões esportivas acontecem em quadris, coxas, joelhos, pernas, tornozelos e pés”, informa Moisés Cohen, professor titular e chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp e diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte (SP).

Exercícios vigorosos em não praticantes de ginástica é um fenômeno muito comum, ele explica. “O desconforto será pior durante a contração muscular ativa e no alongamento passivo. Geralmente, se inicia algumas horas após o término da malhação e tem seu pico de intensidade em 24 ou 48 horas.” Dentre as lesões esportivas, alguns levantamentos mostram que 45% se localizam no joelho, 9,8% no tornozelo e 7,7% no ombro.

É bom ficar atento a dores musculares persistentes, pois podem revelar a presença de problemas mais sérios. “Se o desconforto é provocado por exagero nos exercícios ou má postura, por exemplo, os grupos musculares sofrerão logo na sequência, com regressão da dor entre 48 e 72 horas. Qualquer outro tipo deve ser avaliado por um médico especializado”, adverte Souza.

O ortopedista Moisés Cohen enumera os sintomas que merecem atenção: dor no peito, que irradia para o braço, indicando algum problema cardiológico; dor nas costas, acompanhada de irradiação, formigamento e diminuição de força motora nos membros inferiores, que precisa ser avaliada para descartar possibilidade de hérnia de disco; dor no corpo todo, associada a desânimo e falta de energia, provavelmente decorrente de depressão e fibromialgia.

Vale ficar atento a distúrbios hormonais, como hiper e hipotireoidismo, que promovem dores musculares e estão geralmente ligados a sinais como aumento ou diminuição da sensação de calor ou frio; disfunções hidroeletrolíticas, como hiper ou hipocalemia (alteração de controle de potássio no sangue), apresentando aumento de incidência de dores musculares e câimbras; fadiga crônica, fibromialgia, infecções virais e bacterianas, gripes e lúpus, que desandam dores musculares; e, finalmente, as estatinas, medicamentos prescritos para tratamento de colesterol alto, igualmente provocadores do problema.

Pausa é essencial

Outro fator importante a considerar é que as dores musculares também surgem por movimentos repetitivos. Basta lembrar dos digitadores que, comumente, sofrem com desconforto nos músculos dos antebraços.

“O ideal é evitar movimentos repetitivos por períodos superiores a uma hora. É essencial que, após este intervalo, a pessoa pare e faça uma pausa regular, aproveitando para relaxar e alongar a parte que está sendo exigida”, sugere Jomar Souza.

“Jamais devemos exceder a capacidade de uma das inúmeras estruturas musculares que temos. Tal esforço recorrente leva à intolerância local, com dores e lesões”, lembra Maurício Garcia.

Mas não pense que é possível tratar o problema de forma "caseira", sem recorrer ao médico. Até o uso de pomadas e relaxantes locais deve ser prescrito por um médico. “Não dá para ingerir nenhum medicamento por conta própria. A automedicação não vale nem para a aplicação de gelo ou água quente”, diz Jomar Souza.

Para Moisés Cohen, o correto é, a qualquer suspeita de lesão, procurar ajuda especializada imediatamente. “Só assim é possível avaliar a extensão e intensidade do distúrbio para tratá-lo adequadamente.”