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Beber ajuda na hora do sexo? Veja o que é mito ou verdade sobre álcool

Ana Sachs

Do UOL, em São Paulo

28/02/2014 06h00Atualizada em 24/04/2015 12h48

Para muita gente, Carnaval é sinônimo de bebedeira e paquera. Mas nem sempre as duas coisas são compatíveis. O álcool é um depressor do sistema nervoso central, por isso deixa a pessoa mais desinibida em um momento inicial. Mas, se o consumo for excessivo, o efeito pode ser contrário e a excitação dá lugar à sonolência, prejudicando o desempenho sexual.

“O álcool em excesso prejudica a circulação e a parte neurológica do indivíduo, podendo levá-lo a falhar na hora 'H' ou a ter um desempenho insatisfatório”, explica o urologista Valter Javaroni, membro do departamento de sexualidade humana da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

A bebida alcoólica é um assunto sério e merece atenção, em especial nesta época do ano, em que as pessoas costumam extrapolar nas doses por dias seguidos e, muitas vezes, pegar a estrada na sequência. No ano passado, sete pessoas morreram nas estradas federais do país no feriado de Carnaval por conta do excesso de bebida. Além disso, outras mortes, por falta de atenção (32 casos), ultrapassagem indevida (25) e velocidade incompatível (16) também podem ter tido relação com a ingestão de álcool.

As bebidas alcoólicas, quando ingeridas em grandes quantidades, causam alterações no cérebro que levam à perda do senso de organização, falta de coordenação dos movimentos, perturbação completa do sistema nervoso, motor e cognitivo. “A pessoa embriagada não consegue reagir no devido tempo aos estímulos do dia a dia, tem dificuldade para dirigir, realizar tarefas e trabalhar”, diz o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira e membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Mesmo em doses bem pequenas, o álcool já é capaz de prejudicar o bom senso de uma pessoa e influenciar no autocontrole. “Uma mera dose já representa um risco, que varia de pessoa para pessoa. A bebida deixa o indivíduo mais desinibido e relaxado, e também sem limites e sem noção do perigo”, destaca Lima. Por isso, se beber, não dirija.

O excesso de bebida prejudica, ainda, a memória. O álcool é um depressor das células nervosas e, em doses altas, pode provocar perturbação no nível de consciência do indivíduo, gerando dificuldade no armazenamento de informações e deficit da capacidade de apreender dados naquele momento. Portanto, aquele amigo que exagera na bebida e depois diz que não lembra o que aconteceu provavelmente está falando a verdade.

Bebedor social

Há muitas pessoas que bebem apenas nos fins de semana, e acham que desta forma estão livres dos males do álcool. Isso depende, no entanto, da quantidade que a pessoa ingere. “Bebedor social é aquele que bebe apenas em festas, e não todos os fins de semana. Há muita confusão sobre esse termo. Eu já tive paciente que dizia que só bebia aos sábados, mas somente neste dia ele ingeria 12 litros de cerveja”, conta o cardiologista Nabil Ghorayeb, presidente do Departamento de Exercícios e Reabilitação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Apesar de ter um grau menor de álcool, a cerveja pode ser tão ou mais nociva para o organismo do que outras bebidas, se consumida em doses altas. “É a quantidade ingerida que será nociva. Por isso, é importante que se conheça a graduação alcoólica das bebidas. Por exemplo, as cervejas têm, em média, 6% de álcool, os vinhos, em torno de 12%, o uísque, o conhaque e algumas cachaças, em torno de 39%; porém há cachaças em que a graduação alcoólica chega a 50%”, ensina o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).

O excesso de bebida, mesmo que em apenas um dia por semana, já é bastante nocivo e pode acarretar doenças a longo prazo. “Há uma intoxicação cardiológica e do fígado por conta de todo esse álcool ingerido de uma só vez. E leva-se alguns dias para o organismo se recuperar”, explica.

Entre os males causados pelo álcool estão as doenças hepáticas, do sistema nervoso periférico e central, do pâncreas, do fígado e do estômago. “Ela não tem uma ação apenas localizada. O fígado poucas vezes se manifesta, só quando está com bastante lesão. Quando a pessoa sente ânsia, não é o fígado que está ruim, é o estômago”, explica Ghorayeb. “Ele leva, em 100% dos casos, a problemas neurológicos e psiquiátricos, perda cognitiva, dificuldade de raciocínio, esquecimento, distúrbios de comportamento, desorientação e falha de memória”, completa Lima.

Sempre que for beber, é importante se alimentar antes, pois a ingestão de alimentos retarda, temporariamente, o esvaziamento gástrico. “Como a absorção do álcool se dá principalmente no intestino, beber com o estômago cheio realmente retarda os efeitos do álcool”, diz Ribeiro.

Entenda o caminho do álcool pelo corpo e por que a ressaca aparece no dia seguinte

  • Arte/UOL

Outro ponto importante é tomar líquidos entre as doses, já que o álcool em excesso pode bloquear a ação do hormônio antidiurético, secretado em casos de desidratação do organismo.
 
No Carnaval, isso se torna ainda mais importante. “Quem vai pular Carnaval de rua, em salões ou vai assistir aos desfiles das escolas de samba precisa ter condição física de um maratonista. Existe um desgaste do corpo que tem de ser reposto. É preciso se alimentar bem, ingerir líquidos, não ficar só na bebida alcoólica. A cerveja tem pouca quantidade de álcool e muita de água, é mais hidratante. Mas mesmo assim tem de tomar água junto. Se suou bastante tem que repor esse líquido perdido. Um isotônico é uma boa alternativa”, aponta o cardiologista.

Álcool vetado

É importante lembrar que algumas pessoas não devem beber, ainda que a tentação do Carnaval fale alto. “Quem tem doença pancreática ou neurológica e toma remédios para tratar esses males deve evitar o consumo em qualquer ocasião, pois o remédio exacerba o efeito do álcool e vice-versa”, explica o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC) e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).

Outro grupo com restrições é o de pessoas com doenças como diabetes, pressão alta e cardiopatias. “O álcool contém açúcar, e isso pode levar o diabético a ingerir a substância em doses elevadas. O hipertenso e o cardiopata podem ter uma piora no quadro causada pela bebida”, destaca Ghorayeb.

Se for ingerir álcool, tome apenas pequenas doses e corte alimentos que se transformam em açúcar (para os diabéticos) e aqueles mais pesados, gordurosos e salgados (no caso dos hipertensos ou que têm problemas cardíacos). Esses últimos devem passar longe do tradicional combo de Carnaval: churrasco com cerveja (e outras bebidas). “Se você está com o pneu careca, não vai entrar em uma estrada cheia de pedregulho. Da mesma forma, se quer beber, é preciso equilibrar isso com alimentação e ter limites”, frisa o cardiologista.

Para as grávidas, a restrição deve ser total. “Não existe nenhum estudo demonstrando a dose segura de álcool na gravidez”, fala o ginecologista e obstetra Pedro Paulo Bastos Filho, professor de obstetrícia da Faculdade de Tecnologia e Ciência da Bahia (FTC) e membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Segundo ele, até as 12 primeiras semanas, a gestação encontra-se no período embriopático, no qual as drogas de um modo geral, incluindo o álcool, podem causar má formação no feto. Após esse período, o risco diminui, mas no futuro o bebê corre risco de desenvolver deficits de inteligência e de atenção, pois a bebida pode destruir seus neurônios.