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Você tem medo de quê? Conheça algumas fobias raras

Chris Bueno

Do UOL, em São Paulo

22/07/2014 06h00

Altura, barata, aranha, fantasma, até palhaço. Para algumas pessoas, isso tudo pode ser assustador. Mas para outras, o medo é tão intenso que é capaz de provocar ansiedade extrema ou ataques de pânico, e até mesmo de impedir que a pessoa mantenha sua rotina normalmente. Longe de ser apenas um exagero, as fobias merecem atenção especial e precisam de tratamento.

“O medo é um sensação que todos experimentam ao longo da vida, e que se apresenta em situações nas quais nos sentimos ameaçados por algum perigo”, diz o psicanalista Caio de Mattos Filho, professor de Teoria Psicanalítica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do livro O sintoma fóbico: suplência na lógica fálica.

Desta forma, o medo é uma sensação natural e até mesmo saudável, pois é uma reação de autopreservação. Sem ele, nos exporíamos mais aos riscos, o que poderia ter consequências bem graves.

“Em contraposição, o medo neurótico é o que se designa clinicamente como fobia e se reconhece pela sensação de medo e angústia desproporcionais em relação ao aparente perigo”, diz o psicanalista.

Assim, a fobia é uma sensação exacerbada do medo, mesmo quando não há um risco ou perigo real. O problema dispara uma série de sintomas físicos, como taquicardia, tremedeira, falta de ar e ataques de pânico.

“Fobia é um medo excessivo e irracional de um objeto, circunstância ou situação específica. Ela leva a pessoa a evitar a situação temida, sendo que a antecipação ou presença da situação fóbica desencadeia um grave sofrimento no indivíduo afetado que, em geral, reconhece sua reação como excessiva”, explica o psiquiatra Mauro Barbosa Terra, professor de Psiquiatria da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

O nível de ansiedade que as fobias causam muitas vezes limita o dia-a-dia da pessoa. Por exemplo, alguém com fobia de altura pode se recusar a trabalhar em um escritório em um andar alto, ou uma pessoa com fobia de avião vai se recusar a viajar deste modo.

Além disso, pessoas com fobia tendem a evitar situações em que terão contato com o objeto, animal ou evento que temem, e ainda sofrerão com ansiedade antecipada apenas por imaginar estar nesta situação.

Fobias atingem 10% da população mundial

As fobias atingem 10% da população mundial. Qualquer pessoa pode ser acometida com uma, na infância ou na idade adulta, mas algumas têm mais predisposição do que outras.

“São mais suscetíveis a desenvolverem fobias pessoas que tenham uma predisposição genética para o problema e que tenham convivido em sua infância, com familiares também fóbicos que tenham passado seus medos para elas”, aponta Terra.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, classifica 500 exemplos de fobias e as divide em cinco tipos: animais (aranhas, cobras, sapos, etc.); aspectos do ambiente natural (trovoadas, terremotos, etc.); sangue injeções ou feridas; situações (altura, andar de avião, andar de elevador, etc.), e outros tipos sem classificação específica (medo de vomitar, contrair uma doença, etc.).

“As fobias mais comuns são as relacionadas com animais, tempestades, escuridão, ou o medo de coisas associadas, de um modo ou de outro, com o que é sexual – tais como a micção, a defecação ou, de um modo geral, a sujeira e o contágio. Estas últimas aludem ao que é mais fundamental: o laço amoroso com o outro e sua intensidade libidinal”, explica Filho.

Estão na lista das fobias mais frequentes a acrofobia, o medo extremo e irracional de altura; a nictofobia, que é o medo do escuro; a claustrofobia, que é o medo de lugares e espaços fechados; a agorafobia, que é o medo incontrolável de espaços abertos e multidões, que pode levar a pessoa a não sair de casa; a fobia social,  que é o excesso de ansiedade em situações nas quais a pessoa acredita que possa ser avaliada enquanto desempenha uma tarefa comum, como falar ou comer.

Mas há também algumas fobias consideradas raras como a gamofobia (medo de casamento), a afania (medo de perder a capacidade sexual), a coulrofobia (medo de palhaços) ou a eisoptrofobia (medo de espelhos).

Tratamento pode ser feito com psicólogos e psiquiatras

De acordo com a Associação Americana de Distúrbios da Ansiedade, cerca de três quartos dos indivíduos com fobia no mundo jamais recebem ajuda. Muitos fóbicos relutam em procurar ajuda devido ao constrangimento. Outros não sabem nem mesmo que têm uma fobia, nem onde encontrar ajuda.

O mais indicado é procurar um psiquiatra ou um psicólogo para lidar com o problema.

“O tratamento mais estudado e eficiente para as fobias é provavelmente a terapia na qual o paciente deve ser estimulado a se expor à situação fóbica para reduzir o seu medo. Uma das técnicas mais utilizadas é a dessensibilização sistemática, quando a pessoa é exposta a uma lista de situações geradoras de ansiedade, graduada em uma hierarquia da menos para a mais amedrontadora”, diz Terra.

Exercícios regulares, sono adequado e refeições regulares podem ajudar a reduzir a frequência dos ataques. Reduzir ou evitar o uso de cafeína e de outros estimulantes também contribui para diminuir a ansiedade, segundo os médicos consultados.

Além disso, existem centros de tratamento de fobias e terapia em grupo para ajudar as pessoas a lidar com fobias, como o medo de voar. Existem vários meios que podem fornecer ajuda.