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Bebê Sofia deixa hospital e vai esperar doador em casa nos EUA

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

30/08/2014 14h50

A bebê Sofia Gonçalves de Lacerda, de oito meses, deixou, no início da tarde deste sábado (30), o Jackson Memorial Hospital, na Flórida (EUA), onde estava internada desde o dia 2 de julho.

A menina, portadora de uma síndrome rara, vai precisar do transplante de seis órgãos e irá esperar o doador em casa, sendo atendida por um sistema de homecare. Sofia já passou por três cirurgias desde que nasceu para amenizar os efeitos da Síndrome de Berdon, mas a cura só é possível com os transplantes. 

Ela tinha recebido alta desde 14 de agosto, mas não pôde deixar o hospital devido à demora do governo brasileiro em depositar os recursos necessários para a contratação do homecare, que custará US$ 300 (R$ 675) por dia. Nesse período, foram pagos US$ 3.000 (R$ 6.750) por dia de internação para ela permanecer no hospital. O dinheiro caiu ontem na conta da empresa que fornecerá o serviço, possibilitando a alta do bebê.

A família passou a primeira noite em casa, embora o planejamento inicial fosse passar as próximas semanas na casa dos brasileiros Fabrício Ferreira e Rita Rocha, mineiros de Governador Valadares, que passaram por um drama semelhante. Residentes nos EUA desde 2002, eles tiveram um filho em 2010 com o mesmo problema de Sofia. Gabriel Rocha Ferreira, 4, passou por uma cirurgia semelhante há menos de seis meses e se recupera bem.

"Íamos ficar com eles para nos adaptarmos aos aparelhos, mas o enfermeiro que opera o nosso homecare entende um pouco de português e fala espanhol, então resolvemos ir direto pra nossa casa", afirma Patrícia Lacerda, mãe de Sofia, que conta, ainda, que a família alugou um apartamento nas proximidades do hospital onde Sofia faz o tratamento.

Segundo ela, a emoção é única. “Em oito meses, minha filha nunca dormiu fora de um hospital. É uma sensação que não dá nem para explicar. Vou cuidar dela na minha própria casa. É maravilhoso.”

O pai de Sofia, Gilson Lacerda, concorda. “Tudo que fiz até hoje foi para que esse dia chegasse. Sei que é a primeira de muitas batalhas, mas a felicidade que sentimos nesse momento é indescritível”, disse.

Sofia dá 1º passeio ao ar livre após ser internada nos EUA

Entenda o caso

Sofia nasceu em 24 de dezembro e permaneceu internada no Hospital das Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP). Lá, recebeu o atendimento e foi confirmada a condição de portadora da doença. Após uma batalha judicial, a família conseguiu transferir a menina, em 23 de março, para o Hospital Samaritano, em Sorocaba, cidade mais próxima de Votorantim, onde moram os pais.

Depois de nova batalha judicial, em 24 de abril, ela foi transferida para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde fez exames. Em 28 de maio, o desembargador Mário Moraes, do TRF, determinou que a União providenciasse a remoção de Sofia em um avião adaptado para os EUA. Depois disso, Sofia deixou o Hospital das Clínicas de São Paulo e foi transferida para o Hospital Samaritano.

Em 16 de junho, após não cumprimento da decisão, o advogado da família, Miguel Navarro, chegou a pedir a prisão do ministro da Saúde. O dinheiro, R$ 2,4 milhões, destinado para custear o tratamento e os transplantes, foi depositado e ela embarcou para os Estados Unidos em 2 de julho, sendo internada no mesmo dia.

Desde então, passou por uma bateria de exames e já fez uma cirurgia para resolver um sopro no coração. Sofia já está na lista de transplante norte-americana e será operada assim que um doador surgir. A expectativa de espera é de até dois anos.