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Queda do número de novos casos de ebola encoraja casamentos na Libéria

Associated Press

Em Monróvia (Libéria)

18/11/2014 12h06

Robert Kollie e sua noiva adiaram seu casamento em outubro devido à devastação da capital da Libéria pelo vírus ebola. O governo alertou as pessoas para evitarem grandes encontros. Casamentos são cheios de beijos e abraços e apenas uma pessoa doente, sem saber, pode infectar dezenas.

Um mês mais tarde, enquanto o ebola continua a devastar partes da África Ocidental, a situação melhorou em Monróvia, e um parque panorâmico, nos subúrbios, foi novamente ocupado nos fins de semana com fotógrafos registrando recém-casados. Os Kollies estavam entre eles.

"Quando o ebola foi se espalhando e, ao mesmo tempo, meu casamento estava sendo preparado, eu me perguntava o que eu iria dizer a Deus se eu morresse nesta crise e não me casasse?",  Yongor Kollie, 31, disse à Associated Press, cercado por suas damas de honra. "E assim, hoje, eu sou uma mulher feliz".

Feliz, mas ainda com precauções. "Mesmo antes de vir aqui, tivemos que lavar as mãos", disse o noivo de 33 anos de idade, referindo-se aos baldes de plástico onipresentes com água e água sanitária que os liberianos adotaram como rotina.

A Libéria foi o mais atingido dos países da África Ocidental pela epidemia de ebola, com mais de 2.800 vítimas neste ano. Mas o número de novos casos caiu vertiginosamente em Monróvia, após meses de campanhas de conscientização pública, enfatizando a necessidade de isolar os doentes e fazer o teste logo que os sintomas surgirem, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde).

Outros focos estão surgindo em áreas fora da capital Monróvia, bem como nos países vizinhos. Serra Leoa foi particularmente atingida, com dezenas de novos casos notificados semanalmente na capital, Freetown. Casos também continuam a surgir na Guiné, onde se acredita ser o marco zero para a epidemia de ebola.

"É absolutamente prematuro começar a ser otimista", diz Birte Hald da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha, em Bruxelas. Ela observou que o vírus "apareceu em novas aldeias, em novos locais".

Em Monróvia, porém, a vida cotidiana está retomando a rotina e há alguns sinais de normalidade que estavam praticamente ausentes durante o auge da crise. Lavar as mãos antes de entrar já não é mais aplicado em muitas lojas. As estações de rádio não estão mais tocando jingles anti-ebola como fizeram há dois meses.

E no domingo (16), um pequeno parque perto do Ministério da Saúde estava cheio de cinegrafistas que se empurravam para obter as melhores fotos dos recém-casados.

Jordan Jackson, 36, e sua noiva Jacquelyn, 33, se casaram no domingo, após mais de uma década juntos. O casal já tem três filhos -- de 10, 7 e 5 anos de idade -- que participaram da cerimônia junto com eles.

"O sentimento que eu estou tendo neste parque com esta tarde é que a Libéria está retornando à normalidade e as coisas estão ficando cada vez melhores", disse o noivo.

Jacquelyn, uma instrutora de cabeleireiro, disse que se sentia orgulhosa de poder casar -- embora isso não alivie a dor de perder alguns de seus amigos para o ebola: "Eu só dou glória a Deus, porque eu estou viva".