Fernanda Magnotta

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Opinião

Rússia e China: parceria ou dependência estratégica?

No último dia 16 de maio, o Presidente Xi Jinping reuniu-se com o Presidente russo, Vladimir Putin, na China, durante uma visita de Estado. Os dois líderes assinaram um documento intitulado "Declaração Conjunta da República Popular da China e da Federação Russa sobre o Aprofundamento da Parceria Estratégica Abrangente de Coordenação para a Nova Era" no contexto do 75º aniversário das relações diplomáticas bilaterais.

A sintonia e camaradagem entre eles capturou a atenção da mídia internacional, que reportou o encontro como mais um passo de aproximação e de aprofundamento de laços que apenas parecem se intensificar.

Em geral, hoje, a cooperação entre Rússia e China é caracterizada por robustas interações militares, com exercícios conjuntos e transferências de tecnologia, além de relações econômicas e comerciais pujantes, especialmente em projetos de infraestrutura e energia.

A colaboração se estende também aos setores de defesa, com um foco crescente em projetos integrados que fortalecem a independência tecnológica de ambos. Além disso, há uma cooperação significativa nas áreas nuclear e espacial, refletindo um compromisso de longo prazo com o avanço colaborativo em indústrias de inovação.

Apesar disso, no entanto, as divergências entre os dois países não podem ser ignoradas. Elas manifestam-se em várias áreas, refletindo tensões subjacentes. A relação econômica entre os dois países é desigual, com a Rússia tornando-se altamente dependente da China, especialmente na venda de recursos energéticos, o que suscita preocupações em Moscou.

Ademais, as desconfianças estratégicas persistem, alimentadas por ressentimentos históricos como o conflito de fronteira Sino-Soviético de 1969, mantendo uma cautela mútua quanto às intenções estratégicas um do outro. No Ártico, as ambições divergentes também geram fricções, com a Rússia preocupada com os objetivos de longo prazo da China na região.

Além disso, enquanto ambos apoiam a ideia de um mundo multipolar que diminua a dominância ocidental, suas abordagens ao engajamento internacional e ao estabelecimento de influência global diferem significativamente, com a Rússia adotando uma postura mais provocativa e a China preferindo uma estratégia mais cautelosa e de longo prazo.

Falar da relação entre essas lideranças, portanto, é mais complicado do que apenas analisar discursos públicos e movimentos diplomáticos em eventos oficiais. Para Putin, sair na foto com Xi é uma forma de demonstrar que ainda goza da confiança de players poderosos que lhe garantem estabilidade, apesar dos boicotes ocidentais. Para Xi, estar ao lado de Putin é reforçar o compromisso com uma ordem internacional que reduza o papel e a liderança dos Estados Unidos.

Não surpreende, portanto, que, ainda que entusiasmados, os ânimos tenham sido desproporcionais entre os dois líderes durante o encontro mais recente: Putin exaltou Xi, foi caloroso e pessoal. Xi foi cordial, mas consideravelmente mais protocolar. O fato é que Putin precisa de Xi mais do que que Xi precisa de Putin. Para Xi, Putin é instrumental. Para Putin, Xi é imprescindível.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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