Vítimas de câncer, mulheres posam para calendário em Minas Gerais
Um grupo formado por mulheres que venceram ou ainda lutam contra o câncer posou para um calendário cuja renda será revertida para o hospital Doutor Hélio Angotti, em Uberaba (472 km de Belo Horizonte), Minas Gerais.
O projeto foi financiado por entidades ligadas a indústrias da região e empresários locais. As idealizadoras foram as amigas Elisa Araújo, Alexandra Rôso e Jacqueline Potenza, empresárias da cidade mineira que desenvolvem trabalhos sociais.
“Inicialmente, seria uma ação social no âmbito da nossa empresa [loja de calçados], mas a Alexandra me convidou, junto com a Jacqueline, para transformar essa ação social em algo mais amplo. Tive a ideia ao ver, em um programa de televisão, um senhor que se vestiu com uma saia de bailarina e posou para sua mulher, que tinha câncer”, diz Elisa Araújo.
Segundo ela, foi preciso um trabalho de convencimento das modelos, todas moradoras de Uberaba, e que tinham entre si o fato de terem sido pacientes do hospital, referência na região no tratamento da doença.
“Algumas se assustaram um pouco. Nos primeiros contatos, nós sentimos um pouco de rejeição, algumas mulheres não queriam aparecer", afirma Elisa. "A gente fez uma reunião com todas juntas, e mostramos as fotos que tínhamos como referência. Aí, elas viram que não era nada vulgar”.
As imagens têm como objetivo final tocar na questão da autoestima feminina. "Foi muito importante para ajudar outras mulheres que estão enfrentando a doença", diz.
Considerado pelas participantes como um sucesso, o projeto estreia com uma baixa. Sissa Rezende, que foi clicada para o mês de setembro, morreu um dia antes do lançamento do material.
O calendário custa R$ 20 e vem acompanhado de uma revista contendo entrevistas com as 12 modelos e com especialistas que explicam questões relacionados à doença. Foram impressos mil calendários e há previsão de uma segunda reimpressão, além de exposição do trabalho em um shopping da cidade.
'Doze meses de vida'
Uma das modelos que participou das sessões de fotos é a administradora Valéria Cristina da Silva, 52, que estampou o mês de fevereiro. Em junho de 2014, ela recebeu um diagnóstico sombrio, de que teria somente 12 meses de vida em razão de tumores nos pulmões. Era a segunda vez que Valéria teria de lidar com a doença, após vencer um câncer no intestino, diagnosticado em 2009.
“Diante dessa notícia, você pensa: 'é o fim, acabou'. Houve uma metástase [disseminação do câncer para outros órgãos] e os dois pulmões estavam muito comprometidos. Disseram que a quimioterapia apenas me daria uma certa qualidade de vida nesse tempo”, conta.
Mesmo assim, Valéria diz que não hesitou em participar do projeto do calendário.
“Foi um renascer. Quando pensei que estava tudo acabado, eu vi que ainda posso posar para fotos. Hoje, eu aprendi a viver cada momento, cada esbarrão, como se fosse único. Fiquei muito feliz com o convite e com a possibilidade de poder ajudar o hospital. Ainda tenho muita coisa para fazer”, afirma a administradora, que é mãe de três filhos.
Valéria afirma que teve uma evolução satisfatória, com as sessões de quimioterapia, e a confiança aumentou em relação à regressão dos tumores. Uma tomografia feita recentemente teria detectado apenas alguns nódulos nos pulmões, diferentemente da primeira que, conforme ela, havia revelado os pulmões tomados pela doença.
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