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Fiocruz analisa se zika pode ser transmitido por outro tipo de mosquito

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

29/12/2015 07h55

Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz) estão pesquisando a capacidade do mosquito Aedes albopictus em transmitir o zika vírus para humanos. O inseto é da família do Aedes aegypti e existe em pelo menos 24 das 27 unidades da federação brasileiras –especialmente nos Estados do Sul e Sudeste.

Hoje, sabe-se que ele é capaz de transmitir a dengue e a febre chikungunya. Segundo testes em laboratórios, o mosquito tem até mais eficiência na transmissão da chikungunya que o aegypti.

Um levantamento feito pelo entomologista Ricardo Lourenço e outros pesquisadores aponta que o mosquito chegou ao Brasil nos anos 1980, sendo o primeiro país da América Latina a recebê-lo. O mosquito tem como ambiente principal áreas de vegetação --ele foge de grandes cidades e locais com construções.

O estudo mostra que ele, em pelo menos 37 pequenos municípios do Sudeste, existe em maior incidência que o primo aegypti.

“Frequentemente a gente é atacado por ele quando andamos em parques, em quintais, nas periferias das cidades e em zonas rurais” afirma o pesquisador do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz (da Fiocruz), Ricardo Lourenço.

Mosquito pode ser mais eficiente

O zika vírus está presente em 18 Estados, conforme comprovam amostras de laboratório. Porém, diante da baixíssima quantidade de exames feitos em pacientes com suspeita da doença, o próprio Ministério da Saúde acredita que o vírus já tenha se espalhado por todo o país.

“Com essa pesquisa a gente vai saber se ele é capaz [de transmitir zika] e em que proporção. Daqui a uns 15 dias, quem sabe, a gente já possa ter a resposta se a população brasileira de albopictus é capaz de transmitir e, comparativamente ao Aedes aegypti, se transmite melhor ou pior”, diz Lourenço.

Segundo o pesquisador da Fiocruz, a "transmissão melhor ou pior" ocorreria porque os mosquitos têm bases genéticas diferentes.

“Assim como nós, eles reagem diferente a uma infecção. Em uma população que tenha cem mosquitos numa casa, nem todos vão ser capazes de infectar, e aqueles que forem podem não ser capazes de transmitir porque o vírus tem que se multiplicar, replicar nos tecidos e um dia chegar à saliva do mosquito. O que vou testar é qual o percentual de algumas populações do país que podem transmitir. Se for perto de 100, é grave”, explica.

Preocupação à vista

Para o pesquisador, caso seja comprovada a capacidade de transmitir zika, o Aedes albopictus deve ser incluso como uma preocupação a mais das autoridades sanitárias.

"O que temos chamado a atenção sobre a importância de focar nesse mosquito é que ele é muito competente em passar o chikungunya, mais até que o aegypti. Mas, como o Aedes aegypti está mais em contato com os humanos, então ele tem mais importância epidemiológica; mas o albopictus deve ser uma preocupação secundária, pois ele também entra em contato com pessoas em áreas de maior cobertura vegetal”, afirma.

Lourenço complementa: “Examinei 35 populações de mosquitos da América e vários aqui do Brasil, e seguramente são bem capazes de transmitir o vírus de origem asiática como a africana. Testei três cepas, e ele é capaz de passar todas”, relata.

Sem dados

Segundo Lourenço, pelos estudos existentes até hoje, ainda não é possível saber se há influência de transmissão do mosquito nos surtos recordes de dengue e chikungunya em 2015. “Potencialmente, sim. A população do mosquito no Brasil é capaz de transmitir dengue e chikungunya, mas sabemos por laboratório. Nunca foi muito confirmado porque nunca foram achadas fêmeas contaminadas na natureza com esses vírus”, afirma.

O pesquisador ressalta que o fato de não ter encontrado mosquitos com os vírus não quer dizer que eles não sejam vetores da tríplice doença. Isso porque o programa de controle de endemias no Brasil foca exclusivamente no Aedes aegypti. Como não há capturas em quantidade significativa do seu primo, não há dados.

“Os métodos de avaliação da densidade desse mosquito e da ocorrência dele nos municípios é feito de uma forma que captura muito mais aegypti que o albopictus. A metodologia é: entrar nas casas, ver os vasos, as calhas, as caixas d'água. É muito pouco provável que encontre um albopictus dentro da cidade num vaso de flor. Se o método ampliasse para busca em parques, quintais, em áreas rurais, bocas de mata, se acharia muito”, diz.