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Nicolelis: Sem vacinação de milhões de pessoas por dia, ano de 2022 já era

Colaboração para o UOL

20/03/2021 04h00

O Brasil deve aumentar a vacinação de forma drástica ou comprometerá todo o ano de 2022 com a pandemia. A análise é do médico Miguel Nicolelis e tem como base a baixa imunização promovida até agora no país.

No Baixo Clero #78, o neurocientista debateu com Maria Carolina Trevisan e Diogo Schelp a possibilidade de o país deixar a pandemia para trás, um processo que vem avançando ao redor do mundo. Para ele, essa é uma realidade distante para o brasileiro.

"O ano de 2021 já foi e o primeiro semestre de 2022 muito provavelmente já foi também, a menos que a gente tenha uma mudança de rumo dramática aqui e comece a vacinar 2 milhões de pessoas por dia", diz Nicolelis (veja a partir de 36:45 no vídeo acima).

São cerca de 200 mil doses aplicadas diariamente em todo o país neste momento, quantidade vista pelo especialista como longe do suficiente para cogitar o fim da pandemia a curto prazo.

Uma crítica para não atingirmos o número de 2 milhões ao dia é o fato de o governo federal ter recusado a compra da vacina da Pfizer "no momento correto", após mais de uma oferta no ano passado.

"Eu sou uma pessoa otimista em tudo que faço, mas está difícil ser otimista no Brasil de hoje", afirma (veja a partir de 36:40 no vídeo acima). Como sair dessa? Para ele, há uma receita simples: "Coordene, isole, impeça o fluxo e vacine. São os quatro mandamentos fundamentais para tentar sair de uma reação em cadeia fora de controle".

Para além de não encerrar a pandemia, a baixa imunização torna possível a proliferação de novas cepas, como a P1, originária no Amazonas durante o colapso em janeiro. O vírus evoluído é mais forte e resistente do que a primeira versão mapeada por especialistas.

"Quando você tem 100 mil casos diários, são infinitas oportunidades de replicação do vírus. A possibilidade de mutações explode e, com elas, a possibilidade de novas variantes", explica (ver a partir de 30:50 no vídeo acima).

Ao dizer que a situação é de um "estado de guerra", o neurocientista compara a quantidade de mortes a ser registrada ao longo de março deste ano com as baixas na Guerra do Paraguai, no século 19.

"A única guerra de fato do país, naquele século, foram 60 mil mortos em um mês, contando Exército e população da fronteira. Vamos perder esse número de pessoas em março, em um mês", indigna-se (veja a partir de 33:00 no vídeo acima).

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