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Brasil pode ter 4 mil mortes diárias se não reverter quadro, diz cientista

Do UOL, em São Paulo

19/03/2021 07h56

O cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, estima que o Brasil pode chegar à marca de 4 mil mortes diárias por covid-19 até o fim de abril caso não reverter o quadro de alta transmissão e iminente colapso do sistema de saúde com medidas mais restritivas.

Em entrevista ao jornal O Globo, Schrarstzhaupt explicou que a estimativa tem como base o quadro atual da pandemia do Brasil, com alta taxa de transmissão na maioria dos estados e com pouco controle de circulação de pessoas.

Ontem, o Brasil registrou a mais alta média de mortes por covid-19 pelo 20º dia consecutivo (2.096), mas a longo prazo a maior preocupação do especialista é com o número de novos casos, que continua alto (87.169 só no dia de ontem).

"Temos a taxa de crescimento de casos nos estados, e a Fiocruz lançou documento mostrando que as UTIs Covid-19 do Brasil estão em risco de colapso", disse Schrarstzhaupt.

"Esse colapso em cascata no país inteiro aumenta a mortalidade a ponto de, se continuar tudo como está, podermos chegar em 4 mil óbitos diários no fim de abril", completou.

Segundo Schrarstzhaupt, este pico de mortes seria verificado no fim de abril por causa do ciclo da doença. De acordo com o cientista, uma pessoa "não pega (covid-19) hoje e morre amanhã". O aumento de casos entre jovens também influencia essa perspectiva.

"Como agora são pessoas de diferentes idades, algumas mais jovens isso faz com que fiquem mais tempo internadas, e esse óbito demore um pouco mais. Os óbitos notificados hoje são relacionados a infecções de algum tempo atrás", disse.

"Como estamos tendo cerca de 75 mil novos casos por dia, eles vão gerar internações, que vão gerar óbitos, e se o sistema estiver colapsado, as pessoas terão ainda mais risco de morrer", completou.

Para Schrarstzhaupt, são necessárias medidas que restrinjam a mobilidade no mínimo em 60% para que haja redução na taxa de transmissão e, consequentemente, na pressão no sistema de saúde. Ele, porém, faz a ressalva que faz a estimativa tendo como base países como Alemanha, Reino Unido, Portugal.

"Nesses países provavelmente há menos vulnerabilidade social, menos pessoas que moram na mesma casa, então aqui teria que ser ainda mais forte. E claro, o certo era ter sido feito isso no começo, porque quando tem uma incidência altíssima como a atual, para cair demora muito mais. Hoje é a única coisa que temos na nossa mão que pode evitar o colapso onde ainda não chegou, ou pelo menos freá-lo", disse.

Coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt diz que é possível evitar que Brasil chegue à marca com medidas restritivas