Ex-Anvisa: Farmácia tem que ser ponto de saúde pública, não local comercial
Em entrevista ao UOL News, o ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina criticou a transformação das farmácias em estabelecimentos comerciais, o que ajuda a entender por que elas vendem dados de clientes, como o UOL revela em reportagem exclusiva.
Isso de pedir o CPF veio quando as farmácias começaram a aumentar sua competição e quiseram criar novos elementos para vincular o cliente a elas. Essa é uma discussão que a Vigilância Sanitária já travou no passado. É proibido incentivar a compra de remédio. Há uma luta constante da fiscalização para impedir que a farmácia se transforme em um ponto comercial. Ela tem que ser um ponto de saúde pública. Gonzalo Vecina, médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa
Vecina explicou que as indústrias farmacêuticas utilizam os dados de clientes coletados pelas farmácias para balizar os preços dos remédios. O médico sanitarista ainda mostrou como funciona o cálculo dos descontos "gigantescos" dos medicamentos e como essa prática dá uma ideia fictícia ao consumidor.
É um dado captado pela farmácia e repassado para a indústria. Isso lhe permite conhecer o mercado de varejo. Ela quer saber o que está acontecendo e quem está comprando o quê. A indústria farmacêutica baliza suas vendas e seus preços por essas informações que são passadas pelas farmácias e consolidadas por outras que trabalham com dados. Houve uma transformação no mundo digital e grupos conseguiram enxergar diversas possibilidades de aumentar suas vendas. Gonzalo Vecina, médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa
Farmácias estão vendendo 15 anos de dados seus para você receber anúncio
"Qual é seu CPF?" Há algo mais do que um desconto tentador quando você ouve esta pergunta tão comum ao ir a uma farmácia pelo país. Os dados de pelo menos 48 milhões de brasileiros estão sendo usados por uma empresa, a RD Ads, para ganhar dinheiro com anúncios, direcionados a cada pessoa não apenas no site da farmácia, mas nas redes sociais e YouTube.
Como ver o que a farmácia sabe sobre você e pedir para apagar os dados
A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) prevê que todos têm o direito de saber quais informações pessoais uma empresa mantém a seu respeito. E também o direito de ser informado sobre com que outras empresas e órgãos públicos os dados foram compartilhados, além de pedir que sejam corrigidos ou até apagados.
As empresas precisam disponibilizar um canal para que os pedidos sejam feitos. O prazo de atendimento é de 15 dias. É possível acionar a ANDP (Agência Nacional de Proteção de Dados) em caso de descumprimento. Veja como entrar em contato com as maiores redes de farmácias do país e pedir para que elas apaguem seus dados.
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