SP: Brodowski troca pneu e garrafa por picolé para combater dengue
Com 25.201 habitantes e em situação de epidemia, a prefeitura de Brodowski distribuiu picolés para incentivar a população a procurar criadouros do mosquito da dengue. Atualmente, o município, a 338 quilômetros da capital, tem a maior incidência de casos do Estado de São Paulo.
O que aconteceu
O evento foi realizado no último dia 24, no bairro CDHU. Em uma rua fechada, houve troca de garrafas pet, tampas, pneus, copos plásticos e vasos de flores por picolés. No total, foram distribuídos mais de 2.000 picolés, segundo o secretário de Saúde, Roberto Lopes. A ação foi promovida também pela EPTV.
Ela foi mais uma, dentre mutirões e campanhas, para enfrentar uma incidência de dengue de 6.948 para cada 100 mil habitantes. A taxa, a maior do Estado, considera o período entre 1º de janeiro e 14 de março, e é calculada a partir do número de habitantes e de casos confirmados.
Em números absolutos, são 1.715 casos em 2024. Em fevereiro, houve queda nos registros, entre a sexta semana epidemiológica (4 a 10 de fevereiro), com 230 casos, e a oitava (18 a 24 de fevereiro), com 135. Os dados são do governo do Estado, que pede cautela na interpretação dos números recentes devido à possibilidade de alterações.
Há duas mortes em investigação. Trata-se de uma criança de 7 anos e um idoso na faixa dos 70 anos, segundo o secretário de saúde.
No ranking do Estado, Dois Córregos (taxa de 6.491) vem em seguida. Depois, aparecem Mineiros do Tietê (taxa de 6.464), Pederneiras (taxa de 4.135) e Ariranha (taxa de 3.894).
Em todo o Estado de São Paulo, neste ano, há 214.757 casos confirmados de dengue e 66 mortes. Até o momento, são 44 municípios em situação de emergência. Entre eles, estão Holambra, Guarulhos, Taubaté, Suzano e Campinas. Brodowski não declarou emergência, mas segue em epidemia.
Por que Brodowski está em primeiro lugar?
Falta de água e lixo. Segundo o secretário de Saúde, o histórico de falta de água estimula o hábito de armazenamento. "Tivemos alguns problemas de falta de água no ano passado. As pessoas armazenaram água em baldes, bacias, caixas d'água", disse.
Temos problema em vários terrenos que estão sem a devida limpeza e cuidado, tem muita sujeira na rua. Em mutirões, recolhemos muitos criadouros de mosquitos. Realmente são muitos os fatores que podemos dizer que causaram o aumento significativo de casos. Além da onda de calor e do período de chuvas, que contribuíram bastante.
Falta de agentes de endemia. Outra questão apontada pelo secretário é a falta de agentes para entrar nas casas, buscar criadouros de mosquito e orientar a população. "Estamos com defasagem", disse. "Estamos com apenas cinco, e temos que ter pelo menos mais dez". Na tentativa de solucionar o problema, a prefeitura buscou agentes comunitários de saúde para auxiliar nos mutirões de limpeza.
Lopes diz que, apesar de a cidade estar em epidemia, há diminuição nos casos. "Estamos cogitando, dado a diminuição, até desmontar o ambulatório específico para dengue e deixar o atendimento normal".
O que dizem os moradores
O empresário Ícaro Luís Fracarolli Vila, 34, teve dengue duas vezes. A primeira foi em 2019 e a segunda, no fim de 2023. Os sintomas apareceram rápido. Sentiu um mal-estar numa sexta-feira. Na segunda, já tomava soro no hospital. "Nunca tive algo parecido na vida. Confesso que ainda não estou 100%", disse. Os pais dele pegaram a doença na semana seguinte.
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Quero receberA manicure Sandra Senna, 48, também pegou dengue em dezembro. Na sequência, foi a vez dos dois filhos, de 14 e 17 anos. "Minha vizinha passou o Ano Novo na praia, já foi com dengue, ficou o tempo todo de cama", disse. Ela conta que moradores do Mozart, bairro onde mora, chegaram a se unir contra um vizinho, que tinha um matagal na frente de casa. "A cidade está cheia de mato", fala.
Dono de uma barbearia, Ricardo José de Oliveira, 43, disse ter atendido, em um só dia, quatro clientes que estavam se recuperando de dengue. Eles já estavam bem, nos últimos dias de sintomas. O próprio Ricardo teve dengue em abril do ano passado. "Foram 15 dias de cama", disse.
Repelente antes das aulas. Em fevereiro, pais de alunos do Centro Educacional de Brodowski - Objetivo, foram aconselhados a passar repelente nos filhos, antes das aulas, afirmou a diretora Marilda Costa. Ela contou ao UOL, na última terça-feira, que apresentava sintomas de dengue. No dia seguinte, um exame confirmou.
A empresária Carolina Arantes Olivon, 38, teve dengue perto do Natal. Foi a primeira vez. "Tive que cancelar encomendas, não dei conta que ficar em pé", disse. "Todo mundo teve e tem alguém da família com dengue. Meu tio teve dengue. Todo mundo teve dengue", disse.
Esse fim de semana, uma cliente perguntou se eu conseguia entregar na casa dela, porque está com dengue também. A doença é uma presença constante no dia a dia.
Carolina Arantes, empresária
O que diz a Prefeitura de Brodowski. Procurada por UOL para comentar a falta de água em 2023, a prefeitura de Brodowski disse que ela foi causada pelo término da vida útil de um poço, enquanto o processo de perfuração de um novo estava em andamento.
Além disso, a quebra da bomba do poço do Distrito Industrial agravou a situação, deixando-nos com apenas um poço operacional temporariamente. Reiteramos que sempre orientamos a população sobre a importância do armazenamento seguro de água, manter recipientes tampados, entre outras iniciativas.
Sobre a dengue. A gestão municipal informou que seu "compromisso tem sido evidenciado através de diversas campanhas e ações de limpeza realizadas em todos os bairros da cidade".
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