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África aumenta restrição de viagens por ebola e países sofrem escassez alimentar

Soldados da força de Segurança da Libéria usaram balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que queriam entrar em centro de quarentena de pacientes com o vírus ebola em West Point - 2Tango/Reuters
Soldados da força de Segurança da Libéria usaram balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que queriam entrar em centro de quarentena de pacientes com o vírus ebola em West Point Imagem: 2Tango/Reuters

Clair MacDougall

Em Monróvia

21/08/2014 20h21

Países africanos aumentaram as restrições de viagens nesta quinta-feira (21) para conter o surto de ebola no continente, ignorando alertas da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que tais medidas podem piorar a escassez de alimentos e de produtos básicos nas áreas afetadas.

Na favela West Point, em Monróvia, capital da Libéria, onde houve embates violentos com o Exército na quarta-feira depois que a área foi posta sob quarentena para conter a propagação do ebola, centenas de pessoas se acotovelaram rumo a caminhões com água e arroz.

A polícia usou cassetetes contra alguns moradores, enquanto assistentes humanitários ajudavam outros a molhar o dedo com tinta para administrar a distribuição.

"Não comi desde ontem. Tenho quatro crianças pequenas e nenhum de nós come. Me sinto mal", disse Hawa Saah, residente de West Point, de 23 anos, e grávida.

O Programa Mundial de Alimentação afirma que as remessas de itens básicos a mais de 1 milhão de pessoas em Guiné, Libéria e Serra Leoa pretendem evitar uma crise alimentar nestes países, onde mais de 1.300 pessoas morreram vítimas do ebola na pior epidemia da doença da história.

A OMS tem dito reiteradamente que não recomenda restrições de viagens ou de comércio para os três países e a Nigéria, todos afetados pelo surto iniciado em março. Essas nações começaram a sofrer com a falta de alimentos, combustível e gêneros de primeira necessidade por conta das medidas.

Mesmo assim, o primeiro-ministro do Chade, Kalzeubet Payimi Deubet, declarou nesta quinta-feira que seu país irá fechar a fronteira com a Nigéria para impedir a chegada do ebola.

"Esta decisão terá um impacto econômico na região, mas é imperativa para a saúde pública", declarou.

A Nigéria tem 15 casos registrados --o menor número entre os quatro países-- e a OMS expressou um "otimismo cauteloso" de que a epidemia possa ser contida.

Também nesta quinta-feira, a África do Sul alertou que está proibindo a entrada de todos os viajantes de Guiné, Libéria e Serra Leoa em seu território, com exceção de seus próprios cidadãos.

Guiné apela a companhias aéreas

Companhias aéreas como a Kenya Airways e a Gambia Bird suspenderam voos aos países afetados, apesar de novos procedimentos de inspeção nos aeroportos. Os Estados Unidos e vários países europeus também aconselharam que viagens não essenciais à região sejam evitadas.

O presidente da Guiné, Alpha Condé, se reuniu com as companhias aéreas na quarta-feira em uma tentativa de convencê-las a retomar o serviço normal para o país.

"Nenhum guineano deixou o país para exportar ebola em outros lugares. Mesmo a OMS reconheceu que as medidas da Guiné são suficientes", disse ele.

A OMS afirmou nesta quinta-feira (21) que irá convocar reuniões no início do próximo mês sobre potenciais tratamentos e vacinas para conter o surto.

O ebola atingiu de forma mais dura os países com sistemas de saúde mal-equipados para lidar com uma epidemia.

(Reportagem adicional de Madjiasra Nako, em N'djamena; de Saliou Samb, em Conacri; e de Joe Brock, em Johanesburgo)