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Homem que pesava 445 quilos se adapta após retirar excesso de pele

Paul Mason em seu quarto no hospital Lenox Hill um dia antes de fazer a cirurgia para remover o excesso de pele, em Nova York - Josh Haner/The New York Times
Paul Mason em seu quarto no hospital Lenox Hill um dia antes de fazer a cirurgia para remover o excesso de pele, em Nova York Imagem: Josh Haner/The New York Times

Sarah Lyall

Em Nova York (EUA)

16/06/2015 06h00

Para um homem que já pesou 445 quilos e tinha perdido 295 deles, a eliminação de mais 22 -que desapareceram depois da operação de oito horas e meia de Paul Mason no mês passado- poderia não parecer grande coisa.

Mas Mason, que em seu momento mais pesado foi conhecido como o homem mais gordo do mundo, estava quase paralisado por aqueles 22 quilos de pele solta que se penduravam de seu corpo como cera derretida ao redor de uma vela. E por isso sua ausência fez uma grande diferença.

Significa que ele pode levantar de sua cadeira de rodas e dar uma caminhada. Significa que ele pode tomar um banho de pé. Significa que seus joelhos não doem mais, que ele pode facilmente entrar e sair da cama sem sentir que tem bigornas amarradas às coxas. Significa também que ele tem sensações nos pés e que quando veste as calças não precisa lutar com um avental de pele frouxa que ia da cintura até as coxas.

"Parece um pouco estranho", disse Mason recentemente. "Eu estava acostumado a manobrar o excesso de pele para tirá-lo do caminho."

Foram necessários muito planejamento e uma boa dose de sorte para que Mason, que tem 54 anos e é de Ipswich, Inglaterra, fizesse a operação. O Hospital Lenox Hill em Manhattan, onde ela foi realizada, dispensou todos os honorários, assim como os quatro cirurgiões plásticos que o operaram, o cirurgião-geral, o anestesiologista e as enfermeiras que participaram.

As contas de Mason provavelmente teriam passado de US$ 250 mil, segundo a doutora Jennifer Capla, cirurgiã que chefiou a equipe do Lenox Hill.

Mason demorou muito para ficar tão gordo quanto era, e levou um bom tempo para tentar se livrar de todo aquele peso e encontrar uma vida próxima da normalidade. Quando criança ele era sofreu com bullying, abusos sexuais e falta de amor, e contou que amortecia seus sentimentos com comida, cada vez mais. Afinal, subiu na cama e continuou comendo até ficar pesado demais para sair dela. Finalmente, animado por um terapeuta simpático, ele fez a cirurgia de redução de estômago e intestinos, na Inglaterra, reformulou sua dieta e baixou o peso para 158 quilos.

Essa última operação, no início de maio, foi o cume de dois anos de esforços de Capla, uma cirurgiã plástica de Manhattan que soube do problema de Mason quando sua mãe, Judith Capla, também médica, viu uma reportagem sobre ele.

Jennifer Capla é especializada em remoção de pele depois de emagrecimento radical, mas nunca tinha operado alguém com uma perda de peso tão extrema.

Era um caso complexo, e não apenas por causa da logística ou pelo simples fato de que havia mais a remover de Mason do que o habitual em pacientes em sua situação. O excesso de peso o havia deixado com uma série de problemas médicos, incluindo vários coágulos sanguíneos, e Capla chamou outros três cirurgiões plásticos para ajudá-la: Wojciech Dec, de Lenox Hill, e J. Peter Rubin e Joseph Michaels, ex-colegas em Pittsburgh e Maryland.

O maior desafio era representado pelos muitos vasos sanguíneos a ser removidos da pele. Havia centenas, cada um deles com quatro vezes o tamanho normal, disse Capla, e tinham de ser identificados e cauterizados ou seccionados individualmente, um processo que demora horas.

"Se você errasse apenas um, ele poderia ter hemorragia", explicou.

Os médicos levaram mais de quatro horas para retirar o primeiro pedaço de pele de Mason, da área ao redor do abdômen, e houve uma sensação de vitória quando finalmente a cortaram e depositaram sobre a mesa. O anestesiologista que monitorava os sinais vitais do paciente disse que quando essa parte foi removida sua pressão venosa central (PVC), que mede a força com que o coração tem de bombear o sangue, caiu imediatamente.

No final, os cirurgiões retiraram cerca de 11 quilos da região central de Mason e de 11 a 13 de suas pernas, grande parte concentrada na perna direita, que estava tão inchada com fluido que ele não podia dar mais que alguns passos. Eles utilizaram cerca de 140 pacotes de sutura, cada um representando oito ou nove suturas.

"Estamos falando de 2,40 metros de incisões", disse Capla.

Depois que saiu do hospital, Mason se recuperou durante algumas semanas em um quarto de hotel em Manhattan pago por outro benfeitor, um empresário de Illinois que não quis ser identificado.

Este contou a Mason que estava doando o dinheiro em homenagem a sua falecida mãe, que também teve dificuldades com o peso, segundo a noiva de Mason, Rebecca Mountain. (Eles se conheceram quando ela leu sobre seu caso na internet e entrou em contato pelo Facebook.) "A mãe dele foi realmente gorda e ele sentiu uma ligação com o que Paul estava passando", disse Mountain.

De volta a sua casa em Orange, Massachusetts, para onde Mason se mudou para ficar com Mountain, o casal ainda enfrenta muitos obstáculos.

Embora sua empresa de móveis para gatos esteja decolando, disse ela, Mountain trabalha sozinha e luta para atender às encomendas. O dinheiro é muito apertado e há questões sobre a situação de imigração de Mason.

O visto dele deverá vencer em poucos meses, e os dois não podem se casar e viver juntos nos EUA até que ela consiga provar às autoridades que tem meios para sustentar a ambos, explicou Mountain.

Há poucos dias os dois foram ao cinema. Parecia uma coisa mágica, mas não era.

"Eu consegui me sentar em uma poltrona de cinema pela primeira vez em 30 anos, ficar de mãos dadas e namorar, como fazem os casais", disse ele.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves